Editorial do O Estado de S.Paulo
As últimas pesquisas de opinião já deixaram claro que a
maioria dos brasileiros finalmente se deu conta do tamanho do embuste que lhe
venderam os magos da marquetagem petista - aqueles que prometeram uma gerentona
capaz de fazer o País saltar de dois em dois os degraus do desenvolvimento e
chegar, sobranceiro, ao cobiçado Primeiro Mundo. A decepção fica ainda mais
acentuada quando se compara a situação atual com as bravatas da presidente
Dilma Rousseff nos idos tempos do início de seu primeiro mandato. Os exemplos
são muitos, mas há um, lembrado recentemente pelo Estado, que serve para
ilustrar bem o nível da impostura ora desmascarada. Trata-se do prometido
investimento da Foxconn no Brasil.
Em abril de 2011, com apenas quatro meses de Presidência,
Dilma fez em Pequim o anúncio do primeiro grande investimento internacional no
Brasil em seu governo. A empresa taiwanesa Foxconn, gigante da área de
tecnologia da informação, levaria adiante um projeto de incríveis US$ 12
bilhões, ao longo de seis anos, para fazer produtos da Apple no País. Essa cifra
equivalia a quase todo o investimento da China no Brasil no ano anterior.
Não era apenas o volume de dinheiro que chamava a atenção. O
então ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, que acompanhara
Dilma em sua viagem à China, informou aos jornalistas que o empreendimento
criaria nada menos que 100 mil novos empregos, dos quais 20 mil apenas para
engenheiros. Previa-se ainda a construção de uma "cidade do futuro"
para abrigar 400 mil pessoas envolvidas direta e indiretamente com o projeto.
Coisa de ficção científica.
Ademais, o governo festejava o fato de que, pela primeira
vez, o investimento chinês no Brasil seria voltado não apenas para a exploração
de commodities, e sim para a produção na área tecnológica, com maior valor
agregado. O Brasil ingressaria em um seleto clube de países fabricantes de
telas para tablets e celulares - seria o primeiro no Ocidente a ter plantas
voltadas para esse fim. Com isso, o preço de um iPad, o tablet da Apple, cairia
cerca de 30%, segundo calculava Mercadante.
Passados quatro anos, nada disso aconteceu - salvo o fato de
que a Foxconn realmente se instalou no Brasil, aproveitando as inúmeras
vantagens fiscais que lhe foram oferecidas pelo governo, mas produzindo
resultados muito mais modestos do que fazia supor a fanfarra da dupla
Dilma-Mercadante.
Sua linha de montagem no País, instalada em Jundiaí (SP),
não emprega nem um décimo do que foi anunciado, tampouco envolve empregos de
qualidade - os funcionários que lá trabalham se queixam das condições que lhes
são oferecidas e da falta de perspectivas, já que desempenham tarefas meramente
repetitivas e que exigem formação simples.
Em lugar da prometida revolução, que deveria incluir
transferência de tecnologia "sem condições" e nacionalização de
peças, segundo informou Mercadante na época, a Foxconn dedicou-se a fabricar
produtos mais baratos, explorando tecnologia ultrapassada para economizar
custos, em vez de usar o que havia de mais avançado.
Além disso, a empresa - sempre em linha com a prática do
governo de criar expectativas grandiosas que mais tarde não se confirmam -
comprometeu-se em 2012 a levantar uma fábrica em Itu (SP), com um investimento
de R$ 1 bilhão. Até agora, no terreno da tal indústria não há nada - e a
prefeitura local se queixa das "promessas vazias".
A principal dificuldade alegada pela Foxconn para ampliar
seus investimentos, assim como ocorre na indústria brasileira em geral, é a
baixa produtividade no País, dado que teria sido subestimado pela empresa
quando se comprometeu com Dilma. Ademais, o governo esperava arranjar um
parceiro brasileiro para a Foxconn - Eike Batista era um dos cotados -, mas não
apareceram interessados, restando apenas o BNDES como sócio. Como o BNDES não
pode ter mais de 30% de participação acionária, o grandioso projeto da empresa
taiwanesa - festejado por Dilma como a prova da confiança dos investidores no
Brasil e na competência dos petistas para desenvolver o País - acabou
engavetado.
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