A Polícia Federal indiciou o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva por envolvimento na venda de uma medida provisória em 2009, quando
ainda era presidente. Além do petista, a PF indiciou outras 12 pessoas, entre
elas o empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, da Caoa, e o
ex-presidente da Mitsubishi, Paulo Ferraz, o ex-ministro Gilberto Carvalho e
lobistas.
O caso, que envolve a edição de medida provisória com
incentivos fiscais a montadoras de veículos, foi revelado pelo jornal O Estado
de S. Paulo em 2015. Na época, a reportagem mostrou que documentos apreendidos
pela PF apontavam que a medida teria sido “comprada” por meio de lobby e de
corrupção para favorecer montadoras de veículos.
O indiciamento foi antecipado ontem pelo site G1 e
confirmado pelo Estado. A investigação da PF é um desdobramento da Operação
Zelotes.
O grupo de lobistas alvo de inquérito já foi condenado em
outro processo, mas Lula continuou sendo investigado. Caso o Ministério Público
Federal acate a sugestão da PF e denuncie o ex-presidente, Lula poderá se
tornar réu no segundo processo sobre a negociação de MPs – ele já é acusado de
participar em caso envolvendo a Medida Provisória 627/2013, que também
prorrogou incentivos fiscais a montadoras de veículos.
MP do Refis
No entendimento da PF, o ex-presidente praticou o crime de
corrupção passiva ao participar do esquema para aprovação da MP 471, a chamada
MP do Refis.
As empresas do setor teriam negociado pagamentos de até R$
36 milhões a lobistas para conseguir do Executivo um “ato normativo” que
prorrogasse incentivos fiscais de R$ 1,3 bilhão por ano para montadoras
instaladas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Mensagens trocadas entre os envolvidos mencionam a oferta de
propina a agentes públicos para viabilizar o texto, em vigor até o fim deste
ano.
Dilma
Para ser publicada, a MP passou pelo crivo da presidente
Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil. Anotações de um dos envolvidos no
esquema descrevem também uma reunião com o então ministro Gilberto Carvalho,
indiciado ao lado de Lula, para tratar da norma, quatro dias antes de o texto
ser editado.
Um dos escritórios que atuaram para viabilizar a medida fez
repasses de R$ 2,4 milhões a um filho do ex-presidente Lula, o empresário Luís
Cláudio Lula da Silva. A empresa dele foi aberta em 2011, ano em que a MP
entrou em vigor.
Conforme os documentos obtidos à época pelo Estado, a MMC
Automotores, subsidiária da Mitsubishi no Brasil, e o Grupo Caoa pagariam
honorários a um “consórcio” formado pelos escritórios SGR Consultoria
Empresarial, do advogado José Ricardo da Silva, e Marcondes & Mautoni
Empreendimentos, do empresário Mauro Marcondes Machado, para obter a extensão
das benesses fiscais por ao menos cinco anos. Os incentivos expirariam em 31 de
dezembro de 2010, caso não fossem prorrogados.
Após analisar os documentos, e-mails e reuniões entre Lula e
o lobista Mauro Marcondes, a PF entendeu que a as negociações para a negociação
da MP tiveram início em 2009, quando Lula ainda era presidente, e concluiu que
existem “indícios suficientes” da participação de Lula nas tratativas.
Zelotes
Em outra ação derivada da Operação Zelotes, a Justiça
Federal em Brasília aceitou denúncia contra o ex-presidente, Luis Cláudio e
mais dois lobistas. O petista é acusado de negociar e receber R$ 2,5 milhões de
lobistas a pretexto de influenciar a prorrogação, pelo governo, de incentivos
fiscais a montadoras de veículos e a compra dos caças Gripen, da sueca Saab,
por US$ 5,4 bilhões.
Defesas
A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse
nesta segunda-feira, 15, por meio de nota, que “repudia toda e qualquer ilação
sobre o envolvimento dele em atos ilícitos a respeito da edição da Medida
Provisória (MP) 471, alvo da Operação Zelotes”.
“Desconhecemos o documento emitido pela Polícia Federal, mas
reforçamos que Lula foi submetido, nos últimos dois anos, a verdadeira devassa
e nenhuma prova foi encontrada, simplesmente porque não houve de sua parte
qualquer ato de corrupção, ao contrário do que tem afirmado seus acusadores”,
afirma o comunicado, assinado pelos advogados Cristiano Zanin Martins e Roberto
Teixeira, que representam o petista.
A defesa do ex-presidente fala ainda em uma “onda de ataques
que só serve para reforçar” que Lula “é vítima de perseguição política, por
meio de procedimentos jurídicos, prática reconhecida internacionalmente como
lawfare, e que atenta contra o estado democrático de direito”.
Procuradas pela reportagem na noite desta segunda, a Caoa e
a Mitsubishi não responderam aos questionamentos até a conclusão desta matéria.
A reportagem não conseguiu contato ontem com Paulo Ferraz, ex-presidente da
Mitsubishi, nem com o ex-ministro Gilberto Carvalho.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo, via ISTOÉ
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