Marina
Silva (Rio Branco, 1958) enfrenta sua terceira campanha eleitoral à
presidência do Brasil com estoicismo. Com menos recursos e menos estrutura
partidária do que em 2014 e com trajetória de queda nas pesquisas nesta semana
(média
de 11,5% agora), diz estar sendo oprimida pelas circunstâncias do sistema
político. "É agora que o jogo vai começar", se anima, no entanto, ao
falar a respeito da definição da candidatura de Fernando Haddad pelo PT. A
escolha encerra, segundo ela, uma "blindagem pela ausência" de seu
antigo partido.
A possibilidade de migração de votos lulistas para ela é uma
principais fontes potenciais de crescimento para sua campanha. Se esse apoio
vier, frisa ela, terá de vir sem concessões ou acenos de qualquer tipo.
"Não posso ser conivente com erro do Lula ou de quem quer que seja para
poder ganhar os votos."
A ambientalista da Rede conversou com o EL PAÍS em um
restaurante do aeroporto de Congonhas, na quarta-feira, entre agendas pelo
país, penosamente cumpridas em voos de carreira. Falou por pouco mais de uma
hora –e conquistou ao menos três votos de funcionários do restaurante, que
vieram cumprimentá-la ao final da entrevista. "No meu caso fica difícil
apresentar as propostas porque eu só tenho 20 segundos, mas eu espero que dessa
vez a consciência dos brasileiros seja maior do que a força do dinheiro."
Pergunta. A que você atribui a queda nas
pesquisas, em especial entre as mulheres, para quem sua campanha tem
direcionado o discurso nos últimos dias?
Resposta. Não é nos últimos dias. Meu
compromisso com as mulheres é um compromisso da vida. Não é uma estratégia
eleitoral. Essa é a primeira vez que tem uma oscilação e é muito interessante
que, durante esse tempo todo, mesmo com um partido pequeno, mesmo sem estrutura
de dinheiro, a gente venha mantendo uma disputa de igual para igual com os
grandes partidos. Na primeira vez em que acontece uma oscilação, já vai se
criando uma narrativa, como
se isso tivesse já uma tendência estabilizada. Não é. É apenas um retrato
de um momento. Até porque é agora que o jogo vai começar. Porque até então a
candidatura do Partido dos Trabalhadores estava blindada pela ausência.
Blindada dos debates, de ter que explicar para a sociedade brasileira os graves
problemas de corrupção, porque nós deixamos de ser o país do pleno emprego para
um de 13 milhões de desempregados.
Todos os problemas que estamos vivenciando. E nós vamos continuar fazendo nosso
trabalho. Dialogando com as pessoas, apresentando nossas ideias, viajando o
Brasil inteiro. Mesmo que seja mais difícil, porque a gente faz nossa campanha
em avião de carreira. Nossos adversários, com quase meio bilhão de reais,
conseguem fazer 2, 3 Estados por dia, de jatinho. Então, há dificuldades de
estrutura nesse processo. Como
as mulheres estão sendo mais cautelosas, elas precisam ter contato com as
propostas. E no meu caso fica difícil também apresentar as propostas porque eu
só tenho 20 segundos. Esses fatores obviamente tem um peso, mas eu espero que
dessa vez a consciência dos brasileiros seja maior do que a força do
dinheiro.
P. Faltam 25 dias de campanha. Com todas essas
dificuldades, dá tempo de entregar essa mensagem e passar para o segundo turno?
A essa altura, em 2014, você tinha 30% de apoio...
R. Eu não sei se dá tempo, eu só sei que eu
tento de manhã, de tarde e de noite. Há uma tendência em transformar a eleição
em um plebiscito baseado em pesquisa, que passam a ser um termômetro para
influenciar a decisão do eleitor, sobretudo para jogar com o voto útil. Mas
essa postura transformou os resultados políticos em algo muito inútil para a
sociedade brasileira. A grande dificuldade é que, se em 2014 eu tive um
bloqueio pela agressividade política, a violência, a desconstrução da campanha
da Dilma, e pelo abuso do poder econômico do dinheiro da corrupção, agora esse
bloqueio foi antecipado com uma mudança na legislação para que o dinheiro
ficasse nas mãos dos grandes partidos e o tempo de televisão ficasse nas mãos
dos grandes partidos. O meu esforço é provar que a consciência dos brasileiros
é maior do que o dinheiro. É nisso que eu vou continuar persistindo, para que
mais e mais pessoas possam se descolar dessa ideia de dar o seu voto em função
de aderências cativas a esse ou aquele grupo independentemente dos feitos desse
grupo e de suas lideranças.
P. Sem Lula, uma parte expressiva do eleitorado
dele escolhe você. Por que essas pessoas devem escolher você e não Fernando Haddad? O que
diria a esse eleitor lulista?
R. Não vamos tratar o povo brasileiro como se
fosse propriedade do Lula. A gente não pode discutir uma eleição disputando os
votos como se eles fossem privatizados por uma pessoa ou por um partido. Eu
estou dialogando com os cidadãos.
