sexta-feira, 15 de setembro de 2017

OUTRO ROCK IN RIO

Em 1984, o assunto do momento era o Rock in Rio. Até Leonel Brizola, então governador do Rio de Janeiro, confirmou sua presença no evento, acompanhado de Dona Neuza Brizola, como registrou o “Jornal do Brasil” em 21 de dezembro de 1984. Mas a simpatia de Brizola com o festival de roqueiros não duraria muito. Durante o evento, o político nem passou perto do local.
Segundo o escritor Nelson Motta, autor do livro “Noites Tropicais”, o governador do Rio de Janeiro detestava rock, tido por ele como instrumento de dominação americana e canto da sereia do imperialismo para seduzir os jovens e “desviá-los da construção do socialismo moreno.”
Reportagem da Folha registrou quais os motivos da mudança de opinião do governador e o que motivou Brizola a desconfiar do Rock in Rio. Segundo o governador, no dia 15 de janeiro, exatamente quando se votava no Colégio Eleitoral –que elegeu Tancredo Neves–, o deputado Rubem Medina, irmão de Roberto Medina, empresário da Artplan que organizou o festival, afirmou perante outros deputados: “Vocês vão ver. Nós vamos jogar essa mocidade toda contra o Brizola. Se ele pensa que nós vamos deixar aquele lugar, está muito enganado. Eu vou colocar toda essa juventude na TV contra ele”.
Em 24 de janeiro, irritado, Leonel Brizola reagiu. “A concessão do local é precária, por tempo determinado. É um gesto de boa vontade de nossa parte”, disse, ao tratar da condição da Cidade do Rock, construída pela Artplan, empresa de Roberto Medina, para abrigar os dez dias do festival Rock in Rio. “Os Medina, eu os chamo assim porque se trata de um clã, se estabeleceram naquela área, sem sequer fazer uma consulta ao poder público”, continuou o governador.
Artistas fizeram protesto contra o fim da Cidade do Rock. Ivan Lins e Gilberto Gil participaram de uma manifestação em frente ao palco do rockódromo, onde os dois cantaram em janeiro, durante o Rock in Rio. Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, e Elba Ramalho classificaram a decisão do governador como um absurdo. Ao afirmar que todo mundo ganhou com o megaevento, inclusive o Estado, Lulu Santos colocou-se totalmente contra Brizola, que disse que empresários e rockeiros estavam fazendo onda.
A verdade é que já estava decidido, Leonel Brizola –contrariando até sua filha, a futura roqueira Neusinha Brizola–  resolveu derrubar a Cidade do Rock após o evento, não tinha jeito. A desmontagem das instalações começou em fevereiro de 1985. A desativação do local estava prevista em uma das cláusulas do termo de obrigações assinado entre a Prefeitura do Rio e a Artplan. O prefeito Marcelo Alencar até admitiu a possibilidade de um novo festival, mas, como todos viram, Brizola se recusou a renovar a licença para a manutenção da Cidade do Rock.
Numa passagem do livro de Nelson Motta, o autor fala sobre a tentativa de acordo proposta por assessores mais jovens de Leonel Brizola:
“’O senhor poderia ser mais moderno, governador.’
‘E você, quer o quê? Que eu queime um fuminho?’. Devolveu Brizola com seu sotaque gaúcho, para gargalhadas gerais.”
OLHA ELE AÍ
Em 1985, João Doria, então presidente da Paulistur, conversou com Roberto Medina, da Artplan, para uma futura realização do megaevento em São Paulo, um possível Rock in Sampa. “Todos iriam lucrar: os hotéis ficariam cheios, como também restaurantes, lanchonetes e até os marreteiros teriam suas chances”, disse o presidente da Paulistur. Na época, o prefeito Mário Covas mostrou simpatia pela ideia.
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