Da IstoÉ
Na campanha eleitoral de 2002, o ex-presidente Lula e o
pecuarista José Carlos Bumlai estreitaram laços. Com a ascensão do petista ao
poder, Bumlai virou um dos principais conselheiros de Lula e passou a ter
acesso privilegiado ao Planalto. Conquistou até o direito de ter um crachá que
lhe garantia trânsito livre ao gabinete presidencial sem precisar ser
importunado por seguranças. Descobriu-se depois que a amizade não era uma mera
questão de afinidades. Bumlai passou a fazer negócios com Lula - muitos dos
quais bem suspeitos. O alcance das reuniões dos dois ficou mais claro agora. Em
fevereiro, ISTOÉ divulgou um documento do Banco Central comprovando que o banco
da empreiteira Schahin havia concedido um financiamento irregular ao empresário
no total de R$ 12 milhões. Em troca, a empreiteira ganhou contratos polpudos
com a Petrobras de arrendamento de navios-sonda. Em 2012, Marcos Valério, o
operador do mensalão, disse que parte do montante teria sido usada para comprar
o silêncio do empresário Ronan Pinto, que ameaçou envolver Lula, José Dirceu e
Gilberto Carvalho no assassinato de Celso Daniel. Hoje se sabe que esse
dinheiro também pode ter sido usado para pagar propina ao ex-diretor
Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, e bancar despesas pessoais do filho
do ex-presidente petista, Fábio Luís Lula da Silva, conhecido como Lulinha, e
de sua mulher.
As revelações fazem parte do arsenal de histórias contadas
aos integrantes da Lava Jato pelo delator Fernando Baiano, que na próxima
semana será liberado para ir para casa – ele tem endereço na Barra da Tijuca,
no Rio –, depois de ficar um ano atrás das grades. O conteúdo de seu depoimento
começou a ser conhecido na última semana. Segundo Baiano, R$ 2 milhões da
propina desviada da Petrobras foram repassados para custear gastos de Lulinha e
da nora de Lula. Baiano disse que o pagamento que beneficiou a mulher de Fábio
Luís Lula da Silva foi feito ao pecuarista José Carlos Bumlai e se referia a uma
negociação envolvendo a OSX, empresa de construção naval de Eike Batista, hoje
em recuperação judicial. O delator contou que trabalhava para que a OSX
participasse de contratos da Sete Brasil, firma formada por sócios privados e
pela Petrobras e que administra o aluguel de sondas para o pré-sal. Baiano
disse ainda que pediu ajuda a Bumlai e que, adiante, o próprio Lula “participou
de reuniões com o presidente da Sete Brasil para que a OSX fosse chamada para o
negócio”. Mas há suspeitas que a propina que beneficiou a família de Lula
também possa ter tido origem no dinheiro emprestado pela Schahin. Afinal, como
se constata nas investigações, Bumlai virou uma espécie de elo entre
intermediários do esquema do Petrolão e destinatários finais do dinheiro desviado.
Ao que tudo indica, o amigão de Lula passou a deter a chave do cofre, para onde
eram irrigadas as verbas que sangravam a estatal. Em sua delação, o lobista
confirma que US$ 5 milhões em propina foram pagos pelo grupo Schahin, como
contrapartida a um contrato de operações de navios-sonda. O Instituto Lula
afirmou em nota divulgada na última semana que o petista nunca autorizou Bumlai
a pedir dinheiro. Um segundo delator, Luiz Carlos Martins, ex-diretor da
empreiteira Camargo Corrêa, também relatou episódios o envolvendo com propinas.
Não é a primeira vez que o filho de Lula aparece envolvido
em um escândalo. De monitor de jardim zoológico, Lulinha tornou-se empresário
de sucesso no ramo das telecomunicações durante a permanência do pai na
Presidência. A ascensão no mundo dos négocios chamou a atenção da CPMI dos
Correios, que investigou o mensalão. Lulinha abriu a Gamecorp no final de 2004,
com capital de R$ 10 mil, para atuar como produtora e provedora de material de
informática voltado para celulares. A Gamecorp recebeu investimentos de R$ 5
milhões da Telemar, empresa com participação do fundo de pensão Petros, ligado
à Petrobras, o que justificou a entrada da CPMI na apuração. Na ocasião, o
relator da comissão, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) relatou pressões de
governistas para livrar a cara de Lulinha.
Em menos de um mês, Lulinha é o segundo filho de Lula a ser
citado num escândalo de corrupção. A Operação Zelotes, da Polícia Federal,
identificou rastros do preparador físico e empresário Luís Cláudio Lula da
Silva numa negociata envolvendo medida provisória editada durante o governo
Lula. A norma beneficiou montadoras de veículos com a prorrogação de
desoneração fiscal, em valores que atingiram R$ 1,3 bilhão ao ano. Um dos escritórios
contratados para fazer o lobby em Brasília fez repasses de R$ 2,4 milhões para
a LFT, empresa de marketing esportivo de Luís Cláudio. O filho do ex-presidente
afirmou que o dinheiro foi pago a ele por prestação de serviços relacionadas a
marketing esportivo. Os investigadores não se convenceram dessa versão e tentam
avançar no assunto.
Tal como os filhos e a nora, o ex-presidente petista também
é cobrado a dar explicações a autoridades. Lula prestou depoimento ao
procurador da República Ivan Cláudio Marx em Brasília na investigação sobre
tráfico de influência na liberação de recursos do BNDES para obras no exterior
com participação de empreiteiras brasileiras. Foram duas horas depoimento. O
escritório Teixeira Martins, do amigo e advogado Roberto Teixeira, cuida do
caso. Não houve intimação. A procuradoria aproveitou a presença do petista na
capital do País para ouvi-lo. Em nota, o Instituto Lula afirmou que o
ex-presidente afirmou que os presidentes e ex-presidentes do mundo inteiro
defendem empresas de seus países no exterior. Disse que os valores recebidos
por suas palestras foram declarados e contabilizados. “Quem desconfia do BNDES
não tem noção da seriedade da instituição”, afirmou o petista, quando
questionado sobre as suspeitas de interferências na relação entre o banco de
fomento, países financiados e empreiteiras brasileiras. Não será a última
palavra do ex-presidente sobre recentes escândalos. Lula ainda precisa falar à
PF, na condição de informante, sobre a Operação Lava Jato.
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