P. Estou falando de escolha pragmática que leva
ao voto, das pessoas que falam: "Escolho Lula porque minha vida era boa na
época dele por isso e aquilo". O que senhora tem a dizer a esse lulista?
R. Eu tenho a dizer que as políticas sociais
serão melhoradas e que serão feitas sem roubo. Porque quando não se rouba, é
possível fazer mais e melhor. É isso que eu vou dizer e estou dizendo para a
população brasileira. Talvez isso não tenha uma aderência fácil, mas isso que
precisa mudar no Brasil. A cultura do "rouba, mas faz", do
"rouba, mas é de direita", do "rouba, mas é de esquerda",
do "rouba, mas faz reformas". Estão banalizando algo que não pode ser
banalizado. Eu vou dizer para as pessoas que eu tenho compromisso com o Bolsa
Família, mas o Bolsa Família como direito, não como favor. Eu tenho compromisso
com as cotas, como um direito, não como um favor. Eu quero que os brasileiros
sejam pessoas livres para dar seu voto a quem elas desejarem. Não posso ser
conivente com erro do Lula ou de quem quer que seja para poder ganhar os votos.
Eu quero que os votos venham a partir de uma
visão crítica de tudo isso que levou o país para essa situação. Isso não é
uma obra do Temer. Isso é uma obra dos Governos do PT, desde que a Dilma ganhou
em 2010 esse processo de degradação das políticas vem acontecendo no Brasil. O
Temer é uma continuidade do Governo da Dilma. Foi ela que o colocou na linha
sucessória. O roubo na Petrobras, no Banco do Brasil, na Caixa Econômica, nos
fundos de pensão, em Belo
Monte isso é algo que não pode ser banalizado em troca de voto. Eu
quero que o Brasil faça uma mudança e coloque esses partidos pelo menos de
férias por quatro anos para a gente poder fazer uma transição para um outro
patamar de governança.
P. Você mencionou o desemprego. No seu projeto,
vislumbra que voltaremos ao pleno emprego? Como vai trabalhar a recuperação de
emprego?
R. A primeira coisa é recuperar a credibilidade.
Hoje o Brasil não tem investimento interno nem externo. Tudo está parado no
Brasil. Porque não há credibilidade e não há confiança. Com o Governo que está
aí? Nem uma chance. Também há uma grande incerteza, porque se foi para uma
polarização insana no país. Todo mundo sabe que, se esses grupos continuarem, a
instabilidade política vai permanecer. A única forma de sair disso é ter uma
transição de quatro anos com alguém que seja capaz de unir o Brasil, que seja
capaz de recuperar o legado do Plano Real, o legado das políticas sociais,
agregar a isso o desafio de um novo ciclo de prosperidade com sustentabilidade
ambiental e poder levar o Brasil para um outro patamar político de governança.
Não é mais a governança com base na compra do voto, do aliciamento. É um
governo de proposição, e eu vou governar unindo o Brasil. Sei que estou pronta
para isso. Estou dizendo isso desde 2010. Eu não tenho preconceito nem com o
legado do PT na área social nem com o legado do PSDB na área econômica. Não
acho que todas as pessoas desses partidos se corromperam. Existem pessoas boas
e estou disposta a falar com todas elas, mas o parâmetro não vai ser mais a
lógica do partido que corrompe, que põe os piores quadros para que sejam eles o
operadores do sistema criminoso que a Lava Jato está
desmontando e ou ao menos tentando desmontar.
P. Você fala em recuperar a credibilidade, mas,
a partir daí, é infraestrutura, é agricultura? Quais setores são cruciais para
a retomada econômica?
R. O Brasil tem a possibilidade de caminhar
utilizando suas principais potencialidades. Nós temos uma grande capacidade de
exportar serviços, de exportar produtos e commodities agrícolas
e minério, desde que em bases sustentáveis. É com essas possibilidades que eu
vou trabalhar para que o Brasil se integre cada vez mais às cadeias produtivas
globais de valor. Nós temos um vício de uma indústria que foi se acostumando
aos subsídios do governo, que não criou uma base competitiva para pode se
firmar. Hoje, a própria indústria tem essa consciência. E o Governo não pode
mais continuar fazendo isenções. Não pode continuar com a
indústria do Refis, do perdão ou renegociação de dívidas. Nós estamos em
crise. Precisamos cortar o dreno da corrupção, usar com eficiência o dinheiro
público, fazer uma avaliação de desempenho de projetos, de programas, que na
maioria das vezes só servem para ter meia dúzia de quadros fisiológicos para
ficar utilizando esses recursos como base eleitoral ou como dinheiro para suas
campanhas milionárias. Se o Brasil não chegar a isso, estamos hoje no fundo do
poço e vamos para um poço sem fundo. Até porque todos esses partidos, PT, MDB,
PSDB e DEM, todos têm o compromisso entre eles: quem ganhar vai tentar acabar
com a Lava Jato. É por isso que eles fizeram um grande acordo para que o fundo
partidário e eleitoral ficasse com eles, que o tempo de televisão ficasse com
eles. Porque eles sabem que qualquer um deles que ganhar vai trabalhar com
muita competência para acabar com a Lava Jato.
