Da Veja
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se tornou réu pela
terceira vez nesta quinta-feira. O juiz federal Vallisney de Souza Oliveira
aceitou integralmente a denúncia oferecida na segunda-feira contra o petista
pelos crimes de tráfico de influência, organização criminosa, lavagem de
dinheiro e corrupção passiva na Operação Janus – que investiga negócios
suspeitos em Angola com dinheiro do BNDES. O sobrinho do petista Taiguara
Rodrigues dos Santos, que tinha contratos milionários com a Odebrecht no país
africano, também foi denunciado por organização criminosa e lavagem de
dinheiro. Além deles, Marcelo Odebrecht, dono da maior empreiteira do país e
preso na Operação Lava-Jato, foi denunciado por organização criminosa, lavagem
de dinheiro e corrupção ativa. Todos se tornaram réus no processo.
Conforme VEJA antecipou há duas semanas, os investigadores
encontraram “indícios de vantagens auferidas pelo ex-presidente e seus
familiares em decorrência de supostos serviços prestados”. No esquema mapeado
pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, Lula atuava como “verdadeiro
lobista da construtora Odebrecht”. Formalmente, a empreiteira contratava o
ex-presidente para dar palestras em países da América Latina e da África, onde
a empresa desenvolve projetos bilionários financiados com dinheiro do BNDES. Ao
todo, o petista recebeu 7,6 milhões de reais da Odebrecht em sua empresa, a
L.I.L.S., e em doações ao Instituto Lula. Nessas andanças pelo exterior, o
ex-presidente se encontrava com chefes de Estado e autoridades estrangeiras com
os quais discutia assuntos do interesse da construtora — que, por sua vez,
contratou a Exergia Brasil, empresa de Taiguara Rodrigues, para ajudar numa
obra em Angola.
O sobrinho de Lula, mesmo sem experiência no ramo de
engenharia, recebeu 7 milhões de reais da Odebrecht. Uma parte desses recursos
foi usada para pagar uma viagem a Cuba de Fábio Luis, filho mais velho do
ex-presidente conhecido como Lulinha, e despesas pessoais de José Ferreira da
Silva, conhecido como “Frei Chico”, irmão de Lula. A Exergia Brasil, segundo os
investigadores, financiou até a campanha de Luiz Marinho, amigo do
ex-presidente, em São Bernardo do Campo, em 2012.
A existência do negócio suspeito entre Taiguara e a
Odebrecht foi revelada por VEJA em fevereiro de 2015. Antes de assinar
contratos milionários com a empreiteira, Taiguara era dono de uma pequena
vidraçaria em Santos, no litoral paulista. De uma hora para a outra, virou
empreiteiro. Na esteira das viagens internacionais do tio Lula, prospectou
negócios na América Central e na África. Taiguara, que sempre negou qualquer
favorecimento da Odebrecht, é filho de Jacinto Ribeiro dos Santos, o Lambari,
amigo de Lula na juventude e irmão da primeira mulher do ex-presidente.
Funcionários do governo e executivos de empreiteiras costumavam identificá-lo
como “o sobrinho do Lula”.
A investigação conduzida pelo MPF e pela PF começou em abril
do ano passado e focou os empréstimos concedidos pelo BNDES para a Odebrecht
entre 2008 e 2015, especificamente em Angola, por causa das condições
camaradas. Segundo o MPF, na comparação entre dez países que receberam
financiamentos públicos do banco estatal, o país africano teve um dos menores
prazos médios de concessão dos empréstimos, celebrou a maior quantidade de
contratos e recebeu o maior volume de dinheiro, com a menor taxa de juros.
Trata-se do terceiro processo a que Lula responderá na
Justiça. Em julho passado, o ex-presidente virou réu na Justiça Federal do DF
por suspeitas de ter tentado obstruir a Operação Lava-Jato junto com o
ex-senador Delcídio do Amaral. Mais recentemente, em 14 de setembro, o
ex-presidente foi denunciado pela força-tarefa da Lava-Jato pela prática dos
crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Lula, que foi apontado pelo
MPF como o “comandante máximo” do esquema do petrolão, teria recebido 3,7 milhões
de reais em propinas da construtora OAS. No dia 20 de setembro, a denúncia foi
aceita pelo juiz federal Sergio Moro.
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