Tem romance novo no pedaço. Galera, convido todos vocês para
o lançamento do livro Amor de Mãe, romance do amigo jornalista
Ricardo Soares.
"Amor de mãe" foi livremente inspirado em um
encontro que autor teve entre a mãe de uma jovem guerrilheira e a veterana das
Farc Mariana Paez em 2001.
A noite de autógrafos será realizada no dia 01 de junho
(quinta-feira), a partir das 19h00 no Patuscada - Livraria, Bar e Café - Rua
Luís Murat, 40 - Vila Madalena - São Paulo - SP.
Um aperitivo do livro
"Quero ter assim a oportunidade de lhes contar então de
uma mãe que encontrei no sul da Colômbia defronte a uma tosca pousada em Los
Pozos. Pequetita,gordinha,moletom e sandálias baratas nos pés,não mais que 35
anos,ela se aproximou de mim sob uma cobertura de folhas de zinco numa manhã
chuvosa perguntando se eu podia ajudá-la a encontrar sua filha.
Como poderia eu,brasileiro perdido naquele canto do
mapa,ajudá-la a encontrar a filha sumida?A senhorinha disse que havia me
observado no dia anterior conversando com guerrilheiros que dominavam aquela
região e viu que até trocamos apertos de mão e dividimos uma cerveja
venezuelana.Logo eu,brasileiro,perdido, mestiço e desconectado era conhecido da
guerrilha e podia ajudá-la sim no seu intuito de ter sua filha de volta. Era o
que ela supunha.
Dois anos antes sua filha havia se embrenhado mata adentro
com guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e nunca mais
havia dado notícia. Isso havia sido no outro extremo do país e essa mãe
gordinha e ansiosa , essa mãe de sandálias baratas e choro incontido,percorria
longa viagem país adentro tentando ter noticias de sua filha, provável
guerrilheira das Farc.
Assim, por armadilhas postas pelo destino,essa mãe me
implorava que eu chegasse perto de um dos meus “amigos guerrilheiros”e
perguntasse por sua filha.Dizia isso fungando e tirando do bolso de sua pobre
calça um saco plástico transparente com documentos e fotos antigas da filha que
deixou o lar e parecia uma moreninha simpática e risonha envolta na aura da
adolescência esperançosa da qual teriam se aproveitado os guerrilheiros para
seqüestrá-la contra sua vontade.
Estávamos protegidos da chuva que não parava sob esse toldo
simples de folhas de zinco e enquanto conversávamos uma vaca era esquartejada
bem ali na nossa frente.Os pedaços maiores eram colocados à venda num carrinho
de mão quando parou bem em frente de nós um jipe azulado de onde desceu
Mariana, guerrilheira de alta patente que eu já conhecera de outras
charlas.Mariana ia comprar um pedaço daquelas carnes esquartejadas quando me
viu e saudou.Respondi a seu aceno e lhe chamei.Veio até mim conformada,parecia
ter pressa.Com pressa também lhe apresentei a mãe aflita que aos prantos
repetiu para a guerrilheira a história que havia me contado.
Mariana,apesar de contrariada,ouviu com atenção o relato da
mãe aflita.Ao final pegou a foto da menina sumida,observou bem e anotou o nome
dela.Prometia pra mais tarde uma posição a respeito do assunto.Guardou a
anotação num bolso do uniforme, pegou seu enorme pedaço de carne,entrou no jipe
e partiu.Eu tomava agora um Pony Malta bem docinho e olhava impassível para a
cara daquela mãe chorosa.Estendi-lhe um lenço de papel e ela mal e mal enxugou
os olhos enquanto uma chuva pesada desabou sobre todos nós". (...)
Em nome de Bolívar, em nome de um estado colombiano mais
justo,em nome de ideais sagrados e das cores da bandeira revolucionária das
Farc a guerrilheira Mariana garantiu a mim e a mãe gordinha da menina que fugiu
de casa que sua filha não havia sido seqüestrada mas tinha partido de livre e
espontânea vontade para as montanhas da Colômbia para lutar por um país mais
justo ao lado dos seguidores de Manuel Marulanda Vélez, o Tirofijo.
Depois que eu e a mãe gordinha conversamos e lhe apresentei
a guerrilheira Mariana a chuva não parou de descer e fui esquentar minha
umidade num armazém bem próximo me entupindo até onde pude de aguardente a base
de aniz(da marca Néctar, sempre em conta)e comendo bolinhos de carne e arepas
bem quentinhas.Aquele dia torrencial e úmido passou,a noite virou e a mãe
gordinha ficou no mesmo lugar,mal dormindo sentada ,quando 36 horas depois
Mariana voltou a ela compadecida e veio repetir a resposta que a senhora não
entendia.
Ela se perguntava,afinal por que sua filha iria deixar sua
casa para lutar por uma revolução bolivariana?Bolívar não estava morto?o sonho
da América unida não estava enterrado ?pois então que confusão era essa?que
luta era essa que sua filha empreendia? por que tinha ido tão longe e não
mandava notícias?Mariana garantia com firmeza que a moça ia bem e que um dia
voltaria.(...)
Muito bom.
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