Fernando Haddad, o prefeito petista de São Paulo, aponta
“problemas de condução” na política econômica do governo. Avalia que falta
“identidade” à gestão de Dilma Rousseff. Aconselha a presidente a “se
reencontrar com a base que a elegeu”. Algo que só ocorrerá se o Planalto for
capaz de apresentar “bandeiras claras e compreensíveis”. Coisas destinadas a
“resgatar a política econômica do governo Lula.”
“A popularidade ou impopularidade é da vida política. O que
é um pecado que você não pode cometer é não estar identificado com um projeto”,
disse Haddad, em entrevista ao blog (veja vídeos acima e leia trechos abaixo).
“Para falar francamente o que eu penso: nós temos que ter uma política voltada
para a geração de emprego”, declarou o prefeito paulistano noutro trecho da
conversa. Será necessário “resgatar aquilo que justificava a nossa presença no
poder central'', teoriza o prefeito.
Na opinião de Haddad, o ajuste da economia “era um problema
que poderia ser equacionado em um ano”. Perdeu-se, porém, o ano de 2015. Ele
receia que a turbulência política leve ao desperdício também do ano de 2016.
Haddad prega o entendimento entre governo e oposição, capitaneado por PT e
PSDB.
“Governo e oposição têm que sentar à mesa no plano federal e
dizer o seguinte: ‘olha, tanto lá quanto cá cometemos equívocos. Vamos colocar
uma agenda. O que é consenso vamos aprovar. E seguir a vida, porque o Brasil
não precisava estar vivendo um segundo ano difícil. […] A vida não é fácil num
momento de crise internacional. Mas a dor não precisa ser tanta.”
Haddad afirmou que o estresse político afugenta os
investimentos: “Eu recebo empresários do mundo inteiro. Eles é que dizem: olha,
a política está estressando demais a economia. […] Está cheio de liquidez no
mundo, gente fortemente capitalizada, que quer investir no Brasil. Por que está
postergando o investimento? Porque não está vendo um horizonte político
adequado para essa tomada de decisão.”
Durante a entrevista, Haddad disse que definirá até abril se
disputará a reeleição. Porém, já fala como candidato. Entre os adversários que
começam a se insinuar, enxerga Celso Russomano (PRB) como um contendor mais
preocupante do que Marta Suplicy (PMDB). Afirma que Lula, envolto em
investigações, será bem-vindo na campanha. “Ele terá o papel que quiser ter.''
Quanto a Dilma, não parece fazer questão da presença dela. “Em 2012, a
presidenta Dilma estava com 78% de aprovação e não participou da minha
campanha…''
Abaixo, os principais trechos da entrevista do prefeito
Fernando Haddad. Neles, você conhecerá as opiniões do prefeito sobre as
denúncias imobiliárias que rondam Lula, os erros cometidos na condução da
economia, o assalto aos cofres da Petrobras e a crise que ronda o PT no
instante em que o partido celebra seu aniversário de 36 anos:
— Saudade da política econômica de Lula: “Acho que nós
tínhamos que resgatar a política econômica do governo Lula. Tivemos, nos oito
anos de governo Lula, uma política econômica irretocável. Não foi cometido um
equívoco que colocasse a perder esse boom econômico que nós vivemos, com
inclusão, distribuição de renda, oportunidades educacionais expandidas nas
universidades e escolas técnicas. Acho que nós temos que resgatar os princípios
basilares da política econômica do governo Lula. No primeiro mandato da
presidenta Dilma houve alguns problemas que ela própria reconhece, hoje, de
condução, que precisam de reparo. O resgate da política econômica do governo Lula
me parece fundamental.”
