Da IstoÉ
Um verdadeiro tumulto tomou conta do plenário da Câmara dos
Deputados na tarde da terça-feira 8. Contrariando a base governista, o
presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acabara de anunciar novas regras
para a eleição da comissão responsável por analisar o pedido de abertura de
processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Em vez de aberta, a
votação seria secreta. Além disso, à revelia das indicações dos líderes
partidários, candidaturas avulsas poderiam se inscrever. A derrota do governo
se aproximava e, descontrolados, parlamentares aliados descontaram,
literalmente, a indignação nas urnas e quebraram mais da metade dos
equipamentos. Na tentativa de evitar que a votação ocorresse, eles ocuparam as
cabines. Como se estivessem em uma praça de guerra, não no plenário do
Congresso, rivalizaram com opositores, diante de seguranças atônitos. De um
lado, gritos de “Golpe, golpe, golpe”, de outro “Petistas, vão pra Papuda”.
Foram cenas protagonizadas por políticos que agem movidos por interesses
próprios, seja a manutenção de poder na Casa seja por cargos no Executivo, hoje
na berlinda diante do risco que corre a presidente de sofrer um impeachment.
Após a proclamação do resultado de 199 votos favoráveis ao
governo e 272 contra, a ala do PMDB inclinada ao impeachment, liderada pelo
deputado Lúcio Vieira Lima (BA), comemorou não só a nova derrota do Planalto,
mas também o enfraquecimento do então líder da sigla na Casa, Leonardo Picciani
(RJ), que evitara a indicação de nomes abertamente contra o governo para a
comissão especial. Ao lado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e
do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, Picciani compõe a tropa de choque do
atraso contra o impeachment. Nos últimos dias, o trio fez toda a sorte de
articulações no sentido de preservar a presidente. Ao contrário das alas do
PMDB que querem retomar o protagonismo da legenda fundamental nas Diretas e
para a redemocratização, construindo uma unidade nacional para tirar o Brasil
da crise, esse grupo deseja que a sigla permaneça a reboque do Planalto. Não
por um projeto de País, mas sim motivados por conveniências bem particulares.
Em Brasília, Picciani passou a ser tachado de rei do fisiologismo, depois que
se converteu ao governismo. Não por acaso. Além de endossar as indicações de
Celso Pansera, para o ministério da Ciência e Tecnologia, e Marcelo Castro para
a Saúde, Picciani emplacou afilhados políticos no Departamento Nacional de
Produção Mineral, na Companhia Docas, na Companhia Nacional de Abastecimento e
no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.
Ao contrário de Picciani, que depois de destituído da
liderança do PMDB na última semana passou a trabalhar incessantemente para
recuperar o posto, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tem
buscado ser discreto em meio ao cenário conturbado. Quer a crise longe da Casa.
Não à toa, tratou de resolver em poucas horas o destino do colega Delcídio do
Amaral (PT-MS), preso pela Polícia Federal acusado de sabotar a Operação Lava
Jato. Aliado que é do governo, Renan não entrega seu apoio a preço de banana.
Aproveita um governo tonto com as pancadas que tem levado para manter o apoio a
Dilma em troca da influência em postos estratégicos em estatais e na Esplanada
dos Ministérios. Não se sabe até quando, mas hoje o comportamento de Renan se
guia pelos interesses do Planalto. Na avaliação do senador Álvaro Dias
(PSDB-PR), Renan é um dos mais fiéis escudeiros do governo. Os tucanos
acreditam que a tal Agenda Brasil, aquele o conjunto de propostas sugeridas
pelo senador para tirar o Brasil do atoleiro, foi uma iniciativa pensada para
desviar o foco da crise. Como se vê, não foi possível.
A atmosfera em Brasília nunca esteve tão pesada. Nem mesmo
um jantar de confraternização entre senadores da base aliada e da oposição foi
poupado do clima beligerante. O evento ocorreu na casa do líder do PMDB no
Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). Num determinado momento, a ministra da
Agricultura, Kátia Abreu, e o senador José Serra (PSDB-¬SP) protagonizaram um
verdadeiro barraco. O tucano comentou ter ouvido que a ministra tinha a fama de
“namoradeira”. Kátia Abreu não gostou, bateu boca com Serra e jogou uma taça de
vinho no parlamentar. Virou bagunça.
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