O amargo presente de Natal que Bolsonaro deu a Sérgio Moro
O presidente Jair Bolsonaro ainda não se recuperou da
pancada na cabeça que levou ao cair no banheiro do Palácio da Alvorada.
Sancionou a emenda do deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) ao pacote anticrime do
ministro Sérgio Moro que criou a figura do juiz das garantias. A oposição ao
governo no Congresso comemora.
Pergunta que desde ontem teima em ser feita: a criação da
figura do juiz das garantias poderá de um modo ou de outro beneficiar o senador
Flávio Bolsonaro, o Zero UM, encrencado com a Justiça desde que o Ministério
Público do Rio descobriu que funcionários do seu antigo gabinete de deputado
devolviam parte dos salários?
Por duas vezes em um período de menos de 12 horas, Moro
registrou sua contrariedade com o ato de Bolsonaro. Da segunda vez foi mais
direto:
– Sancionado hoje o projeto anticrime. Não é o projeto dos
sonhos, mas contém avanços. Sempre me posicionei contra algumas inserções
feitas pela Câmara no texto originário, como o juiz de garantias. Apesar disso,
vamos em frente.
Curioso é que a lei 13.964 sancionada por Bolsonaro e que
criou a figura do juiz das garantias tenha sido assinada também pelo próprio
Moro. Apesar disso, vamos em frente. A lei entrará em vigor dentro de 30 dias.
Prazo tão curto é o sinal mais claro de que ela enfrentará problemas para
começar a ser respeitada.
De acordo com o texto sancionado por Bolsonaro, doravante um
juiz (o tal das garantias) conduzirá a investigação criminal em relação às
medidas necessárias para o andamento do caso, cabendo a outro o recebimento da
denúncia e a sentença. Jamais haverá outro Moro com os poderes que teve no
passado.
Caberá ao Supremo Tribunal Federal a última palavra sobre o
presente de Natal dado por Bolsonaro àquele que no início do seu governo foi
tratado como um dos dois superministros (o outro era Paulo Guedes, da
Economia). O PODEMOS, partido que sonha com a filiação futura de Moro, baterá
às portas do tribunal.
Pretende questionar vários pontos da lei. Qual será o
impacto orçamentário-financeiro com a criação do juiz das garantias? O
legislador poderia criar cargos na estrutura de outro Poder? A Constituição não
diz que a iniciativa para a criação de cargos em cada Poder compete justamente
ao chefe desse Poder?
Bolsonaro correu ao Facebook para dar explicações tão logo a
hashtag Bolsonarotraidor# foi para as alturas no Twitter. “Nem sempre posso
dizer não ao Parlamento”, desculpou-se. Outra vez jogou a culpa no Congresso e
deixou furiosos os senadores que acreditaram na conversa de que ele vetaria o
juiz das garantias.
Foi na Câmara que se acrescentou ao pacote anticrime de Moro
a tal figura. Para apressar a aprovação do pacote no Senado, o líder do governo
ali, o senador Fernando Bezerra Coelho (PMDB-PE), e o próprio Moro garantiram
que Bolsonaro acabaria por vetar ponto tão controverso. Bolsonaro passou-lhes a
perna.
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