Nelson Motta, O Globo
Aprendi com meu pai que é covarde e indigno tripudiar sobre
perdedores, que se deve ter compaixão pelos caídos, não chutar cachorros
mortos. Mas também ser solidário com as vítimas, lutar pela justiça, para que
os criminosos paguem pelos seus atos, em nome da democracia e da civilização.
Mas não são só ladrões, achacadores, delatores, traidores e
fraudadores que estão caídos como cachorros mortos: o Brasil está no chão,
vítima da arrogância, da indecência e da irresponsabilidade dessa gentalha que
se crê uma casta privilegiada e se esconde atrás de partidos e da boa-fé
popular para fazer o que bem entende na certeza da eterna impunidade.
A face do crime é medonha. Ao trocar as roupas de grife pelo
uniforme de presidiário, eles se revelam em toda a sua feiura e vulgaridade.
Presos e humilhados, príncipes intocáveis mais parecem marginais de rua,
guerreiros do povo são desmascarados em ladrões e fraudadores de eleições,
senhores poderosos, de mãos para trás e cabeça baixa, parecem o que sempre
foram, trapaceiros de luxo com caras de bandido.
Quando Rita Lee disse em seu clássico “Ôrra meu” que
“roqueiro brasileiro sempre teve cara de bandido”, desconsiderou os políticos.
Eles é que têm cara de bandido, embora alguns nem exerçam a atividade, mas a
vasta maioria compõe uma galeria apavorante. É quando a ética se expressa na
estética. E os vilões? Quanto pior, melhor.
Todos têm seus vilões favoritos, o Coringa, Darth Vader, Bia
Falcão, Carminha, Flora... o meu era o Zé Dirceu, mas já está fora de combate,
game over. Agora, olhem bem as caras de Cerveró, Vaccari, André Vargas, Bumlai,
Barusco, Renato Duque, Pedro Corrêa, Gim Argello, Fernando Baiano, Léo
Pinheiro... que medo, hein?
Mas, por enquanto, o mais vil da nova safra parece ser
Sérgio Machado, com o physique du rôle e o histórico familiar de um arquétipo
da vileza cordial brasileira. Qual o seu? Renan, Jucá, Sarney e Eduardo Cunha,
além do neovilão Lula, são hors-concours, porque ainda estão soltos, e só vale
vilão preso. Mas, com sua delação premiada, Marcelo Odebrecht pode se tornar o
campeão nacional da vilania.
Nelson Motta é jornalista - via Blog do Noblat
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