Toda vez que a presidente Dilma Rousseff começa a sair da
UTI, lá vem uma nova pneumonia, ora dela, ora por contaminação do PT. A da vez
é a prisão de João Vaccari Neto, o segundo tesoureiro do partido a parar atrás
das grades. E o pior que a ventania atingiu também a mulher, a cunhada e a
própria a filha dele. É aí que mora o perigo.
Foi assim, abalado com o envolvimento da família, que o
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa decidiu botar a boca no trombone. O
grande temor de uns, ou a grande esperança de outros, é que a mesma pressão
produza igual resultado agora com Vaccari. Tal como Costa, ele sabe das coisas.
Mas sabe muito mais, pois conhece o PT e o ex-presidente Lula por dentro.
A prisão de Vaccari não tem a ver diretamente com Dilma, mas
já seria dramática em qualquer tempo, em qualquer lugar, em qualquer
circunstância, e é muito pior nesse contexto em que o PT esfarela, Dilma perde
o controle do próprio governo e o PSDB decide descer do muro e encampar a tese
do impeachment.
Principal líder tucano e, portanto, da oposição, Fernando
Henrique Cardoso mantém o discurso que a sólida formação acadêmica, a
experiência e até velhice recomendam. Mas FHC é passado, e a bancada tucana na
Câmara, cheia de gás e de ambições, é o futuro.
Estadistas podem puxar o freio, mas políticos jovens com
mandato metem o pé no acelerador, correndo atrás das pesquisas de opinião e das
manifestações de rua. Segundo o Datafolha, 63% dos brasileiros são favoráveis
ao impeachment da presidente. E, ontem, movimentos unidos pelo grito "Fora
Dilma!" foram à oposição cobrando que aja como oposição. Quem tem de
evitar o impeachment é o governo, não o PSDB. E daí, fazer ouvidos de mouco?
Aécio Neves jogou a toalha. Em vez da prudência de FHC,
agora opta pela ousadia da bancada, que atua em duas frentes: o convencimento
político no Congresso e a busca de pareceres jurídicos sólidos sobre a chamada
materialidade.
Dilma começou a sair da UTI quando partiu para um encontro
com Barack Obama no Panamá, deixando seu governo daqui em diante nas mãos do
vice-presidente e novo articulador político Michel Temer e do ministro e
coordenador econômico Joaquim Levy. Como diziam no governo Sarney, "a
crise viajou". Pois é, mas a crise foi, voltou e deu de cara com a outra
crise irmã - a do PT.
Todo o esforço de Temer na segunda e na terça, para
revitalizar a base aliada e retomar o ritmo de votações de interesse do governo
no Congresso, foi por água abaixo com a prisão de Vaccari ontem. Não dá para
competir nas TVs, nas rádios, nos jornais, na internet, nas conversas de
qualquer botequim do País.
Para piorar, o que deveria ser um gol a favor pode virar um
gol contra: a indicação do novo ministro do Supremo Tribunal Federal.
Independentemente de todas as qualidades intelectuais e técnicas de Luiz Fachin,
o fato é que suas ligações despejam toneladas de pedras no seu caminho.
Aliado do PT e da CUT, vai ser o 11º ministro justamente
durante as investigações dos petistas e aliados governistas da Lava Jato.
Defensor do MST e do rito sumário para a reforma agrária, vai precisar da
aprovação do PMDB e de uma forte bancada ruralista no Senado. E o que dizer de
seu discurso de defesa da candidatura Dilma Rousseff em 2010, alegando que
"tinha lado"? E se tiver de julgar o governo Dilma, vai se declarar
impedido?
O fato é que as duas desgraças chegam simultaneamente: a
crise política de Dilma já era flagrante e a crise ética do PT só piora. Isso
resulta numa explosão de proporções ainda não sabidas, mas o fato é que a tese
do impeachment voltou com força e isso resvala para a hipótese de renúncia. A
pergunta que cruza gabinetes, corredores e salões de Brasília, neste momento,
é: quem vai botar o guizo no gato?
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