Se vivesse no mundo da fábula, o candidato do PDT à
Presidência, Ciro Gomes (PDT), seria o escorpião. Reza a história que o
escorpião pediu ao sapo que o transportasse de uma margem a outra de uma lagoa.
No meio do caminho, porém, o escorpião ferroou o sapo, inoculando nele o seu
veneno. Questionado da razão de tal gesto, o escorpião disse ao sapo: “É da
minha natureza”. Na sequência, ambos morreram afogados.
Em 2002, então como candidato à Presidência pelo PPS, Ciro
pareceu ter chances de vitória até começar a proferir frases absurdas e bater
boca com eleitores e jornalistas. Perdeu-se de vez ao responder que a função de
sua mulher à época, a prestigiada atriz Patricia Pillar, na campanha era
“dormir com ele”. Agora, desde o início Ciro foi alertado da necessidade de se
conter. Ele mesmo prometeu que faria isso. Mas prevaleceu a natureza do
escorpião. E Ciro, graças ao veneno de sua língua, corre o risco de morrer
novamente afogado em uma disputa presidencial.
O problema maior de Ciro é quando a falta de controle de sua
língua expõe um perigoso viés autoritário. Foi o que aconteceu na terça-feira
24, quando Ciro perdeu as estribeiras numa entrevista a uma emissora de TV no
Maranhão. Ciro afirmou que somente uma vitória sua nas eleições de outubro
daria chances de Lula sair da cadeia. “O Lula tem alguma chance de sair da
cadeia? Nenhuma. Só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder e
organizar a carga. Botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o
Ministério Público para voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do
poder político”, disse Ciro. Na quarta 25, ele disse que foi mal interpretado.
É o que alega até hoje sobre a frase de Patricia Pillar.
Pendor totalitário
A leitura do que disse Ciro, sem maiores necessidades de
interpretação, demonstra considerável pendor por soluções não democráticas no exercício
do poder. Quem condena e absolve, prende ou solta Lula ou qualquer outro
cidadão no Estado Democrático de Direito não é o presidente da República, é o
Poder Judiciário nas suas variadas instâncias. A “caixinha” do juiz não é no
Poder Executivo, e, numa democracia, não há hipótese de um magistrado ser
enquadrado por um presidente da República. Já o Ministério Público, conforme a
Constituição de 1988, é uma instituição independente de qualquer poder, e essa
independência é indispensável para que ele exerça seu poder de fiscalização em
nome da sociedade. Um presidente, na democracia, precisa respeitar os limites e
a autoridade das demais instituições e poderes. É tudo o que Ciro parece
desconhecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário