Nelson Motta, O Globo
Não são os coxinhas ou mortadelas, comunistas ou
neoliberais, progressistas ou conservadores, não é o Gilmar ou a Lava-Jato. O
inimigo público número um é a corrupção institucionalizada: viramos uma
cleptocracia. O TCU comprovou que cerca de 10% dos benefícios da Previdência
são fraudados, um prejuízo de R$ 56 bilhões, que faz grande diferença no
déficit avassalador que gera a maior parte da dívida da União.
Não é só na Previdência, a sensação é que em qualquer
ministério, autarquia ou agência em que for feita uma auditoria rigorosa e uma
investigação policial profunda surgirão desvios assombrosos. Parece que o
mensalão, o petrolão, a Lava-Jato, o Dnit, a Eletrobras, o BNDES, o Carf, os
fundos de pensão das estatais, as incontáveis operações da Polícia Federal são
apenas as pontas do iceberg da corrupção institucionalizada que congela o
desenvolvimento e a justiça social. Se tornou um modo de vida, uma cultura
nefasta que inviabiliza o progresso da sociedade.
Não, a atual obsessão com o combate à corrupção não é mero
moralismo udenista, como dizem os réus e investigados para tentar minimizar
suas culpas, é o clamor da sociedade por uma ação judiciário-policial-econômica
para proteger o dinheiro do contribuinte e dar mais recursos ao Estado, é o
dinheiro mesmo que interessa. Não é uma caça às bruxas, é um pragmatismo
suprapartidário, por premente necessidade. É o dinheiro que falta para
financiar o desenvolvimento econômico e a justiça social.
Por que no Brasil são tão disputados os postos de fiscal de
qualquer coisa ? Por que os políticos trocam votos para fazer nomeações? Por
que tantos funcionários concursados aderiram a partidos políticos para
facilitar promoções? Por que tantas categorias que servem ao Estado aumentam os
seus salários, se dão vantagens, e nós pagamos a conta?
Diante da evidência e dimensão dos rombos no patrimônio
público, a questão moral é quase secundária, embora seja a causa de todos os
prejuízos: a justiça é lenta, e o fundamental agora é recuperar o dinheiro e
impedir que mais seja roubado. É o moralismo de resultados.
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