— Os erros da gestão Dilma: “Acho que teve alguns eventos
que colocaram em risco, com as melhores intenções. A ideia era preservar
emprego e renda. Mas o que é que aconteceu? 1) Vendeu-se muito swap cambial, o
dólar ficou artificialmente valorizado; 2) desonerações [tributárias] para
empresários, que não cumpriram o que se esperava, que era a ampliação da sua
capacidade produtiva. Os empresários foram beneficiados com desoneração fiscal,
não reagiram a essa desoneração, simplesmente ampliaram sua margem de lucro. 3)
Administração de preços públicos, caso da tarifa de ônibus, caso da gasolina;
4) A seca, que fez com que nós tivéssemos que ligar as termelétricas, com
impacto no custo da energia brutal. Foi uma conjunção de fatores que gerou o
problema que nós estamos enfrentando. Esse problema é grave? Depende.
Economicamente, era um problema que poderia ser equacionado em um ano. Nós
teríamos um ano ruim, que foi o de 2015, uma fase de ajuste. E começaríamos a
retomar em 2016 a economia, como acontece frequentemente nas economias mundo
afora.”
— Aécio Neves e o quanto pior, melhor: “É visível que há
dificuldade de retomada da base aliada, para promover as decisões necessárias à
retomada econômica. É evidente que alguma coisa está acontecendo. Mas a própria
oposição está fazendo uma autocrítica sobre o seu desempenho em 2015. Basta
lembrar as últimas declarações do líder da oposição, que fez um mea-culpa,
dizendo que estava jogando no quando pior, melhor. [o repórter perguntou a que
líder Haddad se referia] O Aécio disse isso. [o repórter perguntou se Aécio
Neves de fato fizera tal afirmação] Em outras palavras ele disse: ‘passaremos a
colaborar com uma agenda positiva’. Quer dizer: não estavam colaborando antes?
Sempre dessa maneira cifrada, que não ajuda. O melhor é dizer as coisas
claramente, e seguir a vida. Governo e oposição têm que sentar à mesa no plano
federal e dizer o seguinte: ‘olha, tanto lá quanto cá cometemos equívocos.
Vamos colocar uma agenda. O que é consenso vamos aprovar. E seguir a vida,
porque o Brasil não precisava estar vivendo um segundo ano difícil. Ia ter um
período de ajuste. Mas ia ser o ajuste que o Fernando Henrique teve que fazer
em 1999, o Lula teve que fazer em 2003. Vários presidentes tiveram que fazer ajustes.
A vida não é fácil num momento de crise internacional. Mas a dor não precisa
ser tanta.”
— Investidor amedrontado: “Você não pode fazer da sua
bandeira partidária algo que comprometa o futuro do seu país. Está faltando
discernimento. Talvez de todo mundo, nem seria legítimo dizer: ‘a culpa é da
situação ou da oposição’. Está faltando o entendimento de colocar as questões
num outro patamar. E colocar o interesse do país em primeiro lugar. Estamos
estressando a economia demasiadamente. Eu convivo com atores econômicos aqui o
tempo inteiro. Eu recebo empresários do mundo inteiro. Eles é que dizem: ‘olha,
a política está estressando demais a economia. Não é uma opinião só de um
prefeito. É a opinião de muitos empresários que estão aguardando uma sinalização
para voltar a investir. Está cheio de liquidez no mundo, gente fortemente
capitalizada, que quer investir no Brasil. Por que está postergando o
investimento? Porque não está vendo um horizonte político adequado para essa
tomada de decisão.”
— Governo Dilma sofre crise de identidade: “A popularidade
ou impopularidade é da vida política, o que é um e pecado que você não pode
cometer é não estar identificado com um projeto. Quando eu falo vamos resgatar
a política econômica do governo Lula, é porque é uma forma de a população
entender a identidade que tem que ter para se defender publicamente e defender
o projeto que você representa. O conselho que eu daria para o governo federal é
esse: se reencontrar com a base que te elegeu. E esse reencontro só pode ser
feito a partir de bandeiras claras e compreensíveis para quem foi à rua
defender. Não importa se alguém tem 20% de aprovação ou 80%. Importa o
seguinte: essa pessoa que tem 20% de aprovação representa um projeto no qual eu
acredito? Vamos transformar esses 20% em 51% e ganhar a eleição. O problema não
é nível de popularidade, porque o Lula já viveu períodos difíceis, Fernando
Henrique saiu com baixíssima aprovação, nunca mais se recuperou, para não falar
dos outros presidentes. É difícil você sair bem de uma Presidência de oito
anos. Agora, você precisa ter uma identidade. Você precisa dizer: eu, com todos
os problemas, represento essa visão de Estado. Acredito que precisamos resgatar
aquilo que justificava a nossa presença no poder central. Esse resgate é
fundamental. Está faltando isso.”
