sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

NADA DE NOVO NO FRONT

Por Murilo de Aragão, via Blog do Noblat
Em que pese o estardalhaço das manchetes, a sequência de derrotas e corretivos que a Câmara dos Deputados impõe ao Palácio do Planalto não surpreende.
Há pelos menos três anos, sabe-se que a situação da relação entre parlamentares e governo ia de mal a pior. A boa vontade, de ambos os lados, que existia nos tempos de Lula simplesmente desapareceu.
Entre as várias agendas negativas dos últimos tempos, destaca-se a decisão do Executivo em restringir a execução das emendas de parlamentares ao Orçamento.
Nos tempos de Lula, existia uma regra "não escrita" que estabelecia a execução escalonada de quase 100% das emendas orçamentárias de aliados. E, cerca de 50% do valor das emendas da oposição.
O governo empurrava com a barriga a execução das emendas e modulava a liberação de acordo com as votações importantes. O que sobrava no final do ano atendia emendas de bancadas e pedidos emergenciais. E todo mundo fica mais ou menos feliz.
No governo Dilma, a lógica foi outra. Passaram a “morrinhar” as emendas dos parlamentares. Os "top guns" eram atendidos e o baixo clero ia ficando para trás. Entre outros desencontros.   
A consequência foi a crescente insatisfação que resultou, entre outras coisas, no fortalecimento de Eduardo Cunha como líder supra-partidário.
Com um passivo enorme de descontentamento e sem estratégia política adequada, o governo resolveu derrotar Cunha. Era uma derrota mais do que aguardada. Uma canoa furada. Nada de novo. Já que a vitória de Cunha não é novidade, o que é então?
A forma como está governando a Câmara após a vitória.
Com um menu intenso de medidas de autonomia e independência de grande impacto. Surpreende, também, o "timing" de implantação das mesmas.
Nem chegamos ao carnaval e Cunha já fez o seguinte: aprovou o Orçamento Impositivo, criou a nova CPI da Petrobras, "demitiu" Pepe Vargas da coordenação política, acelerou o debate da Reforma Política contra os interesses do PT, anunciou o "convite" semanal dos ministros ao Congresso (com a ameaça velada de virar convocação mandatória caso não compareçam), entre outras.
O governo, pelo seu lado, está atordoado. Tanto pela perda de popularidade quanto pelos problemas com o Congresso. Apela para a criação de uma nova estratégia de comunicação.
No fundo, parece não saber como reagir. Talvez seja mais simples e adequado revitalizar os interlocutores na esfera política e dialogar regular e consistentemente.
Sobretudo, reconhecer que temos um governo de coalizão e que a participação e a pluralidade são princípios básicos. Caso contrário, o baile que está levando da Câmara pode continuar por um bom tempo.
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