Em 20 meses de prisão no Complexo Médico-Penal em Pinhais,
Região Metropolitana de Curitiba, o ex-ministro José Dirceu conquistou uma
posição de liderança entre os presos da galeria e deixou uma contribuição.
Trabalhando para reduzir a pena a que foi condenado, ele foi
responsável por catalogar com a ajuda de outro preso todos os livros da
biblioteca da unidade penitenciária.
Também era ele quem indicava e distribuía os livros para os
detentos, de acordo com o perfil de cada um. Era ainda uma espécie de auxiliar
da professora responsável, na unidade, pelo Programa Remição da Pena pela
Leitura. Ele próprio foi um dos alunos do projeto.
Os presos que participam do programa precisam ler uma obra
literária e produzir uma resenha por mês, escrita, reescrita e finalizada sob a
orientação e avaliação de um professor.
Cada nota 6 representa 4 dias a menos de prisão. Na
Biblioteca, Dirceu tinha jornada de trabalho de 6 a 8 horas diárias, até o
limite de 44 horas semanais. Cada três dias trabalhados podem resultar em um
dia a menos de prisão.
Na primeira instância da Justiça Federal em Curitiba, o
ex-ministro, que tem 72 anos, foi condenado a penas que somam pouco mais de 32
anos de reclusão.
O advogado de José Dirceu, Roberto Podval, diz que não
costuma falar sobre detalhes da vida dos clientes na prisão. Mas afirma que o
ex-ministro demonstrou uma força de espírito incomum e que era bem-quisto dentro
do cárcere.
“É impressionante o que ele, ali, um homem de 70 anos de
idade, condenado a mais de 30 anos, com uma filha de 5 anos, a energia, a
força. Ele é, até onde eu sei, muito querido por todos os presos. Do mais
simples preso que tem ali, ao mais importante. O que eu posso dizer é que de
fato foi uma lição de vida ver um homem como José Dirceu, vivenciar ele preso
ali”, relata o advogado.
O diretor do Departamento Penitenciário do Estado, Luiz
Alberto Cartaxo, disse há alguns dias que a idade, a vivência e a formação de
José Dirceu fizeram dele uma liderança natural na sexta galeria, onde estava
preso.
“Ele funciona como um interlocutor. E na condição de
interlocutor acaba exercendo naturalmente uma liderança. Sempre existe aqueles
presos, um preso, ou um grupo de presos que faz o contato e que fazem as
interlocuções. Isso é normal. Um certo respeito que os demais têm por ele. Ele
talvez seja o que estava há mais tempo lá também. O tempo de permanência,
antiguidade também é posto na cadeia”, afirma.
Na quarta-feira (3 de maio), quando foi solto, José Dirceu
completou um ano e nove meses de prisão em decorrência da operação Lava Jato.
Desses 21 meses, ele passou maior parte no Complexo Médico
Penal em Pinhais. Apenas no primeiro mês de prisão permaneceu na carceragem da
Polícia Federal da capital paranaense.
José Dirceu foi preso em 3 de agosto de 2015, na casa em que
morava em Brasília. Ele foi o principal alvo da 17.ª fase da Lava Jato, chamada
de Operação Pixuleco.
Tornozeleira eletrônica
Após ser libertado nessa quarta-feira (3), o ex-ministro
chegou em seu apartamento em Brasília nesta noite de quinta-feira (4), onde foi
recebido por manifestantes. Dirceu foi solto um dia após a decisão da segunda
turma do STF que, por maioria, entendeu que havia excesso de prazo na sua
prisão preventiva.
O juiz federal Sérgio Moro determinou que o ex-ministro deve
utilizar o equipamento para cumprir as medidas cautelares impostas pelo juízo.
“Embora tais medidas não previnam totalmente eventual fuga, pelo menos a
dificultam”, alegou Moro.
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