— Deseja a presença de Dilma em seu palanque eleitoral? “Em
2012, a presidenta Dilma estava com 78% de aprovação e não participou da minha
campanha. Presidente da República, às vezes tem mais de um candidato da base [de
apoio parlamentar]. Ela vai ter aqui, certamente, mais de um candidato. Ela
recebe pedidos para não participar das eleições municipais, para não complicar
a vida dela no Congresso, que já não está fácil. Quem decide isso é a
instituição. A Presidência é uma instituição. Em 2012, eu não peguei o telefone
e liguei: ‘olha, vem pra cá, que você está muito popular e eu sou
desconhecido.’ Isso não cabe fazer. Isso é uma decisão do Lula, dela. Não é uma
decisão que eu possa tomar por eles. Agora, eu vou aceitar o que eles
decidirem, como aceitei em 2012. Eu não me intrometi na decisão dela, entendi
que ela tinha mais de um candidato aqui.”
— Reforma da previdência e volta da CPMF resolvem?
“Isoladamente, não resolve. Lula fez reforma da Previdência, defendeu a CPMF
enquanto era presidente, fez superávit primário, talvez, como nenhum outro
presidente tenha feito. O presidente Lula foi quem mais fez superávit primário
em oito anos. Não é disso que nós estamos falando. Não é de uma ação isolada,
mas a soma das ações tem que ter uma coerência.”
— O que Dilma precisa fazer resgatar a identidade? “Acho que
ela já começou a fazer, talvez, com a política monetária, que vinha num
compasso muito preocupante. Às véspera da última reunião do Copom [Conselho de
Política Monetária do BC], o mercado apostava numa alta da taxa de juros. E
estava todo mundo atônito. E o que aconteceu foi que o Banco Central percebeu e
parou de subir. Talvez ele esteja preparando o terreno para uma mudança de
política, sobretudo creditícia. Porque quando a gente fala de política
econômica não é só a taxa de juros. É política de crédito, para fazer a
economia girar para falar francamente o que eu penso: nós temos que ter uma
política voltada para a geração de emprego. A marca do presidente Lula foi ter
criado 15 milhões de empregos. Ele, 10 milhões de vagas; Ela, 5 milhões ou algo
assim em 12 anos. A marca desses governos foi a geração de emprego. Ah, está
tendo inflação? Vamos corrigir. Tem gasto demais? Vamos corrigir. Mas este é um
governo e este um partido trabalhista. Tem que prestar atenção na sua base. Ah,
tem um ano que a gente tem que pedir para apertar o cinto. Isso todo mundo tem
que compreender. Depois de 12 anos gerando emprego, você pode ter um soluço.
Mas tem que estar no horizonte o que se vai fazer para que seja só um soluço e
a gente retome os nossos compromissos sociais.”
— O Brasil corre o risco de perder também 2016? “Esse é o
problema. O que poderia ser resolvido num ano está sendo dolorosamente
postergado em função de um desentendimento político que deixa todos
—governadores, prefeitos e empresários— com uma expectativa muito grande de que
as pessoas se sentem à mesa. Porque a crise não era tão grande quando emergiu,
mas está ganhando contornos estruturais e, se a gente deixar, ela se consolida.
O Brasil não merece isso, não precisa disso. Podemos recuperar rapidamente a
credibilidade. Recebo muitos empresários que querem investir no país e olham
para São Paulo. Essas pessoas estão aguardando um sinal para investir.”
