Artigo de Marina Silva
Tenho divulgado comparações entre as posições da candidata
Dilma Rousseff com as decisões, bem diferentes, que ela vem tomando como presidente
depois de reeleita. É a distância entre o marketing eleitoral e a realidade.
Além disso, tenho usado a expressão “marketing selvagem” para referir-me à
campanha caluniosa que se articulava em dois níveis: nos meios de comunicação,
formulavam-se as acusações de que queríamos acabar com os programas sociais,
entregar o país aos banqueiros, acabar com o pré-sal e vários outros absurdos;
na internet, nos carros de som em cidades do interior e até no balcão de
atendimento de alguns órgãos públicos, reproduziam-se as acusações sob a forma
de boatos ainda mais grotescas, descambando para a perda total de qualquer
filtro ético.
Os “desmandamentos” de Dilma podem ser verificados, estão
documentados em textos e imagens da candidata. Quanto ao marketing selvagem,
esse continua. Ao mesmo tempo em que tenta fazer crer que a campanha foi um
primor de delicadeza, com bem-educadas críticas políticas e programáticas,
ainda mantém-se remunerado e mobilizado o batalhão de “militantes” e
comentaristas na internet, nos meios de comunicação e até nas instituições. E
na segunda-feira, em reunião com seus 39 ministros, a presidente Dilma pediu
que “travem a batalha da comunicação”, insistindo na divulgação de uma versão
oficial para cada posição contrária. Ora, mas a realidade não é a versão mais
divulgada. Insistir na mentira não a transforma em verdade. E o fato é o que se
faz, não o que se diz. É lamentável ver que o marketing selvagem continua sendo
convocado e conta com o apoio institucional para permanecer combatendo adversários
e criando uma “realidade” paralela.
Não há problema algum com o debate político, é legítima a
defesa de posições e a crítica leal às contradições e equívocos dos outros. Mas
a calúnia envenena, aprofunda as divisões, agrava os conflitos e isso só leva
ao desastre. De maldade, todo mundo já está cansado. A sociedade civil quer se
mobilizar em torno de uma agenda estratégica para o país, a comunidade
científica oferece sua contribuição, a população está disposta a participar e
seguir orientações que forem debatidas de forma aberta e democrática. O
marketing deve ser usado como recurso de informação e mobilização para a ação
solidária. Mas sem dourar a pílula, e sem mentira.
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