sexta-feira, 5 de junho de 2020

DIÁRIO DA CRISE

Do Blog do Gabeira

Diário da Crise LXXVI

Trump usou o Brasil como exemplo negativo. Ele disse hoje que se os EUA tivessem se comportado como o Brasil, haveria 2,5 milhões de mortos.

Trump é o maior, e talvez o único aliado de Bolsonaro no cenário internacional.

Agora, desvencilha-se dele porque quer manter a imagem de quem se preocupou com a pandemia, ao contrário do seu imitador tropical.

Bolsonaro realmente se excedeu. Ele inaugurou hoje um hospital de campanha em Águas Lindas, Goiás, um lugar próximo a Brasilia.

O hospital está sendo inaugurado com 90 dias de atraso, no momento em que o Brasil bate recordes em mortes e número de contaminados.

Bolsonaro não usou máscara, como manda a legislação da cidade. No seu discurso, sequer mencionou coronavírus ou 34 mil mortos. Falou que estava avançando na proposta de facilitar a compra de armas e insultou os opositores que, eventualmente, saiam às ruas contra ele.

Essa falta de empatia parece se tornar um dos traços mais decisivos na personalidade de Bolsonaro. Ele parece estar sempre justificando as mortes, pois afinal todos vão morrer mesmo.

Sempre no estilo daquela célebre entrevista de Regina Duarte, minimizando as mortes, relativizando tortura.

Bolsonaro nega o coronavírus. O Estadão publica uma entrevisa que concedi ontem na qual falo de todas as etapas da negação.

Bolsonaro começou negando o próprio vírus, uma simples gripezinha. Depois, passou a questionar o número de mortos, sugerindo que eram inflacionados, contra todas as evidências de que existe mesmo uma subnotificação.

Quando os mortos foram enterrados, seus partidários, inclusive a deputada Carla Zambelli, começaram a duvidar se havia corpos nos caixões. Em Minas, uma mulher chegou a dizer que havia apenas tijolos nos caixões. A Zambelli insinuou que no Ceará enterravam caixões vazios.

A ausência de preocupação com um plano de abertura gradativa, revela que Bolsonaro quer abrir o país como se nada tivesse acontecido.

É a maior irresponsabilidade política sanitária na história do país.

O pior é que envolveu também as Forças Armadas. O Ministério da Saúde está na mão de militares, cuja primeira providência foi a de retardar os boletins sobre novos casos e mortes, na esperança de escapar do jornal da televisão.

Ainda bem que a Câmara dos Deputados pretende criar um comitê para reunir essas informacões cuja origem são as secretarias estaduais de saúde.

Já falei que é uma ilusão supor que militares tratam bem da luta contra o coronavírus: não se combate o vírus com tiro.

Agora passaram a lutar também contra  a informação transparente e imediata.

É uma insanidade no auge da pandemia. Começa mais um fim da semana sem grandes horizontes. Que, pelo menos, o sol.

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