— Disputará a reeleição à prefeitura? “Tudo tem seu tempo. O
Brasil está vivendo um momento muito difícil para a política. A política, hoje,
é uma atividade que não convida as pessoas a permanecerem nela, a desfrutar
dela pelo que ela tem de bom, que é a capacidade de transformar para melhor a
vida das pessoas. Eu venho da vida acadêmica só com essa disposição. Deixei uma
carreira, uma trajetória acadêmica, me dispus a fazer política achando que ia
ser até mais breve do que acabou sendo. Entrei no ano 2000. Tinha então, 37
anos. E esperava que fosse uma experiência breve. Mas a vida se encarregou de
postergar essa decisão de voltar para a universidade. No momento certo, vamos
nos apresentar. E acho que as pessoas tem que perder um pouco a ideia da
política como meio de vida. Política deveria ser um espaço aberto para que
cidadãos, professores, médicos, trabalhadores, pudessem participar da vida
nacional de outro jeito, do lado de cá do balcão, e voltar para os seus
afazeres cinco, dez, 15 anos depois, sem achar que isso é um problema. [o
repórter perguntou ao prefeito se ele cogita não concorrer à reeleição] O que
eu quero dizer é que estou ingressando no meu último ano de mandato. Considero
um ano importante para qualquer administração, quando chegar o final de março,
começo de abril, vou me colocar.”
— O papel de Lula na campanha de São Paulo: “Ele terá o papel
que ele desejar ter. Eu trabalhei muitos anos com o presidente Lula, conheci no
trabalho. Eu gerenciei um orçamento de R$ 100 bilhões, que é mais de duas vezes
o orçamento da cidade de São Paulo. Sou testemunha da postura republicana que o
presidente Lula teve o tempo todo comigo à frente da Educação. Nunca recebi um
telefonema para atender ninguém, nunca recebi um telefonema para indicar
ninguém. Ou seja, o que ele esperava de mim era que eu criasse os programas que
eu criei —o Prouni, o Sisu, o novo Enem, o novo Fies, o Fundeb, o piso do
magistério. O que eu testemunhei foi o melhor governo dos últimos 50 anos, com
os melhores resultados em termos de crescimento, combate à desigualdade,
geração de emprego. Penso que estamos num momento em que estamos perdendo um
patrimônio que não é dele, é nosso. Uma pessoa que sai de Garanhuns, num pau de
arara, chega à Presidência da República, com os resultados que ele chegou… Acho
que estamos perdendo isso. Mas acredito que isso será resgatado. O presidente
Lula está submetido a essa saraivada de questionamentos, vai responder a todos,
como sempre fez. Todas as acusações do mundo já foram feitas contra o
presidente Lula em algum momento. E ele, ao seu tempo, respondeu a tudo com
firmeza.”
— Lula não deve explicações à sociedade? “O problema da
política é que o ônus da prova é teu. Uma pessoa fala: ‘você é dono deste
imóvel’. Você fala: ‘eu não sou dono deste imóvel.’ E você é que tem que provar
que não é dono. Ah, mas você frequenta! Frequento, mas não sou o dono do imóvel.
[o repórter recorda ao prefeito que o principal problema foram as obras
realizadas no tríplex do Guarujá e no sítio de Atibaia por empreiteiras
pilhadas na Lava Jato] Sim, mas se o imóvel não é dele. […] Estão lá. Ele está
dizendo que não é dono. Está se dispondo a comparecer aonde for chamado, para
dizer e reafirmar que não é dono. Se os donos estão dizendo que eles é que são
donos… Enfim, o que eu tenho certeza é que o presidente Lula, como em outras
ocasiões, nunca se furtou a dizer o seu posicionamento em relação ao que quer
que fosse e se defender, e superar as dificuldades que enfrentou. Essa vai ser
mais uma delas.”
— O nome do PT para 2018 será o Lula? “Acredito que sim,
sinceramente. O Lula é uma aroeira de força. Acho que o que estão fazendo com
ele vai estimulá-lo a se candidatar. O Lula tem uma maneira muito própria de
reagir às agressões que ele costuma sofrer na vida. Na minha opinião ele está
sendo muito agredido e saberá reagir à altura, retomando um projeto no qual ele
acredita. Acho que ele é o grande nome para 2018.”