P. Você elogia a Lava Jato, mas a operação
demonstrou também ter limites. Atingiu alguns grupos mais que o outros. Com o
apoio do Congresso, Temer se protegeu.
R. Mas isso não é a Lava Jato. Isso
é um problema do foro privilegiado. Quem blindou o Temer foi o Congresso e
a Lava Jato não manda no Congresso. Vou acabar com o foro privilegiado.
P. Mas para acabá-lo terá que passar pelo
Congresso. A
previsão de analistas é que o próximo Congresso não será muito diferente do
atual, especialmente pelos motivos que você falou: concentração de recursos
na mão dos partidos, etc.
R. Você acha, então, que, nesse caso, a gente
deve se conformar, cruzar os braços? Ninguém pode fazer nada? Eu não acredito
nisso. Eu luto contra isso. A Lava Jato vem fazendo seu trabalho. Ela vinha
sendo sabotada pelo Governo do PT e no Governo do Temer e, se um desses ganhar,
vai continuar sendo sabotada. O que nós defendemos, nós da Rede, é o fim do
foro privilegiado. É isso que se faz com que não se tenha a situação dos
que não têm foro –sejam empresários ou políticos– estejam sendo punidos, os que
têm estão sendo protegidos. E, por incrível que pareça, uns apoiando os outros.
Por exemplo, quando o Supremo encaminhou o afastamento do Aécio Neves, quem
fez uma carta contra o afastamento do Aécio? Vocês sabem? O Partido
dos Trabalhadores. Por quê? Porque eles se protegem nesse quesito.
P. Mas, concretamente, qual sua expectativa sobre a eleição
do Congresso?
R. Eu aposto que a sociedade brasileira tem uma chance de
melhorar muito esse Congresso e se eleger um Governo que não seja conivente com
os 200 investigados que ali estão a gente pode alterar significativamente o
quadro. Agora, se eleger um representante dos partidos que são coniventes, aí
sim, o problema será aprofundado. É preciso ir progressivamente quebrando a
coluna vertebral da corrupção institucional. A corrupção no Brasil foi
institucionalizada. Ela é operada de dentro das instituições. É por isso que a
maioria dos candidatos investigados são candidatos à reeleição. Uma boa dos que
eram senadores estão saindo como deputados só para não perder o foro
privilegiado e eles torcem para que o Governo esteja na mesma situação que eles
para poderem serem cúmplices no combate das medidas que estão ajudando a
desvendar os casos de corrupção. Até estão com leis para facilitar a corrupção:
por exemplo, a anistia do caixa 2. Caixa 2 deve ser criminalizado. Lei de abuso
de autoridade para intimidar o Ministério Público, a Polícia Federal, que são
autônomos como uma conquista da Constituição de 1988. A maioria dos partidos
que estão sendo investigados lutaram para que isso acontecesse. Agora que eles
estão sendo investigados, eles estão ameaçando tirar autonomias dos órgãos de
controle.
P. A senhora acha que há exageros na Lava Jato, como apontam
alguns especialistas e juristas?
R. Se você me der alguns exemplos, talvez me ajude a
raciocinar.
P. A crucial divulgação dos áudios de Lula e Dilma pelo juiz
Sérgio Moro, por exemplo, recebeu críticas até do então ministro do Teori
Zavascki , e por parte da comunidade jurídica. Além de tudo, havia trechos de
conversas privadas, por exemplo. A própria chicana solta ou não Lula. analistas
apontam falhas não só na atuação do desembargador que deu o habeas corpus para
Lula, mas de outros.
P. Não é uma questão que concerne apenas ao PT. O Judiciário
também perdeu credibilidade perante uma parcela da sociedade. A senhora
concorda ou não com as críticas à Lava Jato?
R. A Justiça tem seus mecanismos de controle. A Operação
Lava Jato acertou em todos os casos que ela foi dizendo que tinha casos de
corrupção. É um trabalho primoroso que vem sendo feito, mesmo sendo bloqueado
pelas forças mais poderosas do ponto de vista econômico, político e do ponto de
vista da capacidade de influenciar a opinião pública. Eu fico imaginando porque
as pessoas não se atém aos conteúdos que foram revelados. Eu fico imaginando se
as pessoas não soubessem de nada disso, que isso tivesse sendo feito e a gente
não tivesse nenhuma informação, que a imprensa livre não tivesse dando
informação para as pessoas. As pessoas ficam vendo as maiores lideranças da
República avisando aos investigados. A presidenta Dilma falando para alguém que
avisasse à Mônica (Santana), para que se avisasse ao João Santana (segundo a
delação dos marqueteiros). Quando se está num cargo da República não é para sabotar
a República. É para proteger a República.
P. A senhora falou que o presidente Lula é corrupto. A
senhora crê, portanto, que há provas suficientes e claras contra ele na Lava
Jato para essa afirmação.
R. Houve uma condenação em segunda instância. O presidente
Lula teve acesso aos melhores advogados desse país. Recorreu em todas as
instâncias e há uma condenação de segunda instância. Não posso ter dois pesos e
duas medidas. Se você me perguntar se eu desejo que essas lideranças políticas
tivessem se envolvido em corrupção? Eu gostaria que nada disso tivesse
acontecido. Se cometeu erro, se está comprovado, se teve a mais ampla defesa,
nós não podemos criar uma situação que alguns estão acima da lei.
