Artigo de Celso Ming, O Estado de S.Paulo
O governo Dilma está isolado, não conta com apoio nem do PT.
Terá de enfrentar agora até mesmo manifestações de rua contrárias agendadas por
uma de suas bases sociais, que se imaginava fiel, o Movimento dos Trabalhadores
Sem-Teto (MTST).
Afirmar, simplesmente, que o governo Dilma acabou, como
alguns analistas vêm fazendo, é um tanto precipitado. O que se pode dizer é
que, no momento, não há governo em condições para enfrentar o colapso da
economia. Mas é bom lembrar do aviso do senador Magalhães Pinto, repassado
ainda nos anos 70: “A política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito.
Olha de novo e ela já mudou”.
Mas a economia despenca em franca deterioração. Em apenas
dois anos, 2015 e 2016, a renda per capita deverá desabar em torno de 10%.
Embora com perspectivas de alguma desaceleração, a inflação segue acima de 10%
ao ano. O desemprego avança também para o nível dos 10% da força de trabalho. A
dívida pública tende aos 80% do PIB e acentua o risco de calote. E o
investimento sumiu, porque não há ambiente favorável aos negócios.
Não se vê nenhum conjunto de políticas que apontem para o
resgate do setor produtivo. Mais do que isso, a “sensação térmica”, para usar a
expressão do economista-chefe do Grupo Itaú, Ilan Goldfajn, não é de simples
repeteco da recessão de 2015, mas de aprofundamento ainda maior, o que acentua
a dificuldade de recuperação e aumenta seu custo político.
O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, submergiu porque não
encontra respaldo para as propostas do governo no Congresso e, de quebra,
enfrenta oposição cerrada dentro do próprio partido da presidente Dilma.
O cenário do impeachment parece mais provável do que era há
apenas um mês, mas ainda é uma aposta arriscada diante da falta de um Fiat Elba
que o materialize.
A outra possibilidade é a de que a presidente Dilma desista,
forçada até mesmo pelo PT, que já a vê como obstáculo a seus projetos
eleitorais. No entanto, ela se aferra ao cargo. Só um novo fato político grave
parece capaz de arrancar-lhe a capitulação. Os termos da delação premiada do
senador Delcídio Amaral ainda a serem divulgados podem, eventualmente, servir
para isso. E há os novos desdobramentos da Operação Lava Jato, que ninguém sabe
quais serão.
Não dá para descartar um terceiro cenário, o de que esse
governo se arraste mata adentro, como animal ferido, perdendo sangue e
substância, à mercê dos predadores, até outubro de 2018. Se for por aí, um
tempo precioso estará sendo perdido sem que se produza o ajuste das contas
públicas e sem que se encaminhem as reformas capazes de tirar a economia da
encalacrada.
Mas as coisas parecem precipitar-se. O PMDB ensaia o
mergulho de abandono do barco, o que ficará mais claro na convenção nacional
agendada para o próximo sábado, que poderá dar mais força ao vice-presidente,
Michel Temer. E há as manifestações marcadas para este domingo que medirão o
volume do ronco das ruas.
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