Se o ambiente de ódio que tomou conta do país traz um risco
de explosão iminente, há cenários na disputa eleitoral que mantêm aceso esse
rastilho de pólvora. Desses cenários, o mais evidente é um possível segundo
turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Seria a representação
da polarização que tomou conta do país. Seu resultado provavelmente geraria
ressentimentos no grupo derrotado. Seria grande o potencial de manutenção da
alta ebulição política que hoje aflige o país. Nesse sentido, vários eleitores
começam a considerar a hipótese de, já no primeiro turno, escolherem não
exatamente o candidato de suas convicções ideológicas. Mas aquele que pareça
estar mais próximo delas. E, principalmente, de vencer o adversário que, na sua
ótica, representa o mal maior. Em suma, o voto útil.
O raciocínio do voto útil está por trás da melhora nos
desempenhos de Ciro Gomes (PDT) e de Geraldo Alckmin (PSDB), anotados nas
últimas rodadas das pesquisas do Ibope e do Datafolha. Divulgada na
segunda-feira 10, a pesquisa do Datafolha frustrou quem imaginava um grande
crescimento de Bolsonaro após a facada sofrida. Ele oscilou dentro de margem de
erro, de 22% para 24%. Sua rejeição cresceu, e ele apareceu perdendo no segundo
turno para todos os principais candidatos. Divulgada na terça 11, a pesquisa do
Ibope já lhe deu algum alento. Ele apareceu com 26%. No segundo turno já
aparece à frente de Haddad, mas empatado com Marina Silva (Rede).
Olho no 2º turno
Qualquer que seja o cenário, porém, as pesquisas apontaram
crescimento maior de Ciro Gomes e também de Alckmin, enquanto que Marina caiu. Anotam
uma ascensão de Haddad, agora formalizado como o candidato do PT, mas
demonstram também alta rejeição e dúvidas sobre sua capacidade de vencer
Bolsonaro no segundo turno. São tais situações que têm levado o eleitor mais à
esquerda a considerar a hipótese de votar em Ciro, desprezando Marina, e o
eleitor mais ao centro e à direita a pensar em votar em Alckmin, abandonando
candidaturas como de Meirelles e Alvaro.
Nos programas eleitorais, Alckmin deverá seguir nessa
tônica. Os ataques que já vinham contra Bolsonaro devem se somar a ataques ao
PT. Em um caso, a campanha expõe as fragilidades de Bolsonaro e, por outro,
ataca o perigo do retorno da crise que marcou o final da gestão de Dilma
Rousseff, que seria o risco da volta do PT ao poder. No caso de Ciro, o caminho
é reforçar seus posicionamentos no sentido de ter se mantido leal a Lula no
processo da sua condenação, tentando atrair votos lulistas. O voto tomado pela
racionalidade, o chamado voto útil, é o que vai ocupar a estratégia dos
eleitores nos próximos dias na busca pelo candidato considerado por ele como o
menos pior.
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