É inacreditável, do ponto de vista político, de marketing e
até de resultados, que o governo admita um “clima de impeachment” e a
presidente Dilma Rousseff saia por aí dizendo que “não vai cair”, “vai lutar
com unhas e dentes pelo mandato” e toda essa imensa crise “é moleza, é luta
política”. Na sociedade, universo em que Dilma tem míseros 9% de aprovação,
isso soa assim: Ih! A presidente está caindo!
Além de temerárias, as falas de Dilma têm um certo tom de
deboche totalmente inadequado. Afinal, não é por causa do PSDB, nem da mídia,
nem “dazelite” que Dilma está acossada, simultaneamente, pelo Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), pelo Tribunal de Contas da União (TCU), pela Operação Lava
Jato da Polícia Federal, pelo Congresso, pelo PMDB, pelo PT e pelo próprio
patrono Lula. Sem falar na economia, que continua indo para o buraco,
arrastando junto emprego, renda e o que resta de confiança em Dilma. Tudo isso
é “moleza”? Só “luta política”?
No PSDB, há intensas discussões e nenhuma conclusão sobre o
que fazer. Com três candidatos potenciais, há três estratégias diferentes – e
conflitantes. Elas se neutralizam, enquanto proliferam versões. Aécio Neves
seria o nome do PSDB, Geraldo Alckmin estaria se articulando com o PSB (que
ficou sem pai, Eduardo Campos, nem mãe, Marina Silva) e José Serra, com o PMDB
(que não quer mais ouvir falar de PT). Em vez de aliados contra Dilma, os
principais tucanos são adversários entre si.
Aécio tem vários trunfos: a presidência do partido, o fato
de ter sido o único candidato a unir os tucanos, o “recall” de eleições ainda
frescas e, principalmente, a liderança nas pesquisas, à frente até do antes
imbatível Lula. Como tem dito Aécio, o melhor horizonte é Dilma fraca, perdida,
até concluir o mandato. Mas, se Dilma cair por força do TSE, ele pode ser o
beneficiário direto e imediato.
Alckmin tem o governo mais rico e de maior visibilidade do
País, o de São Paulo, Estado que é o epicentro da oposição a Dilma, a Lula e ao
PT e onde está a maior força do PSDB. Ele despiu a fantasia de “picolé de
chuchu” no ataque ao governo na convenção de domingo, numa disputa de
liderança, não uma efetiva pressão pela queda de Dilma. O que Alckmin ganharia
com a abreviação do mandato dela? Nada.
Serra, recolocado na lista pelas circunstâncias políticas e
econômicas, consolida suas pontes com PMDB e também com PSD, PTB, PPS e DEM,
sem deixar de cultivar interlocutores no próprio PT. Nenhum desses morre de
amores por Aécio, mas todos têm abertura, em menor ou maior grau, para Serra,
que assumiu a dianteira da pauta parlamentar. É autor de projetos de mudança no
sistema de partilha na exploração do pré-sal; de ampliação da PEC da Bengala
para todo o funcionalismo; e de flexibilização do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), como contraponto à redução da idade penal.
Ele está muito atrás de Aécio e Alckmin no PSDB, mas pode
virar o jogo com o PMDB e tem duas alternativas: uma já, outra em 2018. Se for
o TCU a empurrar Dilma para crime de responsabilidade, Serra poderá ser um dos
avalistas da transição a la Itamar Franco, com Michel Temer. Se a presidente
“não cair”, como ela própria alardeia, sempre sobrará para Serra o sonho de uma
equação inversa, com o apoio de Temer e do PMDB em 2018.
Por mais que Planalto, PT e seus aliados de dentro e fora do
Congresso unifiquem o discurso de que há “um golpe”, essas são manifestações
legítimas de oposição, quando quem tenta empurrar Dilma para fora do tabuleiro
são o desemprego em alta, a renda em baixa, as denúncias da Petrobrás, o
descontrole político e parte dos aliados.
A oposição não pode se fazer de cega, surda e muda, correndo
o risco de ser pega de calças curtas. Se o PSDB é golpista, todo mundo é,
porque o que mais se faz em Brasília hoje é analisar as circunstâncias e o que
determina a Constituição. Isso não é “moleza” nem “golpe”, mas, pura e
simplesmente, a realidade.
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