P. E sobre seus concorrentes atuais, o que a senhora diz em
relação a corrupção?
R. Dos concorrentes atuais, há pelo menos dois que não foram
pegas na Lava Jato, o Alvaro Dias (citado em delações) e Ciro Gomes. E eu não
vou mentir sobre ninguém. Não faço campanha desconstruindo a biografia de
ninguém, mesmo dos meus mais ferozes adversários.
P. Caso do reitor da Universidade de Santa Catarina que se
matou após ser detido acusado de obstruir uma investigação (que depois acabaria
rejeitada pela Justiça) se tornou emblemática das críticas sobre os supostos
excessos. Isso não chama sua atenção?
R. Com certeza. Por isso existe o Conselho Nacional de
Justiça para poder fazer todas as correções de rumo. Não vejo Justiça como
vingança, é um ato necessário de reparação. É por isso que eu não fico
tripudiando de quem está preso. Nem empresário nem político. Em uma democracia
civilizada você não ficar tripudiando de presos. Eles já estão entregues ao
Estado. A gente tem que ter todo o zelo para que não haja nenhuma extrapolação
nem para inocentar culpados ao arrepio dos autos, nem para condená-los ao
arrepio dos autos. Os mecanismos de controle estão aí para isso e devem ser
cobrados para que façam isso. Não se pode ter dois pesos e duas medidas. Quem é
rico demais? Acima da lei. Quem é poderoso demais? Acima da lei. Popular
demais? Acima da lei. Ninguém está acima da lei.
P. Recentemente um colaborador proeminente seu, Eduardo
Gianetti, foi falar a estudantes em nome da campanha e disse que o país não
deve "macaquear" políticas estrangeiras de cotas raciais. A senhora
está comprometida com as cotas? Não causa ruído?
R. Estou totalmente comprometida. Essa é uma opinião pessoal
dele. Na minha campanha tenho colaboradores e, como eu disse, as pessoas têm
pensamento livre. É a posição dele. O meu programa de Governo claramente
defende as cotas, porque elas são uma forma de reparar injustiças históricas
cometidas contra negros, contra índios e pessoas em situação de fragilidade.
Elas são um direito e serão mantidas. Criaremos condições para viabilizar aos
beneficiários das cotas para estudar e desenvolver suas capacidades. Eu mesma
gostaria de ter sido beneficiada pelas cotas. Tive que abrir uma pequena fresta
em um muro feito de pedra, de metros e metros de pedras, e passar por elas. Se
eu for presidente da República, quero ajudar para que nenhuma pessoa tenha que
passar por frestas. Nem pelas frestas das Justiça, nem da educação, nem pelas
frestas do respeito à sua condição humana, independentemente de ser negro, de
ser mulher, da sua religião ou da sua orientação sexual. É claro que fazer
política pensando não apenas em propostas, mas em propósito é mais difícil.
Sendo mulher, sendo negra, sendo de origem pobre, sendo evangélica, dá mais
trabalho. É mais difícil porque o preconceito é bem maior. Ainda bem que 2010
foram 19 milhões de brasileiros que não se renderam a esse preconceito. Em 2014, mesmo tendo sido
agredida, desconstruída, infelizmente por uma outra mulher, que não tinha o direito
de tisnar minha biografia, porque ela sabia que estava mentindo.
P. Você menciona sua biografia, no Jornal Nacional lembrou
que foi empregada doméstica, e há analistas que defendem que isso deveria ser
um discurso mais frequente na sua campanha para provocar uma identificação mais
imediata com o Brasil negro e pobre. O que diz?
R. Esse discurso faz parte da minha vida. Não é estratégia
eleitoral.
P. Mas esse aspecto não pode ser mais explorado?
R. Essa instrumentalização grosseira que é feita… É muito
difícil fazer política com decência porque tudo vira estratégia,
instrumentalização. A minha identidade, o ser negra, é da minha condição. E
esse discurso aflora como um processo vivo da própria dinâmica. E essa
identidade é natural.
P. Não existe pressão dos próprios apoiadores por uma maior
dose de pragmatismo, candidata? Não digo instrumentalização, mas pragmatismo. A
senhora tem 21 segundos de tempo na TV… Como a pessoa do interior do Ceará vai
saber a trajetória que a senhora tem?
R. Mas isso é feito o tempo todo. Só não tenho é muito espaço
para fazê-lo. Aliás, as pessoas reclamam que eu estou sumida. Eu fico pensando:
Meu Deus, o que eu posso fazer para aparecer? Eu não parei de trabalhar, fiz
quase 200 palestras. Conversei com mais de 150.000 pessoas olhando diretamente.
Com muito cuidado. Eu ajudei a construir um por partido de forma voluntária, me
posicionei sobre todos os temas relevantes da sociedade brasileira, e as
pessoas dizem “você está sumida“, porque eu não apareço com frequência nos
meios de comunicação? Porque eu não tenho mandato? Carreguei a bandeira das Olimpíadas de
Londres em 2012 isso não foi manchete. Eu fui convidada pelo presidente Macron
para ajudar numa iniciativa global de meio ambiente e isso também não foi
manchete dos jornais. O que eu preciso fazer para mostrar que não estou sumida?
