Delator da Operação Acrônimo, o empresário mineiro Benedito
Rodrigues de Oliveira Neto, conhecido como Bené, relatou em acordo de delação premiada
com a Procuradoria Geral da República que repassou R$ 10 milhões em propina ao
governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT).
A informação, revelada na edição desta segunda-feira (23) do
jornal "O Globo", foi confirmada pela TV Globo. Atualmente, as
revelações feitas por Bené estão no Superior Tribunal de Justiça. Caberá ao
tribunal, responsavel por investigar governadores, homologar ou não a delação
do empresário.
O advogado Eugênio Pacceli, responsável pela defesa de
Fernando Pimentel, afirmou que seu cliente "nunca cometeu nenhuma
irregularidade" na Esplanada dos Ministérios. A TV Globo procurou a defesa
de Bené, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Deflagrada em outubro de 2014, a Operação Acrônimo, da
Polícia Federal (PF), apura um suposto esquema de lavagem de dinheiro por meio
de sobrepreço e inexecução de contratos com o governo federal. As
irregularidades teriam tido início em 2005.
Dono de uma gráfica que prestou serviço para a campanha de
Pimentel em 2014, Bené é considerado o operador do esquema de corrupção que
envolve o governador mineiro. Em abril, ele foi preso preventivamente pela
Operação Acrônimo.
As investigações apontam que Bené teria recebido propina
para atuar em favor da montadora Caoa junto ao Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio na época em que Pimentel comandava a pasta. As
investigações indicam que o pagamento de propina ocorreu em troca de benefícios
fiscais.
Segundo a reportagem de "O Globo", em um de seus
depoimentos aos procuradores da República, Bené afirmou que, só da Caoa,
representante da Hyunday no Brasil, Pimentel teria recebido R$ 10 milhões.
O delator destacou ainda que houve irregularidades em
negócios financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) na Argentina e em Moçambique. Ainda de acordo com Bené, Pimentel seria
um dos possíveis beneficiários dos subornos.
Em 6 de maio, a PGR denunciou o governador de Minas ao STJ
por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Os procuradores da República, que
já classificaram Pimentel de "chefe da quadrilha", afirmam na peça
judicial que, na época em que comandou o Ministério de Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior no governo Dilma Rousseff, entre janeiro de 2011
e fevereiro de 2014, Pimentel atuou para favorecer a Caoa. Em troca, dizem os
investigadores, ele recebeu propina de R$ 2 milhões.
No entanto, os R$ 10 milhões em propina revelados na delação
premiada de Bené são cinco vezes maior do que o valor inicialmente identificado
pela PGR.
A Procuradoria vai acrescentar essa nova informação à
denuncia, o que vai reabrir os prazos para defesa de Pimentel e deve adiar para
o segundo semestre o julgamento no qual a Corte Especial do STJ decidirá se
aceita ou não a denúncia contra Fernando Pimentel. Se o governador mineiro se
tornar réu, o tribunal terá que decidir ainda se o afatará do comando do
estado.
O que disseram os suspeitos
Segundo a defesa de Fernando Pimentel, a suposta delação
premiada de Bené, por si só, não é elemento de prova, e a divulgação de parte
do conteúdo desses depoimento é ilegal, o que pode invalidar o acordo do
empresário com o Ministério Público.
O advogado da Caoa, José Roberto Batochio, afirmou que o
grupo empresarial nunca pagou propina a quem quer que seja e que, em casos de
delação premiada, “é muito comum o acusado culpar terceiros para obter a
liberdade”.
Por meio de nota, a assessoria do BNDES reafirmou que não
concedeu financiamentos à Caoa e que as operações do banco somente são feitas
com critérios impessoais e técnicos – e o processo passa por auditoria
independente.
A TV Globo procurou a defesa de Bené, mas até a última
atualização desta reportagem não havia obtido resposta.
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