sábado, 13 de dezembro de 2014

UMA AULA DE CRIME

Da Época
"Vou ali dar umas porradinhas”, disse o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, aos colegas, antes de subir ao púlpito no auditório da Procuradoria-Geral da República (PGR) em Brasília. Era terça-feira, 9 de dezembro, dia mundial de combate à corrupção. A PGR sediava uma conferência internacional em comemoração à data. Como anfitrião, cabia a Janot o discurso de abertura aos trabalhos do dia. Esperavam-se mais um daqueles palavrórios anódinos e modorrentos que definem esse tipo de evento, um discurso de agradecimentos protocolares às autoridades presentes e generalidades difusas sobre o tema do seminário. Naquela terça-feira, foi diferente.
Foi diferente, primeiro, porque o Ministério Público comanda a investigação mais difícil desde que ganhou autonomia, em 1988: o caso do petrolão, oriundo da Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF). “Ao que tudo indica, é o maior e mais complexo caso que já tivemos o desafio de enfrentar”, disse Janot a ÉPOCA. “Estamos só no começo. Outras denúncias estão no prelo e já trabalhamos em outras. É um caso difícil, aprendemos enquanto caminhamos. Há instrumentos novos, como a colaboração premiada, decisiva para o bom andamento da investigação. Nossos procuradores estão tecnicamente preparados.” Oito deles compõem a força-tarefa. “Se surgirem indícios de crime em outros órgãos, teremos de distribuir o trabalho em novas forças-tarefas. Não se pode querer abraçar o mundo com as pernas.”
Aquela terça-feira foi diferente também porque o compromisso de Janot com o sucesso das investigações era questionado. Por dentro, em sussurros de subordinados e de delegados da PF que atuam no caso. Por fora, em ataques silenciosos de advogados das empreiteiras acusadas de participar do esquema de corrupção que afunda rapidamente a Petrobras. Uns, de dentro, questionavam o que consideravam a lentidão de Janot em apresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF) os pedidos para investigar políticos com foro privilegiado, acusados pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef de participar do esquema. Os outros, por fora, vazavam para a imprensa – com o objetivo óbvio de queimar Janot e, portanto, o caso – que ele negociava uma espécie de acordão para livrar as empreiteiras e o governo.
Trecho da edição desta semana da revista Época 
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