— Desconexão entre Executivo e Legislativo: “Aconteceu uma
coisa em 2014 muito estranha. A presidenta Dilma ganhou, foi reeleita, mas o
Congresso Nacional é um Congresso diferente do anterior. É um Congresso que é
mais reflexo dos movimentos de 2013 do que um Congresso que representa a
reeleição. Tem uma contradição entre o Legislativo e o Executivo hoje, em
termos de representatividade. A eleição presidencial foi muito apertada —52% a
49%. No Congresso, foi o contrário. Na verdade, a oposição ganhou por 52% a
48%, talvez até 55% a 45%. Existe hoje uma contradição entre o Executivo e o
Legislativo, que tem como fundamento o voto. O Executivo atua sob condições
políticas muito adversas.”
— Arrepende-se da foto que tirou em 2012 ao lado de Maluf?
“Eu prefiro ter pecado pela transparência do que o contrário. Esses acordos são
feitos em geral na calada da noite. O meu principal adversário, José Serra,
esteve na casa do Maluf. Mas esteve à noite —dez, onze horas da noite. Obviamente
que não foi por causa do relógio biológico dele. Ele foi lá para não ser visto.
Eu prefiro agir diferente, pagando um preço político por isso. O que eu tinha
dito em 2012? Que eu ia aceitar o apoio de todos os partidos que compusessem a
base de apoio do governo federal. Recebi um telefonema do então ministro do PP,
Agnaldo Ribeiro [Cidades], dizendo: ‘se é verdade o que você está dizendo nos
jornais, o PP quer dialogar com você. E o presidente do PP local era o Maluf.
Então, era incontornável. Hoje, o Maluf não está mais no comando do PP. Hoje
são outras figuras, mas continua sendo o PP. Tem figuras do PP sendo
investigadas [na Lava Jato], assim como tem figuras do PT sendo investigadas,
tem figuras do PMDB sendo investigadas, e até do PSDB. O que não podemos é
colocar a perder uma instituição em função do comportamento de uma pessoa.”
— A repatriação do dinheiro desviado sob Maluf: “Repatriei
os recursos que foram desviados. Vamos ter mais R$ 88 milhões repatriados de
dois bancos que fizeram acordo. Nós desbaratamos a maior máfia já encontrada
aqui na máquina pública paulistana, a máfia do ISS. Operou no alto escalão da
Secretaria de Finanças durante seis ou sete anos. Ordem de grandeza de desvios:
meio bilhão de reais. Botamos para fora a Controlar, que era um contrato
esquisitíssimo. Fizemos todo o trabalho de saneamento. Enfrentamos máfia em
serviço funerário, máfia na feira da madrugada. Criei uma controladoria, que é
uma secretaria de combate à corrupção, com mandato para agir sem autorização minha.
É o único secretário que pode fazer o que quiser sem me pedir autorização, por
lei. Essas são providências que me fazem dormir tranquilo. Agimos corretamente
e criamos os mecanismos para que ninguém aja errado. Pode acontecer de alguém
agir errado? Pode. Mas você preveniu. Ah, escapou um gol. Mas quantas defesas
você fez? Mas temos que respeitar algumas figuras. Tenho que estar preparado
para defender pessoas inclusive da oposição.”
— Celso Russomano preocupa mais do que Marta Suplicy: “Acho
que Marta vai ser candidata. Russomano também vai ser candidato. O PSDB tem
prévias marcadas para os próximos dias. Marco Feliciano parece que vai ser
candidato. Então, nós teremos João Dória (PSDB), Russomano (PRB), Marta (PMDB),
Feliciano (PSC). Acho que vai ser esse o quadro. [o repórter pergunta: acha que
Marta será a principal antagonista?] Acho que não. O Russomano tem estado à
frente nas pesquisas e deve liderar no começo da disputa.''