Isso não depende de mim. Depende de quem acha que meu trabalho é relevante ou
não. Aqui nós temos um poeta que diz “do rio que tudo arrasta se diz violento.
Porém, não se diz violento das margens que o oprimem”. Isso me consola bastante.
Às vezes eu sou acusada até por não reagir à altura. Mas como reagir à altura
com 20 segundos? É a mesma coisa que dizer para uma pessoa pobre que ela é
pobre porque não se esforçou para ser rica.
P. Mas a senhora está concorrendo com um candidato que tem
oito segundos e que está liderando. Que também não tem partido, que também
viajou pelo país, e tem 5 milhões de pessoas nas redes sociais. Não estamos
falando do MDB ou PSDB. E a senhora sempre focou nas redes sociais desde 2010.
R. Mas sempre com a verdade. Ninguém nunca me viu
distribuindo fake news, nem distribuindo agressões. Me vê sempre fazendo este
discurso difícil de tentar sustentar uma posição de que é possível fazer
política com ética.
P. Mas então por que o Brasil está mais pendente a apoiar um
candidato que já mentiu, como no caso do livro de educação sexual que não foi
comprado pelo MEC como ele chegou a afirmar,
e não está aberto a uma mensagem de ética, da verdade?
R. Estamos vivendo um momento em que as mentiras
têm ganhado muita força. Tem os que mentem dessa forma, dizendo que violência
se combate com mais violência, tem outros que mentem dizendo que combater a
corrupção é ser conservador e, infelizmente, isso tem prosperado. Mas, eu sinto
que a população brasileira está muito indignada e ao mesmo tempo decepcionada.
Uma parte muito decepcionada com os erros do PSDB, outra parte muito
decepcionada com os erros do PT e é nesse momento que os que fazem o discurso
fácil da violência, do justiçamento, parece que têm maior aderência, a história
mostra isso. Agora, fazer o discurso de “vamos ser cautelosos”, “não podemos
ter dois pesos e duas medidas”, “uma pessoa que está presa não é para ser
execrada”... Não é fácil ter aderência para esse tipo de discurso.
P. A senhora não faz nenhum tipo de mea
culpa? A Rede é um partido frágil. Tem críticas internas sobre processos de
decisão, de desagregação. Pensa que poderia ter feito algo diferente nos
últimos quatro anos?
R. A Rede é um partido que tem três anos.
Quantos anos levou o MDB para ser o MDB? Quantos anos levou PT, que eu ajudei a
fundar há mais de 20 anos, para ser o PT? Quanto tempo levou para o PSDB ser o
PSDB? Não entendo porque as pessoas esperam que a Rede já seja um partido
grande, poderoso. Nós fizemos uma escolha, com base em qualidade. Cheguei a
conversar com mais de 20 parlamentares. Se eu tivesse feito uma escolha
puramente pragmática, poderia ter um partido grande. Só que eu teria que ter
entrado numa lógica de dizer que a Rede naquele Estado seria daquele deputado,
que não tinha nenhuma identidade política e ideológica com a Rede com a questão
da sustentabilidade. Fizemos uma escolha. Algumas pessoas saíram? Paciência, é
da democracia. E eu as respeito. Na Rede, diferentemente dos outros partidos,
as pessoas não saem para serem inimigos e serem destruídos. Eu mantenho minha
relação de respeito com o deputado Ariel (Machado), com o deputado Alessandro
Molon. Aliás, eu torço para que eles vençam pois são excelentes deputados.
Política a gente deve fazer não é achando que você é o dono da verdade. Eu
concordo com um grande humanista que diz que a verdade não está em nenhum de
nós, ela está entre nós. Na política é assim que a gente tem de fazer. Às vezes
não dá certo morando junto, mas dá certo sendo vizinhos. Não dá certo em alguns
pontos, mas nos duradouros a gente pode fazer alianças.
P. A senhora cita o PT um partido que levou 20
anos para ser o PT, e falamos da Rede ter três anos. Existe a possibilidade de
que não seja desta vez a presidência? Lula
levou quatro eleições para chegar ao Planalto. Esta é sua terceira eleição.
A senhora põe isso na conta?
R. Eu vejo a história como um processo dinâmico,
nada é pré-determinado. Não é porque o Lula teve de tentar três vezes [antes de
ganhar] que outros pessoas terão de disputar três vezes. A sociedade é
soberana, ela vai fazer sua escolha. Infelizmente, no Brasil ela não tem
conseguido os meios para fazer essa escolha. Em 2014 foi o dinheiro da
corrupção, foi uma fraude eleitoral. Os bilhões que foram roubados da Petrobras
fraudaram a eleição. Agora é tirado do próprio orçamento público. O PT,
juntando fundo eleitoral com fundo partidário, vai ter quase meio bilhão de
reais. Alckmin, que está com mesmo condomínio da Dilma, o Centrão — praticamente
todos os que estavam com a Dilma vão estar com Alckmin — tem mais de
meio bilhão de reais. Eu vou ter o dinheiro, lícito, das contribuições e um
pouquinho do fundo, mas é isso que eu tenho pra fazer a campanha. Paciência.
