Retorno das (sempre) curtas férias. A volta ao trabalho
impõe a leitura do que passou. Deparo-me com a seguinte notícia no O POVO
(24/05): “Não haverá empréstimo para o Acquario, segundo Eunício Oliveira”. É
grave. Muito grave. Muito menos pelo fato de não haver empréstimo, mas sim pela
sequência de decisões que, segundo o senador, fará com que o mesmo não seja
aprovado.
Sim, Eunício foi derrotado na eleição para governador. Está
na oposição. Tem motivos para implicar. Porém, é um senador importante. Já
presidiu a Comissão de Constituição e Justiça do Senado, é líder do PMDB na
Casa e, há anos, compõe a cúpula do PMDB.
O ponto central da argumentação do senador para justificar o
seu ponto de vista é o seguinte: o Governo Federal não pode aprovar
financiamentos de obras que já estão em andamento. Os pedidos de empréstimos
públicos só financiam obras em fase de projeto.
Por isso, na versão do senador, o pedido de empréstimo (R$
330 milhões) internacional que o Ceará apresentou ao Eximbank dos Estados
Unidos, nem sequer será enviado pelo Ministério do Planejamento para avaliação
do Senado. Entendem a dimensão do problema?
Aqui, tenho apontado a irresponsabilidade e a temeridade que
é iniciar uma obra pública, ancorada em empréstimo internacional, sem que o
mesmo nem sequer houvesse sido liberado. O mínimo de austeridade e compromisso
público teria evitado a barbeiragem.
Vejam a situação: o Governo do Ceará iniciou a obra sem que
o empréstimo fosse aprovado e gastou toda a parte que lhe cabia de
contrapartida (U$ 45 milhões). Hoje, a obra está parada e, segundo o senador,
não haverá dinheiro do pretendido empréstimo internacional.
Caso a assertiva do senador seja verdadeira, a obra do
Acquario vai virar um monumento ao absurdo. Dificilmente será finalizada e não
se prestará a outra coisa que não seja a demolição. Assim, será enterrada a
decência, além dos 45 milhões de dólares solenemente sugados do bolso dos
cearenses.
O projeto do Acquario é exclusivamente fruto da mente do
ex-governador Cid Gomes. A ideia saiu de sua cabeça. Os fundamentos técnicos,
todos superficiais, vieram em seguida por encomenda de quem decidiu tocar o
projeto.
O projeto arquitetônico beira a vulgaridade. Tudo em plena
praia de Iracema, em meio a um singelo casario, à beira mar. Até hoje, mesmo
que o empréstimo fosse real e a obra tivesse prosseguido, não se sabe qual o
modelo de gestão do sofisticado e complexo equipamento.
Meses atrás, já havia se dado outra surpresinha. O Acquario
precisava de um imenso estacionamento. Bobagem, não? Resolve-se assim:
desapropria-se o prédio residencial que fica em frente. Este será demolido para
dar lugar aos carros e ônibus.
Não ficou nisso. O Acquario é grandioso. O maior da América
Latina. Não basta ligar na tomada pra funcionar. Foi então que se descobriu a
necessidade de uma usina termelétrica para fazer o grandioso equipamento
funcionar e manter as temperaturas constantes e ideais dos habitats dos 35 mil
animais.
Problema? Qual nada. Simples de resolver: é só montar uma
termelétrica a gás em plena Praia de Iracema. Ora, não liguem para os impactos
que isso terá naquela delicada área da cidade. Pegam-se mais R$ 16 milhões do
bolso dos ricos cearenses e pronto.
É inacreditável a sucessão de imperícias que cerca o caso.
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