Editorial, O Estado de São Paulo
Somos corruptos. Mas quem não é? Este é o argumento central
da estratégia que o governo Dilma e o PT articulam na tentativa de proteger
Luiz Inácio Lula da Silva das investigações policiais nas quais está cada vez
mais enredado. A artimanha consiste em criar, no Congresso Nacional, Comissões
Parlamentares de Inquérito (CPIs) destinadas a investigar governos tucanos em
São Paulo e Minas Gerais, com o objetivo de desviar as atenções para fatos
envolvendo a oposição e, também, para anestesiar o sentimento de indignação da
população com a corrupção sistêmica implantada pelo lulopetismo. A iniciativa
petista tem sua lógica. Lula & Cia. sempre foram muito melhores no ataque do
que na defesa. Mas o melhor resultado que os petistas lograrão obter será
mostrar ao País o que todo mundo está cansado – e revoltado – de saber: a
corrupção é generalizada e dela nem todos escapam. Ela é produto de um sistema
político patrimonialista que o PT combateu até chegar ao Planalto e a partir
daí passou a estimular em benefício de seu projeto de perpetuação no poder,
institucionalizando a sem-vergonhice a pretexto de garantir a
“governabilidade”.
Ninguém imagina que a corrupção praticada por agentes
públicos seja exclusividade do PT e daqueles que a ele se alinharam para
usufruir as “boquinhas” que a máquina governamental propicia. É muito provável
que os tucanos, no poder no Estado de São Paulo há 20 anos, tenham cometido
ilicitudes que precisam ser investigadas, para que os responsáveis sejam
exemplarmente punidos. O mesmo se aplica a Minas Gerais. Da mesma forma, vale
para todos os governos de todos os demais partidos em todos os Estados e
municípios do Brasil. É assim que as coisas deveriam funcionar: quem quer que
delinqua, após o devido processo legal, deve cumprir a pena cominada.
Na verdade, a quantidade de chefes de Executivo,
principalmente no nível municipal, investigados, condenados e afastados do
cargo pela prática de ilicitudes é grande. Talvez por isso mesmo essas medidas
saneadoras recebem pouca atenção da mídia. Só no Estado do Maranhão – aquele
até recentemente dominado pelo clã Sarney –, 45 prefeitos e ex-prefeitos de
vários partidos foram condenados pelo Tribunal de Justiça estadual, entre 2012
e 2014, pela prática de crime no exercício do cargo.
A lama em que chafurda a administração pública, em todos os
níveis de governo, ajuda a entravar o pleno desenvolvimento econômico e social
do Brasil. A relação de causa e efeito entre corrupção e má gestão está
claramente demonstrada na incapacidade de um partido corrupto como o PT aplicar
políticas sustentáveis de desenvolvimento. O que se vê é o governo de Dilma
Rousseff deitar a perder, com a inflação descontrolada e o desemprego crescente,
os avanços na área econômica e social obtidos nos governos de Fernando Henrique
e de Lula – embora já neste tenha sido instalado o sistema de pilhagem dos
recursos públicos.
Não será, portanto, tentando convencer os brasileiros de que
devem ser perdoados pela corrupção de que são acusados porque seus opositores
fazem exatamente a mesma coisa que o PT e seu principal líder, Lula,
recuperarão a credibilidade perdida e serão absolvidos pela opinião pública. Os
petistas estão lutando, afinal, pela garantia de um futuro menos doloroso do
que esse que vivem hoje dois de seus ex-presidentes e dois ex-tesoureiros. Mas
são incorrigíveis, na medida em que pregam, em seus conciliábulos, que existe
uma corrupção “do Bem” que é perfeitamente tolerável quando ajuda a “governar
para os pobres”. E enquanto tentam erradicar a pobreza de seus eleitores, com
inusual eficiência afastam de seus lares qualquer sinal de carência material. É
assim que fazem a tal “justiça social”.
O povo brasileiro é paciente e tolerante. Não reclamará,
decerto, do fato de o partido que escolheu para governar o País perder tempo e
energia articulando a criação de CPIs para distrair a atenção das complicações
de Lula com os imóveis que lhe garantem merecidos “dias de descanso”. Mas
agradeceria, sensibilizado, se esses mesmos próceres engendrassem meios e modos
para tirar o País do buraco em que o meteram. Parece que essa é a obrigação – o
dever – dessa gente que fez de tudo para conquistar o poder.
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