Vai ser o resultado que o povo brasileiro quiser. Eu não vou me corromper, eu
não vou fazer absolutamente nada que não me leve a um resultado que é o lugar
que eu quero chegar, que é passar o Brasil a limpo, fazer com que o Brasil seja
um país republicano.
P. Você faz soar que o Brasil não está
preparado para você.
R. Não, não faço soar nada disso. Eu só digo que
estou lutando para o que o Brasil seja isso. Eu lá no Acre lutei muito para
poder melhorar um pouquinho a política. E eu encontrei muito descrédito, muita
gente dizendo que não dava, que isso e que aquilo outro. Graças a Deus eu nunca
acreditei nisso, e continuei. É assim que a vida é. Se o Luther King fosse
acreditar nos que diziam a ele que não dava, nada teria acontecido. Se o
Gandhi, ou Mandela acreditasse no que diziam que não dava, nada teria
acontecido. As pessoas se conformam. Muito fácil dizendo que é assim mesmo.
Este país passou por um trauma, o trauma da ditadura. Se não
houvesse pessoas que tivessem resistido, [dizendo] que não pode haver censura,
que os governos devem ser democráticos, até hoje era ditadura. Eu vejo as
pessoas se conformando muito fácil. “Tem que ter o Centrão", “não, o
Congresso é assim”. Não é assim. Por não me conformar de que é assim posso
dizer hoje que me alfabetizei aos 16 anos, porque no seringal onde eu cresci
num regime de semiescravidão,
ser analfabeto era assim. Não ter médico era assim. Não ter justiça era assim.
Ser mulher era assim mesmo, quem mandava era o marido. Não na minha casa, pois
a minha casa era de matriarcas. Enquanto a gente achar que é assim vai ficar
assim. Eu estou nessa campanha para dizer que não é assim para que a população
diga que não é assim.
P. Geraldo Alckmin tem falado com alguma
frequência que a senhora “é o PT”. O que a senhora entende quando ele fala isso
e o que a senhora tira de bom dos tempos que trabalhou para o PT?
R. É meu legado, minha trajetória. Talvez a
pergunta fosse “o que a senhora contribuiu de bom para o PT?”. É um processo de
retroalimentação. Infelizmente o PT se perdeu – não todas as pessoas do PT – no
caminho. Eu dei uma grande contribuição levando a causa da sustentabilidade que
era muito incompreendida dentro do Governo, e por isso eu saí do Governo. Se eu
tivesse uma visão instrumentalista da política, carreirista, eu teria ficado no
Governo. Mas quando eu vi que havia um complô de dentro do Governo para revogar
as medidas de combate ao desmatamento, eu pedi para sair. E foi a única forma
de ajudar a preservar as medidas, e o próprio Governo. Porque teria sido um
desastre se o Governo tivesse revogado as medidas, como queriam induzir o
presidente Lula a revogá-lo. A minha saída impediu que ele cometesse um
desastre político, um desastre ambiental. Porque é assim que se faz quando a
gente se orienta por valores e princípios. Eu lamento que o PT tenha se perdido
por projeto de poder pelo poder. Lamento profundamente. Gostaria que
continuasse um partido que não tivesse ido pelos caminhos que tanto criticou,
mas eu espero que seja tempo de se corrigir. Mas para corrigir erros é preciso
se reconhecer que houve erros. E infelizmente parece que isso não aconteceu até
agora. Aliás,
é uma negação da realidade, apesar dos fatos, dos atos.
P. A senhora já falou sobre a revisão da reforma
trabalhista. O que isso quer dizer?
R. Revogar todos os pontos errados que foram
aprovados na reforma trabalhista. Há um discurso de que é para modernizar, mas
estão indo para relações pré-modernas em alguns aspectos. Uma pessoa não ter
sequer uma hora de descanso para se alimentar é uma relação pré-moderna de
trabalho. Uma mulher (grávida) em situação de insalubridade com risco para ela
e uma criança é pré-moderno.
A pessoa pobre ter de pagar uma perícia técnica para poder ter acesso à Justiça é
uma relação de crueldade. Como uma pessoa vítima de trabalho escravo vai fazer
para pagar uma perícia técnica para mostrar que ela é vítima de trabalho
escravo? Todas essas atrocidades eu vou corrigir, sim.
P. A senhora disse que é preciso refazer o
debate da Previdência. Mas há uma pressão muito grande dos investidores de
mercado para que haja uma claridade quanto a isso. A senhora tem um prazo? Em
seu governo, quando teremos esse projeto? Pode se dizer no primeiro semestre?
R. Dizem que sábios são os que aprendem com os
erros dos outros e estúpidos os que não aprendem nem com os próprios erros.
Temer entrou no Governo com a urgência, dizendo claramente o que ele ia fazer.
