Arrogância é uma doença transmissível. Quem tem poder quase
sempre sofre dela
Desconfio que arrogância é uma doença transmissível. E que
ataca, de preferência, quem tem poder. Qualquer tipo de poder, desde que
reconhecido por todos e invejado.
Na véspera da viagem aos Estados Unidos para se reunir com o
presidente Obama, Dilma, como de costume, tratou mal um dos seus auxiliares –
no caso, o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo.
“Você fodeu minha viagem”, exaltou-se Dilma bem ao seu
estilo.
Tudo porque o ministro Teori Zavaski, relator no STF dos
processos das Lava Jato, havia homologado naquele dia delação premiada do
empresário Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC.
Pessoa confessou que doara dinheiro sujo para a campanha de
Dilma. Nos Estados Unidos, até em entrevista na Casa Branca, ela foi obrigada a
responder perguntas a respeito.
Dilma queria, simplesmente, que Cardozo controlasse a agenda
de decisões de Zavaski. Como se ele pudesse fazer isso. Como lhe coubesse fazer
isso. Arrogância demais, pois não?
Ou por ser arrogante desde o berço ou por ter pegado
arrogância com Dilma, o ministro Luís Inácio Adams, da Advocacia-Geral da
União, orientou o Tribunal de Contas da União a como se comportar no julgamento
das contas do governo relativas ao ano passado.
- Acredito que o espaço do TCU é um debate técnico. Quem faz
debate político é o Congresso. E ele será travado, com as dimensões próprias de
um poder como o Congresso Nacional. Apostamos e queremos que o TCU faça o
debate técnico ponderado e seja capaz de realmente melhorar o sistema de
repasse e pagamentos, tema altamente relevante.
O TCU é soberano para julgar como bem entender. Dispensa
conselhos. Seu papel é examinar as contas e apontar eventuais falhas. Como
órgão de assessoria do Congresso, só lhe cabe opinar. A decisão final é do
Congresso.
Uma única vez em sua história, o TCU recomendou a
desaprovação de contas de um governo. Foi no final dos anos 30, quando o
presidente da República – e ditador – era Getúlio Vargas.
O Congresso não teve peito de rejeitar as contas de Vargas.
Há 12 anos que sequer julga as contas dos governos. Simplesmente manda
arquivá-las.
O medo do governo do qual Adams faz parte é que o TCU
recomende a rejeição das contas de 2014. E que o Congresso acate a
recomendação. Isso poderia dar ensejo a um pedido de impeachment de Dilma.
As contas do ano passado – mas não somente elas – foram
maquiadas para que o governo gastasse mais do que poderia. E apresentasse
melhores resultados, e logo num ano eleitoral.
O TCU conferiu as irregularidades e cobra explicações. Tudo
o que o governo diz é que outros governos procederam da mesma forma. E que ele
promete que jamais voltará a proceder assim.
Arte: Antonio Lucena
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