Este artigo deveria ser desnecessário. Os efeitos nefastos
do consumo de substâncias nocivas à saúde humana e à segurança das pessoas, o
que ele nos custa, em dor humana e recursos públicos, deveria ser bastante para
que medidas mais duras de controle sobre o excesso de uso fossem adotadas,
como, por exemplo, cumprir a lei que proíbe a abertura de pontos de venda de
bebida após as 22 horas e um maior controle sobre o consumo da mesma por
menores de idade.
A redução crescente do tabagismo é prova de que proibir
publicidade de cigarros em locais abertos foi uma medida eficaz. Com base
nisso, e certamente em sua própria experiência, o então presidente Lula certo
dia deu a conhecer que enviaria ao congresso nacional um projeto de lei
proibindo publicidade nos mesmos moldes para bebida alcoólica.
Não foi preciso mais do que duas semanas para que a ideia
fosse abandonada. O Congresso nunca a recebeu e é fácil saber o motivo: basta
consultar no TSE a lista de empresas financiadoras de campanhas eleitorais dos
preclaros parlamentares e lá se verá a generosidade e ecletismo com que as produtoras de
bebidas alcoólicas comparecem ao caixa dos candidatos de quase todos os
partidos.
Vem agora o prefeito de Fortaleza anunciar, exultante, que
um grande grupo dedicado à fabricação daquele produto será ‘patrocinador
oficial’ do Carnaval de Fortaleza com uma verba, 400 mil reais, que certamente
não daria para cobrir sequer as despesas funerais daqueles que, dirigindo
alcoolizados ou excedendo-se em atos de violência, certamente irão morrer,
considerando as estatísticas agravantes de períodos anteriores.
É o Poder Público municipal, cuja dívida com a qualidade no
atendimento de saúde já é inaceitável, de braços dados com um dos principais
fatores do seu enorme passivo. Faz com isso a prefeitura um mau negócio,
financeiramente desvantajoso e eticamente insustentável. Que a iniciativa parta
de um prefeito que fez o juramento de Hipócrates, pois médico de formação, só
traz mais desapontamento a quem espera mínimo senso de responsabilidade.
Ricardo Alcântara, escritor e publicitário.
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