O pacote de medidas com cortes de despesa, aumento de
impostos e retirada de incentivos fiscais anunciado nesta segunda-feira (14)
chega com 15 dias de atraso.
Se o governo tivesse apresentado estas mesmas medidas em 31
de agosto, quando encaminhou ao Congresso a proposta de Orçamento da União de
2016, talvez o Brasil não tivesse perdido o grau de investimento da agência
Standard & Poor's e preservado a imagem do ministro da Fazenda, Joaquim
Levy. Com certeza, a vida do governo hoje seria diferente.
Apresentar proposta de aumento de impostos, seja a velha e
conhecida CPMF ou a mudança no sistema S ou o aumento da alíquota do imposto
relativo a ganho de capital sobre a venda de imóveis (que pode chegar a 30%), é
coisa natural para o PT.
Mas o que gerou problemas no PT foram outras medidas de
cortes. O partido deixa sua digital na proposta de adiar o reajuste salarial
dos servidores públicos (muitos em greve por aumentos maiores) e também na
proposta de reforma da Previdência que pretenderá aumentar a idade mínima de
homens e mulheres para o acesso à aposentadoria.
Antes de anunciar as medidas, petistas do governo queriam
ter uma conversa com os movimentos sociais. Isso não aconteceu. Dilma já não
tinha mais tempo a conceder. Na tentativa de recuperar credibilidade com
setores importantes da economia, ela decidiu fazer o que evitou em 31 de
agosto. Naquela ocasião, disse que o governo não tinha onde cortar; nesta
segunda, anunciou corte de nada desprezíveis R$ 26 bilhões.
Desde bem cedo, petistas avaliavam que o governo precisava
mediar conversas com os seus aliados tradicionais, como os movimentos sociais,
antes de divulgar as medidas que durante anos foram chamadas pelo PT de
"arrocho da direita". O ex-presidente Lula tem se movimentado junto a
petistas do governo para manifestar sua discordância com o programa de ajuste
fiscal.
Eduardo Cunha e José Serra, em momentos diferentes, falaram
a mesma coisa: Dilma está seguindo Maquiavel às avessas – está fazendo o mal
aos poucos e não de uma só vez como ensinou o pensador italiano.
Agora, o governo tentou reunir tudo de uma só vez. Mas ficou
para trás a reforma da Previdência que gera polêmica em qualquer lugar do
mundo.
Diante do agravamento da crise, o governo espera contar com
o que chama "responsabilidade do Congresso Nacional" para evitar um
mal maior. Responsabilidade que lhe faltou quando assumiu os gastos e postergou
o quanto pôde as medidas saneadoras.
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