sexta-feira, 19 de junho de 2015

ACQUARIO SERÁ MONUMENTO AO ABSURDO

Retorno das (sempre) curtas férias. A volta ao trabalho impõe a leitura do que passou. Deparo-me com a seguinte notícia no O POVO (24/05): “Não haverá empréstimo para o Acquario, segundo Eunício Oliveira”. É grave. Muito grave. Muito menos pelo fato de não haver empréstimo, mas sim pela sequência de decisões que, segundo o senador, fará com que o mesmo não seja aprovado.
Sim, Eunício foi derrotado na eleição para governador. Está na oposição. Tem motivos para implicar. Porém, é um senador importante. Já presidiu a Comissão de Constituição e Justiça do Senado, é líder do PMDB na Casa e, há anos, compõe a cúpula do PMDB.
O ponto central da argumentação do senador para justificar o seu ponto de vista é o seguinte: o Governo Federal não pode aprovar financiamentos de obras que já estão em andamento. Os pedidos de empréstimos públicos só financiam obras em fase de projeto.
Por isso, na versão do senador, o pedido de empréstimo (R$ 330 milhões) internacional que o Ceará apresentou ao Eximbank dos Estados Unidos, nem sequer será enviado pelo Ministério do Planejamento para avaliação do Senado. Entendem a dimensão do problema?
Aqui, tenho apontado a irresponsabilidade e a temeridade que é iniciar uma obra pública, ancorada em empréstimo internacional, sem que o mesmo nem sequer houvesse sido liberado. O mínimo de austeridade e compromisso público teria evitado a barbeiragem.
Vejam a situação: o Governo do Ceará iniciou a obra sem que o empréstimo fosse aprovado e gastou toda a parte que lhe cabia de contrapartida (U$ 45 milhões). Hoje, a obra está parada e, segundo o senador, não haverá dinheiro do pretendido empréstimo internacional.
Caso a assertiva do senador seja verdadeira, a obra do Acquario vai virar um monumento ao absurdo. Dificilmente será finalizada e não se prestará a outra coisa que não seja a demolição. Assim, será enterrada a decência, além dos 45 milhões de dólares solenemente sugados do bolso dos cearenses.
O projeto do Acquario é exclusivamente fruto da mente do ex-governador Cid Gomes. A ideia saiu de sua cabeça. Os fundamentos técnicos, todos superficiais, vieram em seguida por encomenda de quem decidiu tocar o projeto.
O projeto arquitetônico beira a vulgaridade. Tudo em plena praia de Iracema, em meio a um singelo casario, à beira mar. Até hoje, mesmo que o empréstimo fosse real e a obra tivesse prosseguido, não se sabe qual o modelo de gestão do sofisticado e complexo equipamento.
Meses atrás, já havia se dado outra surpresinha. O Acquario precisava de um imenso estacionamento. Bobagem, não? Resolve-se assim: desapropria-se o prédio residencial que fica em frente. Este será demolido para dar lugar aos carros e ônibus.
Não ficou nisso. O Acquario é grandioso. O maior da América Latina. Não basta ligar na tomada pra funcionar. Foi então que se descobriu a necessidade de uma usina termelétrica para fazer o grandioso equipamento funcionar e manter as temperaturas constantes e ideais dos habitats dos 35 mil animais.
Problema? Qual nada. Simples de resolver: é só montar uma termelétrica a gás em plena Praia de Iracema. Ora, não liguem para os impactos que isso terá naquela delicada área da cidade. Pegam-se mais R$ 16 milhões do bolso dos ricos cearenses e pronto.
É inacreditável a sucessão de imperícias que cerca o caso.
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