quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

UM ESTRANHO NO NINHO

Por Hubert Alqueres, via Blog do Noblat
A presidente Dilma Rousseff acaba de anunciar seu novo ministro da Educação. Será o governador do Ceará, Cid Gomes. É um estranho no ninho, o homem errado no lugar errado.
E, sobretudo, em um momento em que o Brasil não pode mais experimentar em matéria de políticas públicas para a área da educação.
Desde que o ensino fundamental foi universalizado formou-se um razoável consenso no país de que o passo seguinte seria uma profunda revolução na qualidade do ensino básico. Sem ela, já se dizia no século passado, o Brasil não alcançaria o crescimento sustentado.
O diagnóstico era mais do que preciso: tornava-se necessário enfrentar o bunker do corporativismo, implantar a meritocracia, um conceito demonizado nas últimas eleições, e principalmente focar na aprendizagem do aluno, no desempenho escolar.
Pouco, mas muito pouco, se avançou nesta direção neste terceiro milênio. Depois de mais de uma década de políticas educacionais erráticas, descobre-se agora aquilo que estudos internacionais já apontavam na virada do século: na educação não basta apenas mais verbas. É preciso cobrar desempenho, ter planejamento, mirar no longo prazo.
Resultado: o fosso entre a educação brasileira e a dos países desenvolvidos tornou-se abismal. E mais profundo ainda tornou-se o fosso entre a rede pública de ensino e as escolas de qualidade do setor privado.
Esse é o lado mais perverso de uma política educacional que anda de lado, quando não vai para trás. Ela contribui enormemente para a perpetuação da desigualdade, condena a maioria da nossa juventude a ficar à margem do progresso e de ter um futuro bem melhor.
A grande missão, portanto, do novo ministro da Educação seria promover um profundo rearranjo da Educação para a superação desses dois grandes fossos.
Entender que o ensino cada vez mais se torna interdisciplinar e transversal, que o mercado de trabalho exige um novo profissional, dotado de inteligência emocional, de capacidade de liderança, de conviver em grupo, de interagir e de se conectar com a sociedade e com o mundo.
A pergunta que se impõe é cristalina: Cid Gomes tem essa dimensão, está à altura da exigência dos novos tempos?
Claro que não. Está longe, e põe distância nisso, de incorporar o sentido mais nobre da política, de ter capacidade de aglutinar, de promover uma mobilização nacional para que a educação básica pública mude de patamar.
E como educador é um jejuno, mais precisamente um estranho no ninho.
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