Conversou só com os empresários. Aprovou a reforma? As pessoas querem revogar o
debate e depois reclamam que
tendências autoritárias estão prosperando no Brasil. Mas, quando se fala em
debater, parece que isso é uma blasfêmia. Eu não tenho preconceito com debater
vou debater com especialista, vou debater com trabalhadores, vou debater com
empresários. A reforma da Previdência é necessária porque nós temos um déficit
público enorme, um déficit na Previdência enorme, temos de enfrentar a questão
da idade mínima. Mas as mulheres vão continuar se aposentando primeiro, porque
as mulheres trabalham mais, elas são submetidas a um trabalho extenuante
doméstico, mais de 80% das mulheres ainda são responsáveis sozinhas,
praticamente, pelo trabalho doméstico, e enquanto isso existir na nossa
cultura, elas têm de se aposentar primeiro. Vamos debater. Eu fui ministra do
Meio Ambiente, tive os melhores resultados da história do ministério, os
melhores prêmios. O Brasil foi o primeiro país assumir meta de redução de
desmatamento e eu fiz tudo isso debatendo. Consegui aprovar a lei de concessões
de florestas públicas debatendo. O Instituto Chico Mendes debatendo. Consegui
debatendo fazer a transposição
do rio São Francisco, com uma licença bem feita.
P. A senhora diz que desde 2010 tem as mulheres
como foco….
R. É a minha vida. Eu sou mulher, batalhadora,
na vida, no Congresso Nacional. Claro qu, quando você vai concorrer à
presidência da República, você vai olhar o todo conjunto da obra, o que pode
acabar com a discriminação contra as mulheres, o que pode acabar com a
discriminação racial, aí é outra quadratura.
P. Mas em 2018 o assunto mulheres ganhou uma
urgência maior ainda. E aí entram temas espinhosos, como aborto, por exemplo.
Qual é a sua posição em relação a isso?
R. Eu sou contra.
P. Sim, mas e para o Brasil? A senhora não
mexeria na questão do aborto?
R. Eu sou contra o aborto, se for para ir além
das formas que já estão previstas em lei, no Brasil, que são casos de estupro,
crianças sem cérebro e risco da mãe.
P. O
deputado Jean Wyllys tem um projeto, o mesmo apresentado na Argentina, de
interrupção na 12 segunda semana.
R. Sou contra que seja pelo Congresso. Acho que
deve ser feito um plebiscito como é feito em outras democracias.
P. E a senhora se comprometeria a colocar isso
em debate?
R. Eu não vou convocar o plebiscito. Mas, se
alguém quiser ampliar para além do que já existe, não acho que os 513 deputados
devam substituir os 200 milhões de brasileiros.
P. Ou seja, se houvesse um movimento da
sociedade...
R. Quem convoca um plebiscito é o Congresso Nacional. O que
eu não gostaria de ver é 513 deputados, 81 senadores...
P. A maioria homens...
R. Substituindo 200 milhões de brasileiros. E
entre esses milhões, estão as mulheres que são maioria. Nas democracias mais
evoluídas, é assim que se decidem temas complexos como o aborto, ou liberação
das drogas. Eu defendo que se for para ampliar – e nãoo estou dizendo que eu
vou convocar –, se o debate for para o Congresso, eu vou defender que seja um
plebiscito. Acho mais democrático, leva a um debate mais amplo com a sociedade,
pois envolve questões de natureza ética, filosófica e religiosa. As pessoas têm
o direito de debater. O Estado é laico, nós somos uma democracia, e nossa
Constituição prevê plebiscito, referendo, para determinadas situações. Nesse
caso, entendo que é inteiramente pertinente.
P. Mas eu lamento que não debatemos questões
importantes. As pessoas só me perguntam sobre política, sobre o Lula, sobre
isso, sobre aquilo.
P. Nós perguntamos sobre pleno emprego, sobre
Justiça, sobre reforma da Previdência, trabalhista. De qual proposta quer
falar?
R. Sobre educação, por exemplo. Posso falar
sobre a minha proposta?
P. Claro, com todo espaço que queira.
R. É o projeto de educação com qualidade. É o
que cria igualdade de oportunidades. Todas as crianças na escola. Temos 500.000
crianças fora da escola. Nós ainda temos 11 milhões de analfabetos no Brasil.
Temos uma educação em que, de cada 10 jovens, somente três tem alguma proficiência
em língua portuguesa e algum conhecimento de matemática. Eu vou implementar o
Plano Nacional de Educação, trabalhar para que se tenha um sistema nacional de
educação, governo estadual, municipal e federal. Remunerar os professores com
dignidade, a formação continuada desses professores. Trabalhar para viabilizar
o plano de carreira dos professores nos municípios. Ampliar significativamente
a educação em tempo integral com contraturno onde as crianças possam aprender
artes, possam aprender atividade desportiva, possam ter algum projeto de
iniciação científica na escola, pois isso ajuda aprender.
P. Isso seria universal? Tem um número a
alcançar?
