Em 1984, o assunto do momento era o Rock in Rio. Até Leonel
Brizola, então governador do Rio de Janeiro, confirmou sua presença no evento,
acompanhado de Dona Neuza Brizola, como registrou o “Jornal do Brasil” em 21 de
dezembro de 1984. Mas a simpatia de Brizola com o festival de roqueiros não
duraria muito. Durante o evento, o político nem passou perto do local.
Segundo o escritor Nelson Motta, autor do livro “Noites
Tropicais”, o governador do Rio de Janeiro detestava rock, tido por ele como
instrumento de dominação americana e canto da sereia do imperialismo para
seduzir os jovens e “desviá-los da construção do socialismo moreno.”
Reportagem da Folha registrou quais os motivos da mudança de
opinião do governador e o que motivou Brizola a desconfiar do Rock in Rio.
Segundo o governador, no dia 15 de janeiro, exatamente quando se votava no
Colégio Eleitoral –que elegeu Tancredo Neves–, o deputado Rubem Medina, irmão
de Roberto Medina, empresário da Artplan que organizou o festival, afirmou
perante outros deputados: “Vocês vão ver. Nós vamos jogar essa mocidade toda
contra o Brizola. Se ele pensa que nós vamos deixar aquele lugar, está muito
enganado. Eu vou colocar toda essa juventude na TV contra ele”.
Em 24 de janeiro, irritado, Leonel Brizola reagiu. “A
concessão do local é precária, por tempo determinado. É um gesto de boa vontade
de nossa parte”, disse, ao tratar da condição da Cidade do Rock, construída
pela Artplan, empresa de Roberto Medina, para abrigar os dez dias do festival
Rock in Rio. “Os Medina, eu os chamo assim porque se trata de um clã, se
estabeleceram naquela área, sem sequer fazer uma consulta ao poder público”,
continuou o governador.
Artistas fizeram protesto contra o fim da Cidade do Rock.
Ivan Lins e Gilberto Gil participaram de uma manifestação em frente ao palco do
rockódromo, onde os dois cantaram em janeiro, durante o Rock in Rio. Herbert
Vianna, dos Paralamas do Sucesso, e Elba Ramalho classificaram a decisão do
governador como um absurdo. Ao afirmar que todo mundo ganhou com o megaevento,
inclusive o Estado, Lulu Santos colocou-se totalmente contra Brizola, que disse
que empresários e rockeiros estavam fazendo onda.
A verdade é que já estava decidido, Leonel Brizola
–contrariando até sua filha, a futura roqueira Neusinha Brizola– resolveu derrubar a Cidade do Rock após o
evento, não tinha jeito. A desmontagem das instalações começou em fevereiro de
1985. A desativação do local estava prevista em uma das cláusulas do termo de
obrigações assinado entre a Prefeitura do Rio e a Artplan. O prefeito Marcelo
Alencar até admitiu a possibilidade de um novo festival, mas, como todos viram,
Brizola se recusou a renovar a licença para a manutenção da Cidade do Rock.
Numa passagem do livro de Nelson Motta, o autor fala sobre a
tentativa de acordo proposta por assessores mais jovens de Leonel Brizola:
“’O senhor poderia ser mais moderno, governador.’
‘E você, quer o quê? Que eu queime um fuminho?’. Devolveu
Brizola com seu sotaque gaúcho, para gargalhadas gerais.”
OLHA ELE AÍ
Em 1985, João Doria, então presidente da Paulistur,
conversou com Roberto Medina, da Artplan, para uma futura realização do
megaevento em São Paulo, um possível Rock in Sampa. “Todos iriam lucrar: os
hotéis ficariam cheios, como também restaurantes, lanchonetes e até os
marreteiros teriam suas chances”, disse o presidente da Paulistur. Na época, o
prefeito Mário Covas mostrou simpatia pela ideia.
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