Ao defender censura
até a última hora, Toffoli encolheu o Supremo
Ao justificar a
censura como ferramenta de defesa institucional, Dias Toffoli demoliu alguns
pilares do próprio Supremo. O presidente do tribunal defendeu medidas
excepcionais para construir uma muralha que possa proteger a reputação da
corte. No fim da obra, o paredão estaria de pé, mas não sobraria muita coisa lá
dentro para preservar.
Em entrevista ao
jornal Valor Econômico, Toffoli deu de ombros para o desgaste provocado pela
decisão de tirar do ar uma reportagem da revista Crusoé que noticiava uma
menção a ele em emails internos da Odebrecht. O presidente do STF dobrou a
aposta na repressão e tentou tratar a censura como algo banal.
“Se você publica uma
matéria chamando alguém de criminoso, acusando alguém de ter participado de um
esquema, e isso é uma inverdade, tem que ser tirado do ar. Ponto. Simples
assim”, declarou.
Toffoli disse que só
agia dessa maneira porque, “ao atacar o presidente, estão atacando a
instituição”. Ele discursa em nome de toda a corte e insiste em se confundir
com o próprio tribunal, mas alguns colegas parecem dispensar os arbítrios
cometidos sob a capa da legítima defesa.
Após a publicação da
entrevista, Marco Aurélio comparou o caso à imposição de uma mordaça. Horas
depois, Celso de Mello divulgou uma longa nota em que chamou a decisão de
autocrática e intolerável.
As reações isolaram
Toffoli e o relator do inquérito sobre os ataques à corte. No fim do dia,
Alexandre de Moraes decidiu capitular e suspendeu a censura. De quebra, foi
obrigado a admitir que o documento citado na reportagem era verdadeiro.
O presidente tem
razão quando diz que o STF é alvo de ataques baixos, mentiras e redes
organizadas para desacreditar o tribunal. Parte dessas ações, diga-se, é
incentivada por políticos e milícias partidárias.
A corte tem direito
de responder, mas sem atropelos. Se ficar preso a uma cruzada mesmo depois de
ter sido derrotado, Toffoli vai encolher o STF e passará a administrar uma
delegacia de polícia numa terra sem lei.
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