Sob protestos de cerca de 100 pessoas do lado de fora do
clube Hebraica, na zona sul do Rio, e aplaudido diversas vezes no auditório
lotado por outras 300, o deputado federal e pré-candidato à presidência da
República Jair Bolsonaro (PSC-RJ) prometeu que irá acabar com todas as reservas
indígenas e comunidades quilombolas do País caso seja eleito em 2018. Ele
também afirmou que irá terminar com o financiamento público para ONGs e disse
que, se depender dele, “todo mundo terá uma arma de fogo em casa”.
Bolsonaro discursou por uma hora em uma palestra precedida
por muita polêmica. O convite do clube Hebraica do Rio surgiu no início do mês
passado, pouco depois de o deputado ter sua palestra na sede paulista da
Hebraica cancelada devido ao descontentamento de parte da comunidade judaica
com o evento. Mas o convite para discurso no Rio também provocou indignação.
Mesmo assim, Jair Bolsonaro se mostrou bem à vontade. “O
pessoal aí embaixo (manifestantes) eu chamo de cérebro de ovo cozido. Não
adianta botar a galinha, porque não vai sair pinto nenhum. Não sai nada daquele
pessoal”, desdenhou, enquanto discursava no auditório localizado no sétimo
andar. Foi aplaudido.
Vendo que seu discurso estava sendo bem aceito, minutos mais
tarde ele voltou a fazer piada sobre os manifestantes. “Vou pedir para um
assessor meu dar um pulinho aí no bar. Compra um sanduíche de mortadela que eu
vou jogar pela janela.”
O deputado foi incisivo, e como de costume não mediu
palavras. Atacou os ex-presidentes petistas Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula
da Silva, disse que a cúpula do PSDB está sendo atingida pela Lava Jato e não
poupou nem mesmo o seu partido.
“O PSDB, por exemplo. Eu não posso afirmar nada, mas de
acordo com os delatores toda a cúpula tá na Lava Jato. Se é verdade ou não, não
sei. Mas eu não vou criticar o PSDB, porque o meu PSC, quando abrir de vez a
tampa da latrina…”, comentou. Mais tarde, referiu-se a Dilma e Lula fazendo
piada de gosto duvidoso, mas que arrancou risos e aplausos da plateia. “Tinha
lá uma ensacadora de vento na presidência. Não precisa falar mais nada.
Tínhamos outro energúmeno que não sabia contar até dez porque não tinha um
dedo. Uma vergonha pro nosso Brasil!”
Curiosamente, logo no início do discurso Bolsonaro declarou
que não se acha um bom nome pra presidir o Brasil. “Eu não sou bom, não. Mas os
outros são muito ruins. Me esculacham tanto e mesmo assim eu continuo subindo
nas pesquisas”, ironizou.
Boa parte da “palestra”, que acabou mesmo como discurso de
campanha, serviu para Jair Bolsonaro criticar medidas adotadas pelos
ex-presidentes petistas, sobretudo às que dizem respeito à demarcação de
terras. “Pode ter certeza que se eu chegar lá (presidência da República) não
vai ter dinheiro pra ONG. Se depender de mim, todo cidadão vai ter uma arma de
fogo dentro de casa. Não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena
ou pra quilombola.”
Para Bolsonaro, as reservas indígenas e quilombolas
atrapalham a economia. “Onde tem uma terra indígena, tem uma riqueza embaixo
dela. Temos que mudar isso daí”, afirmou. “Eu fui num quilombo. O
afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que
nem pra procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gastado com
eles.”
O presidenciável também fez críticas a refugiados. “Não
podemos abrir as portas para todo mundo”, disse. Mas não se mostrou avesso a
todos os estrangeiros. “Alguém já viu algum japonês pedindo esmola? É uma raça
que tem vergonha na cara!”
Do Estadão Conteúdo, via ISTOÉ
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