Marina Silva, fundadora da Rede, atacou neste domingo a
postura do PT de “fazer apologia ao confronto para se defender de acusações”, e
que o povo brasileiro merece ser reparado por erros do governo. Ex-ministra de
Lula, Marina disse que não conversou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva depois que ele foi alvo de condução coercitiva na Lava-Jato.
— É triste, obviamente, ver um partido que no passado
suscitou tantas esperanças na defesa da ética e no combate à corrupção, agora
tendo que fazer apologia do conflito, do confronto, para se defender de
acusações — afirmou Marina, em referência ao PT e ao comportamento do partido
depois da fase mais recente da Operação Lava-Jato, em que Lula foi alvo. —
Espero que no nossos país possamos chegar a um tempo em que o funcionamento das
instituições, a autonomia das instituições, não tenha que ser combatido por
agentes públicos – disse a fundadora da Rede.
Neste sábado, a presidente Dilma Rousseff visitou Lula em
São Bernardo, e a oposição já anunciou que irá à Justiça contra o uso de
dinheiro público na viagem. Marina afirmou que a Justiça deve ser vista como
“reparação”, e não como “vingança", e defendeu que ninguém está acima da
Lei. Marina Silva ressaltou que não é hora de apontar culpados ou deslegitimar
as investigações.
A posição de Marina quanto à saída das “várias crises” que o
país vive é pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ela ressalta que o
impeachment não é golpe, mas diz que “nem sempre o caminho mais rápido é o
melhor”. Para ela, o impeachment não traria avanços práticos, já que Dilma e
Temer, o PT e o PMDB, seriam “duas faces de uma mesma moeda”. Marina, que
defende que o povo brasileiro deve ser reparado de um erro a que foi induzido
nas eleições, falou também em “fim de ciclo” para sair da situação atual de
“poço sem fundo”.
— A cada dia, parece que nos colocaram uma espécie de poço
sem fundo. Nós temos a clareza de que estamos, eu espero, em uma espécie de fim
de ciclo, espero profundamente que estejamos e um fim de ciclo, que se articula
para o poder, pensando em projeto de poder — declarou, e completou: — Eu não
entendo por que com tanta violência projetaram em mim que se eu ganhasse as
eleições, eu seria cassada por falta de apoio no Congresso, eu iria tirar o
emprego das pessoas, a comida, o estudo das pessoas. Agora eu entendo. Essa
projeção foi feita porque, conhecendo com profundidade a gravidade da crise que
estava sendo ocultada, com certeza essas pessoas sabiam que não tinha outro
caminho.
‘TEMOS QUE GANHAR NÃO A PARTIR DA MENTIRA DO MARQUETEIRO’
Marina Silva foi ministra do Meio Ambiente do governo Lula
de 2003 a 2008, quando pediu demissão da pasta e retornou ao seu mandato de
senadora. Em 2009, saiu do PT. Em 2010, concorreu ao Planalto pelo PV, e obteve
cerca de 19,6 milhões de votos. Saiu do PV no ano seguinte. Nas últimas
eleições presidenciais, em acordo com o PSB de Eduardo Campos enquanto a Rede
não era fundada, recebeu 22 milhões de votos, em um pleito em que passou de
candidata a vice a grande concorrente para o segundo turno como candidata a
presidente.
No primeiro congresso nacional da sigla, em 2014, o Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) ainda não havia concedido o registro para a legenda –
o que aconteceu em setembro do ano passado. Agora, o partido começa a ter corpo
e tem pela frente as eleições municipais.
O 2º congresso da Rede Sustentabilidade foi da última
quinta-feira até este domingo – dias tensos para o Planalto. Se na quinta veio
à tona uma reportagem de “IstoÉ” sobre uma delação do ex-líder do governo no
Senado Delcídio Amaral (PT-MS), que envolve Dilma e Lula, na sexta o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alvo da 24ª Operação da Lava-Jato e
submetido a uma condução coercitiva.
Antes de falar à imprensa, Marina atacou a “velha política”
e fez menções a um “projeto e poder” e a um “marqueteiro”.
– A única coisa que tinham em mente era um projeto de poder
de no mínimo 20 anos. Deu no que deu – declarou Marina Silva, que ainda
mencionou a figura do “marqueteiro”: – Temos que ganhar não a partir da mentira
do marqueteiro, mas a partir daquilo que precisa o povo brasileiro.
A fundadora da Rede disse também aos conferencistas que o
evento não se transformou em uma “discurseira da desconstrução”, mesmo com a
ebulição no cenário político.
– Haja fatos na abertura de um congresso. Nós poderíamos ter
transformado isso aqui na desculpa apenas para a discurseira da desconstrução,
da agressão política, da visão de que vamos faturar em cima desses fatos. Mas
nós fomos capazes de, com serenidade, analisar os fatos, nos posicionarmos
sobre eles e manter o cronograma da discussão – disse Marina Silva.
Na sexta, o partido divulgou uma nota manifestando “todo o
apoio à investigação profunda e rigorosa de todos os envolvidos” e pedindo a
reunificação do país.
“A Rede Sustentabilidade, reunida em seu 2º Congresso
Nacional, considera que a gravidade dos fatos requer todo apoio à investigação
profunda e rigorosa de todos os envolvidos, assegurado o amplo direito de
defesa previsto em nosso arcabouço legal”, dizia o documento.“É hora de
reunificar o Brasil em defesa da Justiça e da estabilidade institucional”,
completava a nota.
Da Agência O Globo
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