Da ÉPOCA
O vice-presidente Michel Temer discursava em um palanque em
Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, enquanto um poderoso empresário em ascensão,
com quem tinha excelente relação há cerca de dois anos, assistia sentado a
poucos metros. Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, da gigante de
carnes JBS, estava satisfeito na plateia. Naquele 12 de dezembro de 2012, ele
inaugurava a fábrica de celulose da Eldorado, uma das empresas do grupo, com um
evento no qual ganhava o prestígio do vice-presidente da República e presidente
do PMDB. Temer, por seu lado, também podia dizer-se contente. Cumpria ali um
papel importante para o partido. Hoje, o evento ganha uma conotação diferente.
De acordo com as investigações da Operação Lava Jato, Temer estava ali para
retribuir o pagamento de R$ 33 milhões em propina.
Segundo a delação premiada do corretor Lúcio Funaro,
operador do ex-deputado Eduardo Cunha, um dos mais próximos colaboradores de
Temer durante anos, Temer estava ali “em sinal de agradecimento”. Joesley
pagara propina em troca da obtenção de um crédito de R$ 940 milhões da Caixa,
um domínio do PMDB, para seu empreendimento. Os valores, segundo Funaro, foram
divididos entre Temer e os ex-deputados Henrique Eduardo Alves e Eduardo Cunha,
responsáveis pela intermediação.
Nesta semana, ao apresentar sua segunda e derradeira
denúncia criminal contra o agora presidente Michel Temer, o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, citou a inauguração em Três Lagoas como uma das
provas da atuação de alguns peemedebistas como – nas palavras dele – uma
verdadeira quadrilha nascida e criada nos meandros da política. Vários fatos
como esse, vistos hoje pela ótica revisionista proporcionada pelos resultados
de mais de três anos de investigação do submundo, mudam o entendimento sobre
Temer, Joesley, o PMDB e as conexões íntimas entre a política e o ambiente de
negócios no Brasil nos últimos anos.
Para justificar ao Supremo Tribunal Federal seu pedido para
que Temer seja julgado como partícipe de uma organização criminosa – junto com
mais sete companheiros do PMDB – e por obstrução da Justiça, Janot discorre em
245 páginas sobre a formação e a atuação do grupo. Além de Temer, cita como
participantes do grupo os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha e Henrique
Alves; os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco; o ex-ministro Geddel
Vieira Lima; e o ex-deputado Rodrigo da Rocha Loures, o homem que deu aquela
corridinha puxando uma mala recheada com R$ 500 mil.
No topo da cadeia, segundo Janot, estava Michel Temer, por
ter sido o responsável por acertar a aliança com o governo Lula em 2006 e
obter, assim, o controle sobre a nomeação de aliados a postos-chave na
administração pública. “O papel de negociar os cargos junto aos demais membros
do núcleo político da organização criminosa, no caso do subnúcleo do ‘PMDB da
Câmara’, era desempenhado por Michel Temer de forma mais estável, por ter sido
ele o grande articulador para a unificação do partido em torno do governo
Lula”, escreve Janot. A organização criminosa nasceu no seio do PT e, no
apetite por poder e propina, foi crescendo até engolir o aliado. A denúncia
afirma que o grupo do PMDB da Câmara – a outra “organização criminosa”, o PMDB
do Senado, operava em outra seara, segundo a Procuradoria – embolsou uma
fortuna de R$ 587 milhões em uma década de atuação nos postos que lhe foram
concedidos pelos governos dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma
Rousseff na Petrobras, Caixa, Furnas, Ministério da Integração Nacional,
Ministério da Agricultura e Secretaria da Aviação Civil. A turma operou até na
Câmara dos Deputados, onde é suspeita de vender propostas legislativas.
Leia a reportagem completa na edição de ÉPOCA desta semana
que já está nas bancas e nos aplicativos.
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