Paranoia, incompetência e autoritarismo se combinam e se
reforçam no recente surto de barbaridades oriundas da gestão Jair Bolsonaro.
Um círculo de assessores próximos ao presidente difunde a
ideia de que o Brasil estaria ameaçado por uma convulsão social incitada por
adversários do governo, que chegaria aqui por algum contágio em relação ao que
ocorre no Chile.
A hipótese —sem respaldo neste contexto em que trabalhadores
acabam de perder R$ 800 bilhões na Previdência sem alarido— alimenta outro
devaneio bolsonarista, de que seria necessário e possível ativar mecanismos
cesaristas de defesa contra o perigo imaginário.
“Não
se assustem se alguém pedir o AI-5”, disse durante passagem por Washington
o ministro Paulo Guedes (Economia). À sua maneira atrapalhada e agressiva,
deixou expostos os andaimes da teoria conspiratória que circula no Executivo.
Ali se trata o direito legítimo da oposição de organizar
protestos de rua, desde que pacíficos, como “irresponsabilidade” e desejo de
“quebrar tudo”. Guedes, além disso, tenta lançar na esquerda minoritária no
Congresso a culpa, que é da inépcia parlamentar do ministro e do governo, pelas
dificuldades na aprovação de novas reformas.
No dia seguinte, voltou
ao tema numa espécie de remendo mal ajambrado às declarações
anteriores. “Acho que devemos praticar uma democracia responsável”, declarou,
referindo-se mais uma vez a supostas quebradeiras urbanas.
A alusão ao ato que em 1968 inaugurou a fase de violações
mais brutais dos direitos humanos na ditadura militar conota o repertório
autoritário de que Jair Bolsonaro e seguidores jamais se afastaram —outro
exemplo recente foi a sugestão do mandatário de usar a Lei de Segurança
Nacional contra Lula.
Ninguém compromissado com o Estado democrático de Direito deveria
deixar passar manifestações desse tipo sem o
devido repúdio. Foi o que fizeram, de modo contundente, os presidentes
da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Supremo Tribunal Federal,
ministro Dias Toffoli, entre outras lideranças.
Oportuna também foi a abertura nesta terça (26) de processos
no Conselho de Ética contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro, primeiro a
cogitar em público o recurso ao instituto ditatorial.
Menos tosca, mas igualmente preocupante, tem sido a ofensiva
do presidente da República para incentivar o uso da força letal por policiais,
militares e cidadãos.
Essas propostas brotam do mesmo substrato de ideias
delirantes que vez ou outra expele uma menção ao AI-5 pela garganta dos mais
desaforados. São todas filiadas ao arbítrio e por isso não têm guarida no pacto
democrático de 1988.
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