R. É claro que você não consegue em quatro anos
atender um desafio de 20, de 30 anos. E eu não vou pelo caminho do
promessômetro que e da demagogia para ganhar a eleição. Durante os quatro anos
eu vou fazer vou fazer o quanto for possível desse desafio, mas vou fazer de
forma estruturante, para que se tenha um percurso em relação à educação
brasileira. Prioridade: educação infantil e a gente tem o compromisso de
ampliar em 50% as vagas nas creches para crianças de zero a quatro anos. Fiquei
nas creches pois é a fase que a criança mais precisa de estímulos e
atendimento, de uma alimentação correta. É ali que a criança tem a sua
estrutura de aprendizagem. Se ela não é estimulada e acolhida na idade certa,
ela terá prejuízo em relação a outras crianças. Vamos trabalhar para que ensino
médio não tenha a evasão que tem. Para isso é fundamental que os jovens tenham
acesso ao ensino profissionalizante e à melhoria dos conteúdos, porque boa
parte deles sai da escola porque os conteúdos que estão sendo dados não são os
conteúdos que eles querem. Nós estamos formando para profissões que vão
desaparecer e temos que nos capacitar para formar para as profissões que
existem agora e para aquelas que ainda vão existir. As crianças tem de aprender
a aprender.
P. A
reforma proposta opor Temer para o ensino médio serve de ponto de
partida ou não?
R.: Essa reforma é do Temer só pelo oportunismo dele, que
fez o projeto por uma medida provisória. Era um debate que já vinha
acontecendo, era o relatório de um deputado do PT de Minas Gerais. Mas, no Brasil,
infelizmente, como as pessoas fazem oposição por oposição as pessoas esqueceram
que era o relatório do deputado do PT e colocaram o carimbo do Temer, porque
ele apresentou de maneira oportunista como medida provisória. Poderia ter
dado continuidade ao projeto de lei. E que nós vamos fazer? Sobre o ensino
médio, diz que você pode escolher o seu percurso escolar. Mas na maioria das
cidades com até 55 mil habitantes você não tem mais do que uma escola de ensino
médio. Então, é difícil dizer que o aluno vai fazer a escolha das matérias para
um percurso do ensino médio. Vamos ajudar para que isso de fato não seja um
discurso, mas seja uma prática. Nós faremos o sistema de credenciamento, de
validação das várias etapas pelas quais um jovem passar. Se você vai, por
exemplo, fazer um curso profissionalizante na área de informática e depois você
quer fazer uma faculdade de informática, você começa tudo do zero. Nós vamos
validar as etapas para que ao longo de um percurso ele possa concluir o ensino
superior, garantindo a validação dos créditos anteriores que ele já tem, por
exemplo, no caso de quem tem curso técnico. Isso ajudará aqueles obrigados a
ter ensino profissionalizante, para que possa sobreviver, a lá na frente,
quando estiverem trabalhando, poderem ir a uma faculdade e ter seus créditos
validados. Isso vai ajudar muito. A grande evasão tem a ver, além da qualidade,
com a situação de vida, viver num lugar insalubre, com violência, sem
transporte público. Isso faz as pessoas deixarem de ir para escola. Boa parte
das famílias estão desestruturadas.
P. A senhora não teme que o atual teto de gastos
amarre seus planos, já que se trata de um projeto ambicioso?
R. Nós gastamos 6% do PIB em educação. Com
eficiência, dá para fazer muita coisa. Nós desviamos com a corrupção mais de
200 bilhões de reais. Imagine esse dinheiro na educação?
P. Inclusive nas prefeituras há desvios que
fazem a verba não chegar à educação.
R. Por isso existe a necessidade do plano
nacional de educação, de um sistema para que possa haver acompanhamento,
qualidade do ensino. Boa parte da corrupção não é por causa dos professores ou
diretores. É da politicagem, dentro dos ministérios.
P. Você é contra o
teto de gastos, certo?
R. Sou a favor do controle do gasto público, e
eu farei isso por lei orçamentaria. O TCU esta dizendo que Estado vai entrar em
colapso se não controlar o gasto público.
P. Proporia a queda do teto?
R. Eu vou controlar gasto público, mas eu vou
investir em educação, saúde, segurança pública. Não vou deixar congelada essa
segurança, saúde e educação que temos.
P. O economista Ricardo Paes de Barros seria um
bom ministro da Educação?
R. Tenho a alegria de tê-lo na minha
equipe. Ele
é um dos idealizadores do Bolsa Família, hoje uma das pessoas que mais têm
estudado sobre inclusão produtiva, sobre como ter politicas sociais para
situações de risco e, ao mesmo tempo, como incluir pessoas de forma estruturada
na dinâmica produtiva. A educação é a base de tudo isso. Tenho um dos
idealizadores do SUS, que é o Eduardo Jorge (candidato a vice), um dos
idealizadores do Plano Real, André Lara Resende.
P. Mas Paes de Barros seria um bom ministro da
Educação?
R. Dizem que não dá sorte ficar nomeando
ministro antes. Quem faz isso precisa se ancorar no trabalho dos outros porque
não confia muito no trabalho que propõe. Confio na minha equipe, graças a Deus
tenho muita gente competente. Eu sempre digo que meu problema não será
governar. Porque vou governar com os melhores da sociedade, da academia, dos
movimentos sociais, do empresariado, e com os melhores dos partidos. Não irei
apenas com os partidos. Eles não substituem 200 milhões.
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