De todas as declarações polêmicas que Jair Bolsonaro já deu
nos seus oito meses de mandato, poucas competem em nonsense com uma do dia 6
deste mês. Questionado sobre a indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada
em Washington, se irritou com a imprensa e soltou essa: “A imprensa tem de
entender que eu, Johnny Bravo, Jair Bolsonaro, ganhou, porra!”.
Exibir apelidos privados é algo que a maioria das pessoas
procura evitar, pelo natural constrangimento. Bolsonaro não só demonstrou
orgulho como repetiu a dose em outra ocasião – o que torna um pouco mais
difícil que ele diga, agora, que não disse o que disse, outra de suas bossas
recentes.
Johnny Bravo é um personagem dos anos 1990, do Cartoon
Network. Seu character design é o de um sujeito marombado, narcisista, machista
e burro. O que já torna estranho o orgulho de evocar a alcunha.
Há, inclusive, um episódio da segunda temporada em que
Johnny Bravo ascende ao poder, meio por acaso. Todos os políticos da cidade são
acometidos de uma intoxicação alimentar, e a legislação local determina que o
“maior idiota da cidade” assuma.
Bravo, então, passa a governar segundo critérios
estritamente pessoais: destrói uma livraria para construir uma esfinge com seu
rosto, decreta que funcionárias devem trabalhar de biquíni, transforma um
parque público num estacionamento e prende os oposicionistas. Até ser
destituído.
O estilo de Bolsonaro guarda, de fato, semelhanças com o do
topetudo. Suas declarações desde que revogou a comunicação institucional e
inventou a paradinha do Alvorada versaram sobre temas como cocô, ataques à
imprensa e à ciência, investida contra o pai assassinado do presidente da OAB e
a acusação de que ONGs queimam a Amazônia.
Ao focar na exploração de terras indígenas na reunião de
ontem dos governadores da Amazônia que deveria tratar da emergência ambiental,
Bolsonaro fez com que os presentes saíssem de lá com a certeza de que sua pauta
pessoal sempre estará acima das questões de Estado. “Foi bastante constrangedor
ver o descolamento do presidente da realidade”, disse à Coluna um dos
participantes (que, atenção, não era o comunista Flávio Dino).
Assim, não é de estranhar que ele se abespinhe quando
questiona do sobre a indicação do filho, e que ache normal dar o “filé” ao
rebento. A sem-cerimônia com que isso é defendido por Bolsonaro Bravo, no
entanto, começa a preocupar os que têm de conviver institucionalmente com ele –
prefeitos, governadores, funcionários públicos, congressistas, procuradores,
ministros do Supremo… A lista é enorme, e ninguém fora do círculo dos
puxa-sacos está disposto a aceitar coisas que seriam caricatas até em desenho
animado, como ofender a mulher de um chefe de Estado e recusar dinheiro
internacional por birra.
MEIO AMBIENTE: Ex-ministros pedirão a Maia ação do Congresso
na crise
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, receberá hoje
ex-ministros do Meio Ambiente, o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, e
representantes do setor produtivo, que entregarão a ele carta pedindo a
interferência do Congresso na crise ambiental desencadeada pelo desmatamento e
agravada pelas queimadas na Amazônia. A entrada de Maia no debate na semana
passada irritou Bolsonaro, que sugeriu que, se ele quer ajudar, deve destinar
recursos do Fundo Partidário para conter as queimadas.
DINHEIRO SIM: Doria faz road show na Alemanha em busca de
investimentos
E Bolsonaro acabou dando ao governador João Doria, seu
potencial adversário em 2022, mais uma chance de fazer um contraponto a seu
estilo. Enquanto o presidente se indispôs com a Alemanha (e Noruega, e França),
o governador paulista inicia hoje um giro pelo país, com previsão de anúncios
de investimentos de R$ 1 bilhão e criação de 400 novos empregos.
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