Por Murilo de Aragão, via Blog do Noblat
Em que pese o estardalhaço das manchetes, a sequência de
derrotas e corretivos que a Câmara dos Deputados impõe ao Palácio do Planalto
não surpreende.
Há pelos menos três anos, sabe-se que a situação da relação
entre parlamentares e governo ia de mal a pior. A boa vontade, de ambos os
lados, que existia nos tempos de Lula simplesmente desapareceu.
Entre as várias agendas negativas dos últimos tempos,
destaca-se a decisão do Executivo em restringir a execução das emendas de
parlamentares ao Orçamento.
Nos tempos de Lula, existia uma regra "não
escrita" que estabelecia a execução escalonada de quase 100% das emendas
orçamentárias de aliados. E, cerca de 50% do valor das emendas da oposição.
O governo empurrava com a barriga a execução das emendas e
modulava a liberação de acordo com as votações importantes. O que sobrava no
final do ano atendia emendas de bancadas e pedidos emergenciais. E todo mundo
fica mais ou menos feliz.
No governo Dilma, a lógica foi outra. Passaram a “morrinhar”
as emendas dos parlamentares. Os "top guns" eram atendidos e o baixo
clero ia ficando para trás. Entre outros desencontros.
A consequência foi a crescente insatisfação que resultou,
entre outras coisas, no fortalecimento de Eduardo Cunha como líder
supra-partidário.
Com um passivo enorme de descontentamento e sem estratégia
política adequada, o governo resolveu derrotar Cunha. Era uma derrota mais do
que aguardada. Uma canoa furada. Nada de novo. Já que a vitória de Cunha não é
novidade, o que é então?
A forma como está governando a Câmara após a vitória.
Com um menu intenso de medidas de autonomia e independência
de grande impacto. Surpreende, também, o "timing" de implantação das
mesmas.
Nem chegamos ao carnaval e Cunha já fez o seguinte: aprovou
o Orçamento Impositivo, criou a nova CPI da Petrobras, "demitiu" Pepe
Vargas da coordenação política, acelerou o debate da Reforma Política contra os
interesses do PT, anunciou o "convite" semanal dos ministros ao
Congresso (com a ameaça velada de virar convocação mandatória caso não
compareçam), entre outras.
O governo, pelo seu lado, está atordoado. Tanto pela perda
de popularidade quanto pelos problemas com o Congresso. Apela para a criação de
uma nova estratégia de comunicação.
No fundo, parece não saber como reagir. Talvez seja mais
simples e adequado revitalizar os interlocutores na esfera política e dialogar
regular e consistentemente.
Sobretudo, reconhecer que temos um governo de coalizão e que
a participação e a pluralidade são princípios básicos. Caso contrário, o baile
que está levando da Câmara pode continuar por um bom tempo.


Nenhum comentário:
Postar um comentário