História contada por Queiroz faria uma boiada inteira
dormir
Nos anos 90 o deputado João Alves gravou o nome no panteão
das desculpas mais esfarrapadas da história ao justificar como ajuda divina os
mais de 200 bilhetes de loteria premiados —o que para a CPI da época não passou
de lavagem do dinheiro desviado do Orçamento.
Mais ou menos na mesma época foi a vez de o governo Collor
revelar ao mundo que um empréstimo no Uruguai explicava o alto padrão de vida
do presidente, não o esquema operado pelo ex-tesoureiro PC Farias.
Mais recentemente Eduardo Cunha (MDB) também brilhou ao
atribuir fortunas encontradas na Suíça à sua desenvoltura como vendedor
de carne enlatada para a África em um passado muito, muito distante.
Agora, o ex-policial militar Fabrício Queiroz nos brinda com
o depoimento por escrito enviado ao Ministério Público antes do Carnaval.
Se foi isso que ele conseguiu produzir em mais de 50 dias, a
encrenca em que se meteu a família Bolsonaro parece não ser das pequenas.
Sim, família Bolsonaro. Por mais que o presidente da
República tente fazer de conta que nada tem a ver com a história, ele viu cair
na conta da mulher pelo menos R$ 24 mil, além de ter empregado em seu próprio
gabinete uma filha de Queiroz, aquela que, na verdade, era conhecida como personal
trainer no Rio.
Assim como Queiroz, Bolsonaro ou não explica, ou pede para
"falar sério" ou conta histórias que carecem de prova e de lógica.
Por enquanto o presidente está protegido pelo cargo, pela popularidade e pelos
que enxergam corrupção em todo lugar, menos a um palmo do nariz.
Queiroz, em resumo, disse que gerenciava
parte do salário dos colegaspara poder contratar informalmente mais gente
para Flávio Bolsonaro, que nada sabia. Em 50 dias, o ex-PM saiu de ás
do ramo automobilístico—versão inicial— para "headhunter" da
periferia. Consta que o Ministério Público considerou frágil a explicação. O
que denota uma admirável generosidade. A versão de Queiroz precisa melhorar
muito ainda para atingir o selo "frágil".
Ranier Bragon, repórter especial em Brasília, está na
Folha desde 1998. Foi correspondente em Belo Horizonte e São Luís e
editor-adjunto de Poder.
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