Preso desde setembro, o ex-governador de Mato Grosso Silval
Barbosa (PMDB) teve seu nome envolvido na operação Liberdade de Extorsão, que
levou quatro jornalistas do Estado à prisão.
Inquérito concluído nesta segunda (22) pela Polícia Civil
indiciou quatro jornalistas sob as acusações de extorsão, violação de sigilo
funcional e de integrar uma organização criminosa.
Os indiciados são Antônio Carlos Milas de Oliveira, dono do
"Centro-Oeste Popular", seus filhos Max –dono do "Notícias
Max"– e Maycon e o editor-chefe Naedson Martins da Silva, do "Brasil
Notícias", com sede em Brasília. Os veículos integram o Grupo Milas
Comunicação.
Eles são acusados, segundo a polícia, de pedir de R$ 100 mil
a R$ 300 mil a políticos e empresários para não divulgar notícias de supostas
irregularidades em contratos.
Foram identificadas, conforme o delegado Anderson Veiga,
oito vítimas –quatro das quais surgiram após a prisão preventiva dos
indiciados, no dia 12.
Uma das vítimas é o ex-secretário da Casa Civil Pedro Nadaf,
detido na mesma operação que levou Barbosa à prisão.
"Perguntei a ele por que foram feitos os pagamentos de
R$ 40 mil e dois de R$ 30 mil. Ele falou 'Olha, eu não vou segurar mais rojão
de ninguém, foi o chefe que mandou eu passar esses cheques para eles'. 'Que
chefe?', perguntei, e ele disse que era o [ex-]governador do Estado."
Veiga disse que quer ouvir Barbosa na próxima fase das
investigações. Os cheques repassados foram pegos numa factoring (empresa que
antecipa pagamentos de duplicatas e promissórias). "Acredita-se que tenha
sido para pagamento de extorsão, mas isso só vai ser esclarecido depois de
algumas pessoas serem ouvidas."
A polícia acredita que o grupo agia havia cerca de dez anos.
Nos seis meses de investigação, o montante envolvido ultrapassa R$ 1 milhão,
mas a polícia crê que o valor seja superior. "Não é fácil alguém ser
extorquido e confessar."
A polícia pediu a quebra dos sigilos bancários dos
jornalistas e das empresas. Uma segunda fase da apuração vai analisar
documentos, computadores e celulares apreendidos.
Em depoimento, os acusados não confessaram as extorsões,
mas, segundo Veiga, afirmaram acessar bases governamentais, como do ISS
(Imposto Sobre Serviços) –o que caracteriza violação de sigilo, disse o
delegado. Assim, estimavam as movimentações financeiras das empresas.
Outras duas pessoas presas temporariamente foram liberadas
após prestarem depoimento.
Barbosa foi preso suspeito de praticar crimes de concussão
(funcionário público usa o cargo para requerer vantagem indevida) e lavagem de
dinheiro. Conseguiu habeas corpus no STF (Supremo Tribunal Federal), mas segue
preso devido a outra operação, que apura a compra de uma área que teria causado
R$ 7 milhões de prejuízo ao Estado.
O TJ de Mato Grosso deve votar nesta quarta (23) pedido de
habeas corpus.
OUTRO LADO
Advogado do ex-governador, Ulisses Rabaneda dos Santos disse
saber do depoimento do ex-secretário, mas não do teor.
"Se ele colocou que o fazia em nome do ex-governador,
cabe ao governador esclarecer se for chamado. Desconheço a investigação."
Nota publicada no site do "Centro-Oeste Popular"
diz que as acusações a seus diretores e funcionários serão esclarecidas e que
os veículos do grupo "sempre se pautaram pela verdade".
"Tem como linha editorial o jornalismo investigativo, o
que tem incomodado poderosos do Estado e refletindo constantes ameaças e
intimações", diz trecho.
Da Folha de S.Paulo
Da Folha de S.Paulo
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