Garotinho — preso na véspera — zombando da prisão de Cabral
é um momento insuperável da política brasileira. Mais impressionante que isso,
só o Brasil zombando dos fatos. A narrativa espalhada pelo pessoal que vive de
espalhar narrativas é que a prisão de Cabral detona o PMDB e, consequentemente,
o governo golpista que derrubou a mulher honesta. Como escreveria Nelson Motta:
rsrs.
Ainda penando para sair do buraco, o país está louco para
ser roubado de novo. Vamos contrariá-lo. Falta um dado essencial na
investigação que levou à captura de Sérgio Cabral: a conexão Delta-Dilma. A
empreiteira de estimação do ex-governador preso tornou-se subitamente a campeã
das obras do PAC — do qual, como se sabe, Dilma é a mãe.
E foi sob essa generosa proteção maternal que a Delta se
associou a Carlinhos Cachoeira para plantar o laranjal em torno do Dnit — no
escândalo dos superfaturamentos de estradas que o Brasil, claro, já esqueceu. O
PMDB de Cabral, portanto, é antes de tudo sócio histórico do PT de Dilma e
Lula. Interessante observar que Fernando Cavendish, o ex-poderoso mandachuva da
Delta, dedurou à polícia uma boiada inteira para ferrar seu ex-amigo, e
aparentemente não tocou nos anjos da guarda de Brasília.
Você está impressionado com os R$ 222 milhões desviados em
quatro obras do Rio? Bem, isso é brincadeira de criança perto das fraudes
detectadas nas obras viárias do PAC — que não levaram ninguém em cana porque o
Brasil estava aclamando mamãe como a faxineira da nação. A negociata do
Maracanã aconteceu sob o mesmo guarda-chuva da Copa das Copas — a fantástica
conexão entre os picaretas da Fifa e os do PT que rendeu os estádios mais caros
da história da competição.
O Maracanã de Cabral é primo do Itaquerão de Lula, já
devidamente incluído na Lava-Jato, capítulo Odebrecht. A podridão do PMDB do
Rio na última década, exposta agora pela Justiça e pela Polícia Federal, não
pode ser alienada do reinado Lula-Dilma. Isso é roubo. O que está acontecendo
hoje em Brasília é um pouco diferente.
Ao menos nos postos-chave do governo, Michel Temer fez a
dedetização: ouviu a banda boa do Brasil (é incrível, mas ela ainda existe) e
colocou no Banco Central, na Fazenda, no Tesouro, no BNDES e na Petrobras
comandantes respeitados (todos eles) no mundo inteiro. Não é que Temer seja
bonzinho, nem que o PMDB dele seja flor que se cheire: é apenas um presidente
fazendo a coisa certa, talvez por instinto de sobrevivência, como fez Itamar
Franco no Plano Real.
Quem lembra que a estabilidade monetária foi conquistada num
governo do PMDB? Ninguém, porque o plano foi feito apesar do PMDB. Apesar de
Renan Calheiros e grande elenco obscuro, o governo Temer abriu espaço para
gente séria tomar conta do dinheiro. E todos os indicadores macroeconômicos
estão começando a melhorar por causa disso — incluindo milagres como a
recuperação da Petrobras, depenada pelos companheiros nacionalistas e guardiões
do que é nosso (deles).
Isso é uma tragédia para os profissionais da narrativa
miserável. No que a vida do povo melhora, o palanque da salvação bolivariana
fica às moscas. Mas o conto de fadas da revolução progressista não pode morrer,
porque administração séria é um tédio. Alguém acha que a MPB vai compor um hino
para o equilíbrio das contas públicas? Que poeta emprestaria seu charme
marginal para o saneamento do Tesouro?
Era preciso pensar numa reação rápida contra o atentado de
monotonia, perpetrado pelos homens brancos, velhos, recatados e do lar — e daí
surgiu a ideia genial: demonizar a arrumação da casa. Assim nasceu o famoso
slogan “A PEC do fim do mundo”. Enfim, um sopro de poesia na aridez cruel dos
números — quando todo mundo sabe que esse negócio de fazer conta é coisa de
reacionário, especialmente se a conta fecha.
A iniciativa do governo de propor um teto para os gastos
públicos é uma ação neoliberal, praticamente nazista, porque certamente
impediria o surgimento de novos heróis humanitários como Delúbio, Vaccari,
Valério e Dirceu. Qualquer coxinha de esquerda metido em ocupação de escola
sabe que, sem cheque especial ilimitado, a revolução engasga.
É comovente ver instituições de ensino invadidas e ocupadas
por todo o território nacional contra a PEC do fim do mundo. Existe algo mais
poético do que um país inteiro transformado num jardim de infância? Os
invasores revolucionários acreditam — ou fazem de conta, o que no universo
infantil dá no mesmo — que a PEC é para desviar dinheiro da Educação para o
Conde Drácula do PMDB. Fora Temer!
Esses caçadores de Pokémon do pósimpeachment montaram uma
cena épica na PUC. A universidade carioca foi “ocupada” contra a vitória de
Donald Trump. Como se vê, o videogame ideológico da garotada tem um alcance
formidável. Curiosamente, o jogo parece não ter caçada a Lula e Dilma, os bichinhos
mais vorazes da fauna local. Tudo bem. Deixem estes para os profissionais. Se o
Brasil descobriu Cabral, haverá de chegar à Corte.
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