sábado, 27 de maio de 2017

AMOR DE MÃE

Tem romance novo no pedaço. Galera, convido todos vocês para o lançamento do livro Amor de Mãe, romance do amigo jornalista Ricardo Soares.
"Amor de mãe" foi livremente inspirado em um encontro que autor teve entre a mãe de uma jovem guerrilheira e a veterana das Farc Mariana Paez em 2001.
A noite de autógrafos será realizada no dia 01 de junho (quinta-feira), a partir das 19h00 no Patuscada - Livraria, Bar e Café - Rua Luís Murat, 40 - Vila Madalena - São Paulo - SP.
Um aperitivo do livro
"Quero ter assim a oportunidade de lhes contar então de uma mãe que encontrei no sul da Colômbia defronte a uma tosca pousada em Los Pozos. Pequetita,gordinha,moletom e sandálias baratas nos pés,não mais que 35 anos,ela se aproximou de mim sob uma cobertura de folhas de zinco numa manhã chuvosa perguntando se eu podia ajudá-la a encontrar sua filha.
Como poderia eu,brasileiro perdido naquele canto do mapa,ajudá-la a encontrar a filha sumida?A senhorinha disse que havia me observado no dia anterior conversando com guerrilheiros que dominavam aquela região e viu que até trocamos apertos de mão e dividimos uma cerveja venezuelana.Logo eu,brasileiro,perdido, mestiço e desconectado era conhecido da guerrilha e podia ajudá-la sim no seu intuito de ter sua filha de volta. Era o que ela supunha.
Dois anos antes sua filha havia se embrenhado mata adentro com guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e nunca mais havia dado notícia. Isso havia sido no outro extremo do país e essa mãe gordinha e ansiosa , essa mãe de sandálias baratas e choro incontido,percorria longa viagem país adentro tentando ter noticias de sua filha, provável guerrilheira das Farc.
Assim, por armadilhas postas pelo destino,essa mãe me implorava que eu chegasse perto de um dos meus “amigos guerrilheiros”e perguntasse por sua filha.Dizia isso fungando e tirando do bolso de sua pobre calça um saco plástico transparente com documentos e fotos antigas da filha que deixou o lar e parecia uma moreninha simpática e risonha envolta na aura da adolescência esperançosa da qual teriam se aproveitado os guerrilheiros para seqüestrá-la contra sua vontade.
Estávamos protegidos da chuva que não parava sob esse toldo simples de folhas de zinco e enquanto conversávamos uma vaca era esquartejada bem ali na nossa frente.Os pedaços maiores eram colocados à venda num carrinho de mão quando parou bem em frente de nós um jipe azulado de onde desceu Mariana, guerrilheira de alta patente que eu já conhecera de outras charlas.Mariana ia comprar um pedaço daquelas carnes esquartejadas quando me viu e saudou.Respondi a seu aceno e lhe chamei.Veio até mim conformada,parecia ter pressa.Com pressa também lhe apresentei a mãe aflita que aos prantos repetiu para a guerrilheira a história que havia me contado.
Mariana,apesar de contrariada,ouviu com atenção o relato da mãe aflita.Ao final pegou a foto da menina sumida,observou bem e anotou o nome dela.Prometia pra mais tarde uma posição a respeito do assunto.Guardou a anotação num bolso do uniforme, pegou seu enorme pedaço de carne,entrou no jipe e partiu.Eu tomava agora um Pony Malta bem docinho e olhava impassível para a cara daquela mãe chorosa.Estendi-lhe um lenço de papel e ela mal e mal enxugou os olhos enquanto uma chuva pesada desabou sobre todos nós". (...)
Em nome de Bolívar, em nome de um estado colombiano mais justo,em nome de ideais sagrados e das cores da bandeira revolucionária das Farc a guerrilheira Mariana garantiu a mim e a mãe gordinha da menina que fugiu de casa que sua filha não havia sido seqüestrada mas tinha partido de livre e espontânea vontade para as montanhas da Colômbia para lutar por um país mais justo ao lado dos seguidores de Manuel Marulanda Vélez, o Tirofijo.
Depois que eu e a mãe gordinha conversamos e lhe apresentei a guerrilheira Mariana a chuva não parou de descer e fui esquentar minha umidade num armazém bem próximo me entupindo até onde pude de aguardente a base de aniz(da marca Néctar, sempre em conta)e comendo bolinhos de carne e arepas bem quentinhas.Aquele dia torrencial e úmido passou,a noite virou e a mãe gordinha ficou no mesmo lugar,mal dormindo sentada ,quando 36 horas depois Mariana voltou a ela compadecida e veio repetir a resposta que a senhora não entendia.
Ela se perguntava,afinal por que sua filha iria deixar sua casa para lutar por uma revolução bolivariana?Bolívar não estava morto?o sonho da América unida não estava enterrado ?pois então que confusão era essa?que luta era essa que sua filha empreendia? por que tinha ido tão longe e não mandava notícias?Mariana garantia com firmeza que a moça ia bem e que um dia voltaria.(...)
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