Em nota de esclarecimento, postada em seu perfil no Facebook, o senador Romário
(PSB-RJ) fez troça com a reportagem de Veja. Com ironia e deboche, Romário
diz que espera que a conta seja verdade e que, pretende sacar a grana. Segundo a reportagem, Romário tem uma conta na Suíça e não declarou ao Fisco. Leia abaixo a reportagem da
revista Veja.
Da Veja
Quem o vê na tribuna do Senado, fustigando os cartolas do
futebol com acusações de irregularidades e à frente de uma CPI sobre falcatruas
na Confederação Brasileira de Futebol, se impressiona: Romário de Souza Faria,
49 anos, ídolo da seleção, firma-se cada vez mais na política com um vigoroso
discurso em defesa da ética e da lisura. A postura, apimentada por seus comentários
afiados, é tão bem-sucedida entre os eleitores que o levou a ganhar com folga a
disputa pelo Senado no Rio de Janeiro, na eleição do ano passado, e o coloca
agora no topo das pesquisas sobre os mais cotados para a prefeitura do Rio em
2016. Tamanha popularidade acaba por deixar na sombra uma flagrante
incongruência entre o Romário senador e o Romário cidadão: na vida pessoal, o
ex-jogador é notório por suas pendências financeiras. Uma delas está nas mãos
do Ministério Público Federal: um extrato de uma conta bancária em nome de
Romário no banco suíço BSI, com sede em Lugano, no valor de 2,1 milhões de
francos suíços, o equivalente a 7,5 milhões de reais. A pequena fortuna não
aparece na declaração oficial de bens encaminhada por Romário à Justiça
Eleitoral em 2014. Romário disse a VEJA que nunca ouviu falar da conta:
"Até agradeço por me informarem. Se for dinheiro meu, vou buscar".
No extrato consta um crédito de rendimentos em aplicações no
período de um ano a partir de 31 de dezembro de 2013, o que fez elevar o saldo
aos mais de 7 milhões de reais atuais. A data do documento é 30 de junho de
2015. Ter dinheiro no exterior não é proibido. No caso de Romário, isso não
necessariamente levanta suspeitas sobre sua origem, pois ele jogou em grandes clubes
europeus, recebendo em moeda forte. "Abri contas na Holanda e na Espanha
e, para ser sincero, não sei se fechei. Mas nunca mais movimentei", diz
Romário. Brasileiros com conta em bancos estrangeiros e saldo acima do
equivalente a 100 000 dólares devem informar à Receita Federal, que cobrará o
imposto devido. Em 1997, quando jogava no Valencia, da Espanha, Romário foi
autuado pelo Fisco por ter aberto empresas nas Ilhas Virgens Britânicas, um
paraíso fiscal, e para lá transferido aplicações e propriedades. O objetivo era
escapar dos impostos. Só o valor que consta no extrato do BSI em nome de
Romário supera em quase seis vezes o patrimônio total declarado por ele à
Receita Federal, como é exigido de candidatos a cargos eletivos. Romário
informou à Receita que seu patrimônio total era de 1,3 milhão de reais, entre
imóveis, terrenos, cotas de empresas e aplicações financeiras.
A conta não declarada na Suíça passa a ocupar o topo da
lista de enroscos financeiros de Romário em tempos recentes. Quando se examina
o comportamento dele nessa área, não naquela em que reinou, fica evidente que o
Baixinho é mau pagador. A lista de faturas em aberto no Rio de Janeiro vai de
condomínios a pensão de filhos, passando pelo Fisco e pelo INSS. Só em impostos
federais, Romário acumula pendências em torno de 2 milhões de reais. O senador
já foi citado em 28 processos por dívidas e chegou a ser condenado em várias
instâncias por sonegação fiscal. Parte dos processos subiu ao Supremo Tribunal
Federal. O craque estava a um passo de ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa e
só escapou por ter, finalmente, desembolsado 1,4 milhão de reais, renegociando
o restante.
Um apartamento de Romário, avaliado em 4 milhões de reais,
na Barra da Tijuca, na Zona Oeste carioca, quase foi a leilão há poucos meses
por falta de pagamento de 600 000 reais em taxas de condomínio. Na última hora
houve acordo, e a dívida está sendo renegociada. Se Romário o perdesse, seria
reincidência: em 2009, ele foi obrigado a entregar uma cobertura de 8 milhões
de reais no luxuoso condomínio Golden Green, também na Barra. O imóvel foi
leiloado por falta de pagamento de taxas. Quando o empresário Edson Bueno,
então dono da Amil e comprador do imóvel, pegou as chaves, ficou impressionado
com o estado de depredação. Romário diz que arrancou um aparelho de ar
condicionado. Outras duas propriedades dele foram tomadas pela Justiça para
quitar dívidas.
Romário não leva uma vida modesta. Ele circula pelo Rio de
Janeiro em uma Ferrari vermelha, que, por via das dúvidas, registrou no nome de
uma ex-mulher. Seus bens são condizentes com os ganhos de quem já foi o
jogador mais bem pago do Brasil - no Flamengo, recebia 320 000 reais por mês,
em valores atuais. Da experiência, aprendeu que ganhar dinheiro é bom; gastar,
nem tanto. Vitorioso na política - na qual entrou como deputado federal e, na
eleição seguinte, já se transferiu para o Senado com votação recorde -, em 2013
ameaçou deixar seu partido, o PSB, e viu-se alvo de intensa disputa por seu
passe. Quatro caciques de diferentes siglas envolvidos nas negociações disseram
a VEJA que Romário é pragmático e a medida do seu interesse passava sempre por
alguma recompensa. Acabou ficando no PSB. Expoentes de seu círculo contam que a
recompensa nesse caso seria o pagamento do aluguel da mansão de 10 milhões de
reais onde ele mora em Brasília. Tanto o partido como o senador negam o
arranjo. Saldar o que deve, tudo indica, ele pode. Calcula-se que Romário tenha
rendimentos anuais de 5 milhões de reais, entre campanhas publicitárias e pagamentos
atrasados. Só do Flamengo, ele ainda recebe 159 000 reais por mês. O salário de
senador é de 33 700 reais. Quando se esclarecerem as circunstâncias de sua
conta no BSI, o Baixinho vai ter mais alguns milhões de razões para driblar
seus credores.
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