Envolto em contínua
crise política e sem assistir a uma melhora na economia, Jair
Bolsonaro (PSL) registra a pior avaliação após três
meses de governo entre os presidentes eleitos para um primeiro mandato
desde a redemocratização de 1985.
Mas 59%, segundo o Datafolha, ainda acreditam que ele fará
uma gestão ótima ou boa. O presidente completa cem dias de mandato na próxima
quarta-feira (10).
Segundo o instituto, 30%
dos brasileiros consideram o governo de Bolsonaro ruim ou péssimo, índice
semelhante ao daqueles que consideram ótimo ou bom (32%) ou regular (33%). Não
souberam opinar 4% dos entrevistados.
O instituto ouviu 2.086 pessoas com mais de 16 anos em 130
municípios nos dias 2 e 3 de abril. A margem de erro da pesquisa é de dois
pontos percentuais para mais ou para menos.
Antecessores de Bolsonaro nas mesmas condições tiveram
melhor desempenho. Fernando Collor (então no PRN) era reprovado por 19% em
1990, enquanto Fernando Henrique Cardoso (PSDB) marcava 16% de índices ruim ou
péssimo em 1995.
Os petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff,
alvos frequentes de críticas do atual presidente, eram mal avaliados apenas por
10% e 7% da população ao fim dos primeiros três meses de governo.
Na série histórica, Dilma é quem teve numericamente a melhor
avaliação a esta altura do mandato, com 47% de ótimo/bom em 2011.
Não se comparam aqui os primeiros trimestres de presidentes
reeleitos, pois suas imagens já passaram pela exposição de todo um governo além
dos três meses: Lula se mantinha com uma rejeição confortável (14%), FHC
amargava 36% e Dilma já começava a viver o inferno político que a derrubaria do
cargo em 2016, com 60% de ruim e péssimo.
Os vices que assumiram desde a redemocratização também não
são comparáveis —a aferição de Michel Temer (MDB) não foi feita, enquanto
Itamar Franco tinha 11% de ruim/péssimo nesse intervalo.
Antes da posse, 65% esperavam que Bolsonaro fizesse um
governo ótimo ou bom, 17%, regular, e 12%, ruim ou péssimo. Os índices já eram
os piores entre os presidentes eleitos para primeiro mandato desde a
redemocratização.
Agora, a expectativa é positiva para 59%, mediana para 16% e
negativa para 23%.
Nesses primeiros meses, Bolsonaro viveu diversos episódios
de desgaste político: a investigação
sobre milícias envolvendo o gabinete de seu filho Flávio na Assembleia
do Rio, as candidaturas
de laranjas de seu partido, os entrechoques entre militares
e a ala do governo sob influência do escritor Olavo de Carvalho, a crise
no MEC, a troca
de farpas com o Congresso e a dificuldade no encaminhamento da reforma
da Previdência.
A economia segue em ritmo lento, e a taxa
de desemprego subiu em relação ao trimestre passado —está em 12,4%.
Assim, para 61% dos ouvidos, Bolsonaro fez menos do que se
esperava no exercício do cargo. Já 13% consideram que ele fez mais, enquanto
22% avaliam que ele fez o que era esperado. Entre os descontentes, a predominam
pessoas mais pobres e menos escolarizadas.
Nessa comparação, ele também perde para os primeiros
mandatos de Lula e de Dilma, que tiveram o mesmo tipo de mensuração pelo
Datafolha. Em 2003, o petista fez menos do que poderia para 45%, e em 2011 a
ex-presidente pontuou 39% no quesito.
A aprovação de Bolsonaro é maior
entre os homens (38%) do que entre as mulheres (28%).
O comportamento do presidente, que se envolveu em polêmicas
como a divulgação de um vídeo
pornográfico para criticar o que seriam abusos nas ruas durante o
Carnaval, é avaliado como correto por 27% dos ouvidos.
Já outros 27% acham que Bolsonaro na maioria das vezes se
posiciona de forma adequada, mas às vezes não. No lado negativo, 20% pensam que
na maioria das vezes o presidente é inadequado, e 23% dizem que ele nunca se comporta
como o cargo exige.
Há sinais de alerta para o bolsonarismo em dois grupos que
apoiaram consistentemente o então candidato durante a campanha de 2018.
Os que ganham mais de 10 salários mínimos e os que têm curso
superior registram numericamente também a maior rejeição ao governo até aqui:
37% e 35%, respectivamente, avaliam a gestão como ruim ou péssima.
Esses grupos também registram a maior aprovação, 41%
(empatada tecnicamente com os 43% dos que ganham de 5 a 10 salários mínimos) e
36% de ótimo/bom (empatada tecnicamente com os 33% de quem tem ensino médio),
indicando assim uma polarização entre o eleitor mais elitizado.
Os mais pobres (até 2 salários mínimos) são os menos
contentes, com 26% de ótimo e bom.
Já o eleitorado evangélico (34% da população) segue mais
entusiasmado com o presidente, que é católico, mas foi batizado por um pastor e
é fortemente associado ao setor. Acham o governo até aqui ótimo ou bom 42%
desse segmento, índice que cai a 27% entre católicos (50% dos brasileiros).
Brancos são os que mais aprovam Bolsonaro (39%), enquanto
pretos e pardos são os que mais desaprovam (29% para cada um dois grupos).
Ainda não há uma reversão na divisão geográfica do apoio ao
presidente. O Sul, sua principal fortaleza em 2018, deu a maior aprovação a ele
neste levantamento: 39% (empatado com os 38% do Centro-Oeste/Norte), contra 22%
de desaprovação.
O Nordeste é a região que mais rejeita o governo, com 39% de
ruim/péssimo e 24% de ótimo/bom. Também lá existe a menor expectativa positiva:
50%.
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