Da VEJA
Por que a senhora decidiu se candidatar à Presidência? Foi
por uma questão de ativismo político. Diante das coisas que estão acontecendo e
inundando o noticiário, eu me vi na obrigação de me colocar como uma via de
reação. Nunca tive pretensão de carreira política antes, especialmente por
entender que a política sempre foi determinada pelo poder econômico. Ou seja,
sem dinheiro não se elege ninguém – pelo menos até agora. Mas, hoje em dia, a
gente tem outras ferramentas, como a internet, que garantem um debate mais
profundo. E por isso decidi me pré-candidatar. A candidatura à Presidência me
dá um espaço maior para o debate que uma candidatura a deputada – embora muitos
partidos já me tenham me oferecido a chance de concorrer a deputada e a
senadora antes disso tudo, e eu nunca aceitei. Meu objetivo é discutir, debater
e oferecer minhas ideias nesse espaço da Presidência.
Como pessoas que não são ligadas à política, caso da
senhora, poderiam ajudar o país? Acho importante que as pessoas se arrisquem e
se disponham a ser representantes daqueles que não se sentem representados.
Desde a eleição do Collor (o ex-presidente Fernando Collor de Mello, eleito em
1989) que eu venha votando no candidato menos pior. Não me sinto representada
por nenhum político.
Como a senhora poderia contribuir para tirar o país da
crise? Eu sou uma comunicadora e acho que o país precisa entender que partidos
não são times de futebol, com essa coisa de você ter de estar de um lado ou de
outro. Precisamos ter consciência política, perceber que a política está em
nosso cotidiano. Posso oferecer a interlocução direta que a gente perdeu entre
o povo e os representantes do governo.
Quais suas bandeiras políticas? A principal é a diminuição
da desigualdade social. Isso inclui diversos debates sobre educação,
meio-ambiente e infraestrutura. Eu não acredito que o aborto seja uma coisa que
a mulher queira fazer, que ela opte por ele. Mas, às vezes, a situação impõe a
ela essa escolha e acho que a mulher tem todo o direito de escolher o que fazer
com o próprio corpo. Com relação à escola sem partido, eu também falo que a
escola deve dar aos alunos a capacitação para desenvolver as próprias
convicções, e não fazer um doutrinamento partidário. A gente tem que estimular
o pensar. A liberação da maconha também tem de ser uma questão bem estudada.
O que sua família achou da candidatura? Eles ficaram
divididos. Tem uma parte que me apoiou 100%, mas outros familiares ficaram
muito preocupados com toda a exposição que eu teria ao me envolver com uma
classe, no mínimo, tão desprestigiada como a classe politica. Falei com amigos
próximos e pessoas desconhecidas, pois queria ouvir o público, para ter um
termômetro de como seria a reação das pessoas. E foi muito mais positiva do que
eu imaginei. Não imaginava que a reação ao vídeo que postei anunciando a
intenção de concorrer seria tão grande. Lógico que existe tudo quanto é tipo de
comentário. Alguns disseram: “Antes você era bonita, agora está um bagulho” ou
“ainda é pegável, mas que não voto em você.” Mas tem muita gente que fala que
eu sou uma esperança para o futuro. Um parente do (deputado e pré-candidato
Jair) Bolsonaro veio me congratular pela iniciativa. Não acho que estes
comentários machistas mereçam resposta. Eu quero debater com pessoas que saibam
pelo menos conversar de maneira respeitosa.
Algum partido politico já a contatou? Sim. Estou em contato
com cinco siglas. Ontem (terça-feira, 26) eu me encontrei com duas, mas se a
regra de filiação não for mudada, ainda tenho bastante tempo para me decidir.
Prefiro deixar os partidos que me procuraram no anonimato por enquanto, mas
estou mais inclinada para dois desses cinco. Nós ainda estamos nos paquerando,
nos conhecendo melhor.
A senhora se considera de esquerda ou de direita? Eu me
considero representante de um centro humanista, ou centro-esquerda, uma
esquerda light. Esquerda light por que eu sou avessa a qualquer coisa que seja
reacionária, tanto de direita quanto de esquerda. Precisamos manter a
capacidade e a consciência de conversar, ouvir e de até mudar de opinião. A
gente não pode deixar a racionalidade de lado.
Se caso ganhasse a eleição, o que a senhora faria de
diferente dos outros presidentes que já tivemos? Se eu ganhasse é um caminho
muito longo. Já seria uma grande vitória se eu conseguisse um partido e pudesse
concorrer às eleições. Estou desenhando um plano de governo com uma equipe que
ainda não está completa. Muitas pessoas capacitadas, técnicas em várias áreas,
se comprometeram a ajudar caso eu tenha condição de concorrer. Enquanto isso,
eu quero escutar a sociedade e as pessoas que tenham conhecimentos para
compartilhar comigo. Tenho muito o que aprender, mas normalmente eu aprendo
rápido.
Com quem a senhora gostaria de ir ao segundo turno? Eu
realmente venho para me colocar como uma alternativa, então para mim não faz
muita diferença. Mas acho que o Bolsonaro, além de render uma boa disputa,
traria um componente de gênero importante.
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