Em seu último discurso na tribuna do Senado, na tarde desta
quinta-feira (18), o senador e ex-presidente da República José Sarney
(PMDB-AP), disse que seu Estado natal, o Maranhão, "está numa
vanguarda" do país. Sarney, que não disputou as eleições neste ano, não
terá mandato parlamentar em 2015.
Sarney subiu à tribuna para um plenário praticamente vazio e
disse que não gostaria de fazer um discurso de despedida. Ao agradecer ao povo
do Maranhão, Sarney citou índices econômicos e sociais do Estado e lamentou a
forma como a mídia o retrata. Em sua fala, ele chamou ainda o golpe militar de
1964 de "revolução".
"Esses números sem dúvida chocam porque a nossa mídia
faz parecer que o Maranhão é exemplo de um crescimento menor, mas na realidade,
ele está numa vanguarda", disse.
Reforma política
Sarney criticou o atual sistema político brasileiro e
defendeu a reforma política. Foi neste contexto que chamou, indiretamente, o
golpe militar de 1964 de "revolução". "Acabaram as lideranças no
Brasil. Talvez a coisa pior que a revolução fez no Brasil foi ter acabado com
os partidos no Brasil", disse o parlamentar.
"Há muito eu defendo o voto distrital (...) Ele (voto
uninominal) é o responsável... é uma reminiscência do século 19, que vem das
ideias lançadas por Assis Brasil e esse voto uninominal é a causa do que nós
temos (hoje) e constitui a grande causa do atraso do Brasil", afirmou.
O voto uninominal é o voto dado pelo eleitor direto no
candidato escolhido, e não em uma lista.
Sarney disse que apesar de avanços econômicos e sociais, o
Brasil regrediu na política. "Na área política, nós regredimos e esse é o
grande entrave que o país sofre hoje (...) Chegou a um ponto que não podemos
tolerar mais esse impasse. Não podemos tolerar mais. O sistema político
brasileiro é responsável por todo o resto do que acontece em nosso país",
disse o senador.
Sarney também criticou o que chamou de
"proliferação" de partidos políticos. "Precisamos evitar a
proliferação dos partidos que hoje constituem verdadeiros registros eleitorais
e só servem para negociações materiais", afirmou. "A maioria deles é
dirigida por comissões provisórias, maneira encontrada para criar feudos
pessoais", disse o parlamentar.
Sarney, que já havia se manifestado contra a reeleição em
outras oportunidades, voltou a criticar o dispositivo. "Precisamos levar a
sério o problema da reeleição. Que precisa acabar, estabelecendo-se um mandato
maior. Sou crente que o mandato de quatro anos é muito pequeno. Nós devemos ampliá-lo
para cinco ou talvez até para seis anos", afirmou.
"Arrependimento"
O senador e ex-presidente diz estar arrependido de ter
assumido cargos públicos após ter sido presidente da República. Segundo ele, é
preciso proibir ex-presidentes de assumir cargos públicos, até mesmo os
eletivos, após deixarem o comando do país.
"Até fazendo uma mea culpa, arrependimento. Penso que é
preciso proibir que ex-presidentes ocupem qualquer cargo público mesmo que seja
cargo eletivo. Nos EUA é assim e eles passam a ter uma função que é uma função
que serve ao país. Eu me arrependo, eu acho que foi um erro que eu fiz ter
voltado depois de presidente à vida pública e esse arrependimento me trouxe a
convicção de isso é uma das coisas necessárias", disse Sarney.
Ao falar sobre seu tempo na Presidência, Sarney disse ainda
ter "cicatrizes que ainda sangram" referentes ao período em que governou
o Brasil (1985-1990). "Só Deus é testemunha do que isso me custou e das
cicatrizes que ainda hoje sangram", disse.
Vida pública de José Sarney
1 mandato como presidente
1985 a 1990
1 Vice-Presidência
1985
1 mandato como governador do MA
1966 a 1970
3 mandatos de deputado federal
1955 a 1958; 1959 a 1963 e 1963 a 1966
5 mandatos como senador
1971 a 1978; 1979 a 1985; 1991 a 1999; 1999 a 2007 e 2007 a
2014
Fonte: Senado Federal
Biografia
José Ribamar Ferreira de Araújo Costa nasceu na cidade de
Pinheiro, Maranhão, em 24 de abril de 1930. A vida política começou cedo, no
início dos anos 50, quando após formar-se em Direito, em 1954, foi escolhido
como suplente do deputado federal pela UDN (União Democrática Nacional).
Em 60 anos de vida pública, foi deputado federal,
governador, vice-presidente, presidente e senador. Por volta da década de 1960,
passou a usar nome Sarney, adotado em homenagem ao pai, Sarney de Araújo Costa.
Conteúdo do UOL
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