Artigo de Xico Graziano, PODER 360
A decepção com Aécio não explica toda a tragédia do PSDB
Graves turbulências ameaçam arrasar o PSDB. Assim como os
aviões nunca caem por apenas uma razão, vários fatores enfraqueceram a
socialdemocracia brasileira. Destaca-se o desencanto com Aécio Neves.
Credenciado para assumir a presidência da República, jovial,
articulado, o Senador mineiro não correspondeu à grande expectativa que o país
lhe depositou. Sua derrota em Minas Gerais, na eleição de 2014, expôs
inimaginável fraqueza em sua brilhante trajetória. Sintoma de grave enfermidade
política.
Virado o ano, Aécio não conseguiu, até parece que nem
tentou, liderar a oposição ao governo Dilma. Decepcionou. Vindo o impeachment,
teve influência decisiva no apoio do PSDB ao governo Temer. Deu errado.
Denunciado na Lava Jato, enredou-se na trama urdida pela bandidagem ligada ao
poder carcomido. O vídeo da JBS deu-lhe o golpe final na credibilidade.
Eu sempre imaginei Aécio Neves ocupando, um dia, o Palácio
do Planalto. Trabalhei por isso, desde sua eleição para a presidência da Câmara
dos Deputados. Acreditei em seus propósitos. Entristeço-me agora ao vê-lo
desmoralizado. E me decepciono com suas atitudes.
Eu preferia assisti-lo fazendo uma autocrítica, reconhecendo
seus erros, explicando seus motivos e se desculpando à nação. Deixaria o
comando do PSDB para se defender. Mas não. Aécio prefere juntar-se à tropa dos
denunciados, notórios personagens da endêmica corrupção organizada na era
lulopetista. A cada lance dessa saga que a todos atormenta, mais afunda o PSDB
na lama.
A decepção com Aécio não explica toda a tragédia do PSDB.
Como pode Gustavo Franco deixar o partido que, comandado por FHC, estabilizou a
economia e colocou o país nos trilhos do desenvolvimento? Como que o partido de
Mário Covas, José Richa, Franco Montoro e Artur da Távola, para falar dos que
se foram, se tornou tão rejeitado?
Difíceis e doídas são as respostas. Mas elas precisam ser
buscadas, e ditas abertamente, conforme propõe Tasso Jereissati. Inexiste
alternativa ao PSDB que não seja sua total renovação. Mudança de pessoas, de
práticas e de ideias. Chegou a hora da ruptura com o passado, de esquecer essa
história de esquerda e direita, de superar seu confronto ideológico com o PT.
Cabe ao PSDB elaborar um novo programa, reinventar-se para (re) conquistar a
sociedade.
O PSDB deveria também mudar de nome. A socialdemocracia perdeu
a validade, aqui e em todo o mundo. Conectada, a sociedade do século 21 cultua
as liberdades individuais, gosta da disputa no mercado, quer reduzir o poder do
Estado, ter mais direito de escolha. Sim, ainda há muitas injustiças sociais,
cabendo espaço às políticas públicas. Não mais, todavia, para manipular
consciências. Chega do vil populismo.
Há uma nova agenda rolando na sociedade. Temas recentes se
incluem na pauta do futuro: economia de baixo carbono, vida saudável, obesidade
da população, domínio do crime organizado, drogas alienando a juventude,
ocupação produtiva na velhice, tecnologias robotizadas deslocando o emprego,
ferramentas de internet turbinando a criação de valor.
Tantas coisas importantes acontecendo no Brasil, e o PSDB
perdido, olhando para seu umbigo, afundando-se. É triste, mas é a realidade.
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