terça-feira, 24 de dezembro de 2019

INVESTIGAÇÃO PROVA QUE SUBTERRÂNEOS DA POLÍTICA DO RIO SUBIRAM A RAMPA

Luiz Fernando Vianna, ÉPOCA
“Pelo menos ele não rouba.” Não era difícil ouvir essa frase e similares durante a campanha eleitoral de 2018. Jair Bolsonaro fez muita gente crer que ele encarnava o antipetismo não só no aspecto ideológico, mas também no moral: um político impoluto contra os ladravazes barbudos – lavando de brinde todo um sistema corrupto. 
Quem acompanhava a história dos Bolsonaro na política fluminense sabia ou ao menos desconfiava que a ascensão material não era fruto de orações. E estranhava, para dizer o mínimo, o apreço da família por notórios milicianos.  
O material divulgado na quarta 18 pelo Ministério Público do Rio, em seu pedido à Justiça por 24 ações de busca e apreensão, dá nomes e números a mais de duas décadas de suspeitas. Amplia bastante o que se sabia graças ao próprio MP e a investigações da imprensa. 
Dos muitos dados que chegaram ao noticiário, um tem sido merecidamente destacado: na conta de Fabrício Queiroz, o ex-PM faz tudo da família, caíram 483 depósitos feitos por ao menos 13 ex-assessores do então deputado estadual (e hoje senador) Flávio Bolsonaro, num total de R$ 2 milhões. É mais fácil acreditar em Papai Noel do que na lisura dessas transações. 
As revelações deixam poucas dúvidas quanto à prática da “rachadinha” no gabinete do filho 01: parte dos salários dos funcionários era desviada para outros fins. E muitos desses funcionários eram fantasmas, como ÉPOCA e o jornal O Globo já mostraram em reportagens. 
O trabalho do MP indica que os Bolsonaro criaram sua fama de incorruptíveis enquanto chafurdavam nos subterrâneos da política do Rio. Fizeram o mesmo que diversos outros grupos fazem. A diferença é que chegaram ao Palácio do Planalto. E uma porção de lama foi junto. 
Ao poder central, pela primeira vez, chegaram as milícias, fortíssimas no Rio, mas que ainda tinham presença discreta em Brasília. Exemplo notório da relação da família agora presidencial com essas organizações criminosas é a proximidade de Flávio com Adriano Magalhães da Nóbrega. 
Ex-integrante do Bope (a “tropa de elite”) que acabou expulso da Polícia Militar em 2014, Nóbrega é acusado de liderar um esquadrão da morte que comete execuções em nome dos seus muitos negócios irregulares ou por encomenda. Já esteve preso diversas vezes. Hoje está foragido. 
Em uma de suas temporadas na cadeia, em 2005, recebeu a notícia de que Flávio lhe concedera a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Assembleia Legislativa. 
A ex-mulher de Nóbrega foi lotada no gabinete de Flávio por 11 anos e repassava dinheiro a Queiroz. A mãe do ex-PM foi lotada por dois e fazia o mesmo.    
Até pela força política que tem hoje, o clã pode sair ileso das provas que o MP do Rio vem levantando. Mas o figurino de incorruptível só continuará cabendo ao presidente aos olhos dos que preferem não ver. 
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