Do UOL
Agentes da Polícia Federal prenderam nesta quinta-feira (30)
o empresário Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, na
residência dele em Goiânia, no início da Operação Saqueador.
Segundo a PF, no total, três pessoas foram detidas durante
as diligências desta manhã. Além de Cachoeira, Cláudio Abreu, funcionário da
empreiteira Delta Construções, também foi preso em Goiás. Já em São Paulo, a
polícia prendeu o lobista Adir Assad, investigado na Operação Lava Jato e já
condenado pelo juiz Sérgio Moro a nove anos e dez meses de prisão por lavagem
de dinheiro e associação criminosa.
Há ainda um mandado de prisão a ser cumprido contra o dono e
ex-presidente da Delta, Fernando Cavendish, que está em viagem ao exterior, e
outro contra o empresário Marcelo Abbud. A operação foi deflagrada em pelo
menos três Estados (GO, SP e RJ).
Os advogados de Cachoeira, Cavendish e Assad ainda não foram
identificados e localizados. A PF não informou se eles já possuem defesa
constituída para esse processo. Procurada pelo UOL, a assessoria de comunicação
da Delta informou que a empresa, por enquanto, não pretende se pronunciar. Já o
advogado de Abbud informou que ele está disposto a se entregar à PF.
O inquérito que resultou na operação foi instaurado a partir
de informações sobre desvio de dinheiro público e lavagem de dinheiro. De
acordo com a investigação, que já dura três anos, houve corrupção a partir de
contratos públicos com a empreiteira Delta. A empresa participou de várias
obras realizadas com recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Segundo o MPF (Ministério Público Federal), de 2007 a 2012,
a Delta teve 96,3% do seu faturamento oriundo dos cofres públicos, e o lucro é
estimado em R$ 11 bilhões. Desse total, mais de R$ 370 milhões foram lavados
por meio de pagamento ilícito a 18 empresas de fachada, criadas pelos
operadores do esquema. O objetivo final da lavagem seria o pagamento de propina
a agentes públicos.
"Cachoeira, Assad e Abbud eram os responsáveis por
criar as empresas fantasmas que lavavam os recursos públicos, por meio de
contratos fictícios, que eram sacados em espécie, para o pagamento de propina a
agentes públicos, de forma a impedir o rastreamento das verbas", informou
o MPF, em nota.
O Ministério Público Federal informou ter denunciado à
Justiça, além de Cavendish, outras 22 pessoas por envolvimento com o esquema.
"Dentre os denunciados estão executivos, diretores, tesoureira e
conselheiros da empreiteira, além de proprietários e contadores de empresas
fantasmas, criadas por Carlinhos Cachoeira, Adir Assad e Marcelo Abbud."
O juiz responsável pelo caso é Marcelo Bretas, da 7ª Vara da
Justiça Federal do Rio de Janeiro. É ele também que está à frente das ações da
Eletronuclear, desmembramento da Lava Jato.
Carlinhos Cachoeira chegou a ser preso na operação Monte
Carlo, em 2012, acusado de liderar uma quadrilha de jogos de azar em Goiás e no
Distrito Federal. A ação desmontou a quadrilha, que se beneficiaria da relação
com autoridades como o ex-senador Demóstenes Torres. Cachoeira é também alvo de
diversos processos criminais na Justiça e já foi condenado a mais de 39 anos de
prisão.
Operação Tabela Periódica
Também em Goiás, agentes da Polícia Federal realizam nesta
manhã a Operação Tabela Periódica, uma ação de desdobramento da Lava Jato e que
investiga investiga os crimes de cartel, fraude em licitações, corrupção,
peculato e lavagem de dinheiro em obras da ferrovia Norte-Sul.
São cumpridos 14 mandados de condução coercitiva em nove
Estados, isto é, quando o investigado é levado para depor por força policial, e
três de busca e apreensão. Além disso, são 44 mandados de busca e apreensão.
Amizade com Cabral
Cavendish é amigo do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio
Cabral. Em 2012, uma foto divulgada por um dos rivais políticos de Cabral, o
também ex-governador Anthony Garotinho, gerou grande repercussão. A imagem
mostrava uma confraternização entre secretários de Estado da gestão Cabral,
como Sérgio Côrtes (Saúde) e Wilson Carlos (governo), e Cavendish. Em clima de
descontração, eles utilizavam guardanapos brancos na cabeça e aparentavam estar
dançando.
O material gerou indignação e manifestações da oposição e de
movimentos sociais. Na época, a Delta Construções foi investigada na Operação
Monte Carlo por ter relações comerciais com Carlinhos Cachoeira, associado a um
grande esquema de exploração de jogos de azar na região Centro-Oeste. Um
ex-diretor da empresa chegou a ser preso. Pressionado, Cabral divulgou uma nota
na qual afirmou nunca ter negado a amizade com Cavendish, mas que não misturava
"amizade com interesse público".
"Nunca neguei minha amizade com o empresário Fernando
Cavendish. Jamais imaginei e, muito menos tinha conhecimento, que a sua empresa
fizesse negócios com um contraventor no Centro-Oeste brasileiro. Quando assumi
o governo, a Delta já era uma das maiores empreiteiras do Rio e do Brasil.
Nunca na minha vida misturei amizade com interesse público", diz o texto.
Cassação de Demóstenes
A Operação Monte Carlo também teve como alvo o ex-senador
Demóstenes Torres, cujo mandato foi cassado em 2012. De acordo com a
investigação, o ex-parlamentar atuava no Congresso em favor de Cachoeira,
defendendo os jogos ilegais. Ele seria, ao lado do governador Marconi Perillo
(PSDB-GO), um dos principais contatos de Cachoeira na política.
As conclusões da PF tiveram base em escutas gravadas a
partir de telefonemas entre os envolvidos. A legalidade dos grampos foi
questionada por Demóstenes, mas a tese da defesa não foi suficiente para
garantir apoio no Senado. A cassação do mandato foi definida em 11 de julho de
2012, com 56 votos a favor, 19 contra, cinco abstenções e uma ausência. Eram
necessários 41 votos para que a cassação fosse aprovada.
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