Há tempo não lia um texto verdadeiramente pueril, pobre em
argumentação e amparado em um vocabulário comum às gangues coléricas que se
reproduzem por segundos pelas mídias sociais.
Nesta manhã, o subsecretário estadual de Comunicação do
governo de São Paulo, Marcio Aith, deu a esperada demonstração do despreparo
das autoridades locais para gerenciar a crise hídrica.
Publicado hoje na página ‘A3’ da Folha, o artigo de Aith
mais parece uma redação de estagiário, com todo o respeito aos jovens
talentosos que tenho tido o privilégio de conhecer fora e dentro da sala de
aula.
Para dizer que o governo fez a lição de casa, Aith recorre
ao passado recente e passa a citar os “comerciais veiculados pela Sabesp”.
Talvez ele não tenha ninguém da área de comunicação de riscos ou de crise para
dizer que neste cenário não se faz comercial, isso seria para vender água. No
contexto de crise, ou de risco de abastecimento, usamos a expressão “campanhas
de comunicação, de educação ou conscientização”. E isso não é apenas uma
questão de nomenclatura, mas engloba o tipo de mensagem, o seu propósito, o
público-alvo e, claro, tudo adaptado ao contexto.
E ele continua: “em maio [2014], um novo comercial,
acompanhado de um esforço didático sobre o uso racional da água, redobrava o
alerta”.
Na passagem acima, observa-se que o subsecretário é
arrogante o suficiente para não buscar ajuda, por exemplo, da Coordenadoria
Estadual de Defesa Civil (Cedec), sua vizinha, inclusive. Vamos tentar
entender: material didático dentro de um comercial que tem o propósito de
servir de alerta? Como assim? No contexto da crise?
Comercial vende água, material didático é uma ferramenta
preciosa da gestão de risco (antes da crise) e alerta, ah, sim, alerta é o que
o Estado já deveria ter feito.
Com um terço de página em um nobre espaço na Folha, o
subsecretário, mais uma vez, desperdiçou a oportunidade de reparar os erros da
sua pasta e, assim, preferiu ofender a imprensa: “o argumento deriva de certa
covardia jornalística, de grande cinismo, e não resiste de fatos”. Texto escrito na frente de um espelho, claro!
Agora, alguém precisa dizer a esse subsecretário que estamos
todos aguardando um pronunciamento formal do governador. Em cenários de desastres,
de crises, de catástrofes, cabe à autoridade local informar e esclarecer a
população.
Precisamos de um plano de contingência. Não é possível
aguardar 60 dias para que, em abril, sejamos forçados a viver dois dias com
água e cinco sem.
No entanto, nada disso foi formalmente divulgado ou assumido
pelas autoridades competentes. Há uma série de rumores, informações que
preenchem os espaços vazios deixados pela Comunicação do Estado. Isso sim é covardia e cinismo, principalmente
se lembrarmos das famílias que não têm dinheiro para comprar e, tampouco,
estocar água.
Não adianta ofender a imprensa, fomentar a tensão PSDB x PT,
mostrar outros problemas (apagão) para amenizar a situação. Também não adianta
fazer uso de frases de efeito, cínicas como a que o subsecretário recorreu para
fechar sua redação escolar, ops, seu artigo: “o governo do Estado de São Paulo
adotou desde janeiro de 2014, e continuará adotando, as medidas que forem
necessárias em defesa de sua população”.
Que conversa mais fiada, subsecretário!
Por que não consigo fazer um café ou um arroz com a água que
sai da torneira da minha casa? Por que tenho de comprar água mineral? Qual a
verdadeira qualidade da água que está sendo servida? Qual a segurança para a
população? Por que estou angustiada para saber como será o nosso ano letivo, se
teremos aulas? Como fica a situação das famílias mais pobres, das crianças, dos
idosos e dos enfermos em um rodízio (que expressão absurda!) 5 x 2?
Se a Subsecretaria de Comunicação soubesse o que é, de fato,
comunicação de riscos e de crise, tenho certeza, não usaria o espaço no jornal
de maior circulação do país para ofender jornalistas.
Comunicação de riscos reduz ansiedade, inibe a propagação de
rumores, responde as dúvidas acima e é amparada no respeito, na transparência e
na coragem política para assumir o tamanho, a dimensão e as envergaduras do
problema.
Marcio Aith, faça o seu trabalho e convença o governador a
fazer um pronunciamento público, sem vergonha, sem constrangimento, pois agora
não cabe buscar culpados, precisamos, juntos, sobreviver à crise.
Visite a Defesa Civil do seu Estado, peça ajuda a esses
profissionais treinados para situações como esta, talvez este já seja um bom
começo.
Cilene Victor, professora dos cursos de comunicação da Faculdade
Cásper Líbero.
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