— A amizade com FHC: “A política não é guerra. Ou pelo menos
não deveria ser. Política é um embate de ideias. Eu divirjo de muitas coisas
que o Alckmin faz. Ele provavelmente diverge de muitas coisas que eu faço. Mas
nós mantemos uma relação institucional a mais profícua. É possivel, dentro das
nossas diferenças, construir uma agenda comum. […] Fernando Henrique é decano
do meu departamento. É professor emérito do departamento onde eu dou aula. Sou
professor no mesmo departamento da USP que ele. Temos dezenas de amigos em
comum. Alguns desses amigos nos aproximaram, sem nenhuma intenção política. É
um intelectual, teve projeção na academia internacionalmente. É uma pessoa que
tem bons livros, livros que eu li. Ajudaram na minha formação. Tenho certeza
que ele tem também respeito intelectual por mim. Já jantamos juntos. Já nos encontramos
no Institiuto FHC, fiz questão de visitá-lo quando mudei pra cá, por assim
dizer. Ele é praticamente vizinho da prefeitura. Não tem cabimento esse tipo de
hostilidade pessoal. Quando eu era doutorando e ele já era presidente, escrevi
artigos críticos à gestão do presidente Fernando Henrique. E ele nunca levou
para o lado pessoal, porque nunca foi uma crítica pessoal. Foram críticas
econômicas ou filosóficas. Sempre construtivas, no sentido de demarcar campos
para buscar sínteses, buscar superações.”
— Em que o PT errou? “Minha opinião é de que foi feito um
bom trabalho junto aos órgãos de controle no que diz respeito à administração
direta no governo federal. Se você pegar o que os governos do PT fizeram em
relação à Controladoria-Geral da União, à independência da Polícia Federal, à
autonomia do Ministério Público, que nunca foi independente no nosso país, as
pessoas tiravam o nome do procurador-geral da algibeira. Nunca mais isso
aconteceu desde 2003. O que deu errado, então? Acredito que essa mesma
dinâmica, que afetou muito positivamente a administração direta deveria ter
sido levada para as estatais. As estatais não ficaram sob o mesmo regime. O
grande desafio é levar esse acúmulo, que não é pequeno e não começou com o PT,
mas foi muito fortalecido pelo PT, levar isso para os outros âmbitos da
administração pública.”
— Petrobras: “A história da Petrobras é mais longa do que a
gente imagina. Os indícios são de que a operação na Petrobras é problemática há
bastante tempo. E não é uma curiosidade que tenha membros da carreira como
sustentáculos dessas operações. Algumas pessoas do topo da carreira, muito
respeitadas, muito prestigiadas tecnicamente em muitos governos. As pessoas às
vezes esquecem, mas Delcídio Amaral foi diretor da Petrobras no governo
Fernando Henrique. Não estou fazendo nenhum pré-julgamento. Só estou querendo
dizer que tem uma história ali que ainda está para ser contada. Mas entendendo
que o cuidado nas estatais com o controle não foi tanto quanto aconteceu nos
ministérios.”
— Dilma não sabia? “Vou te dizer uma coisa. Duvido que
qualquer presidente de Conselho de Administração consiga saber de
irregularidades pela leitura de um edital, que ele não lê, porque são volumes e
volumes de documentos. Imagina o que é licitar uma sonda, os volumes sobre o
assunto. Não lê. Quem lê são os técnicos, o Tribunal de Contas. Você imaginar
que por trás daquele edital tem um conluio, um cartel de empresas, é muito
difícil a partir da leitura de um edital depreender isso. Essas empresas têm
uma inteligência própria também. Estão aí há 50 anos operando, imagina o
domínio que elas têm da base do serviço público ligada à área de licitação.
Para desconstruir isso tudo não é uma tarefa qualquer. Veja esse cartel da
merenda [flagrado em São Paulo]. Acha que o governador está minimamente
envolvido com uma coisas dessas? Garanto para você que não. O governador saber
que tem um conluio de merendas? Ele é do PSDB e eu te digo: ele não tem a menor
ideia do que está acontecendo. E olha que a distância que separa ele de uma
compra de merenda é muito menor do que a de uma sonda da Petrobras.”
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