Diário da Crise LXXVI
Trump usou o Brasil como exemplo negativo. Ele disse hoje
que se os EUA tivessem se comportado como o Brasil, haveria 2,5 milhões de
mortos.
Trump é o maior, e talvez o único aliado de Bolsonaro no cenário
internacional.
Agora, desvencilha-se dele porque quer manter a imagem de
quem se preocupou com a pandemia, ao contrário do seu imitador tropical.
Bolsonaro realmente se excedeu. Ele inaugurou hoje um
hospital de campanha em Águas Lindas, Goiás, um lugar próximo a Brasilia.
O hospital está sendo inaugurado com 90 dias de atraso, no
momento em que o Brasil bate recordes em mortes e número de contaminados.
Bolsonaro não usou máscara, como manda a legislação da
cidade. No seu discurso, sequer mencionou coronavírus ou 34 mil mortos. Falou
que estava avançando na proposta de facilitar a compra de armas e insultou os
opositores que, eventualmente, saiam às ruas contra ele.
Essa falta de empatia parece se tornar um dos traços mais
decisivos na personalidade de Bolsonaro. Ele parece estar sempre justificando
as mortes, pois afinal todos vão morrer mesmo.
Sempre no estilo daquela célebre entrevista de Regina
Duarte, minimizando as mortes, relativizando tortura.
Bolsonaro nega o coronavírus. O Estadão publica uma
entrevisa que concedi ontem na qual falo de todas as etapas da negação.
Bolsonaro começou negando o próprio vírus, uma simples
gripezinha. Depois, passou a questionar o número de mortos, sugerindo que eram
inflacionados, contra todas as evidências de que existe mesmo uma
subnotificação.
Quando os mortos foram enterrados, seus partidários,
inclusive a deputada Carla Zambelli, começaram a duvidar se havia corpos nos
caixões. Em Minas, uma mulher chegou a dizer que havia apenas tijolos nos
caixões. A Zambelli insinuou que no Ceará enterravam caixões vazios.
A ausência de preocupação com um plano de abertura
gradativa, revela que Bolsonaro quer abrir o país como se nada tivesse
acontecido.
É a maior irresponsabilidade política sanitária na história
do país.
O pior é que envolveu também as Forças Armadas. O Ministério
da Saúde está na mão de militares, cuja primeira providência foi a de retardar
os boletins sobre novos casos e mortes, na esperança de escapar do jornal da
televisão.
Ainda bem que a Câmara dos Deputados pretende criar um
comitê para reunir essas informacões cuja origem são as secretarias estaduais
de saúde.
Já falei que é uma ilusão supor que militares tratam bem da
luta contra o coronavírus: não se combate o vírus com tiro.
Agora passaram a lutar também contra a informação
transparente e imediata.
É uma insanidade no auge da pandemia. Começa mais um fim da semana sem grandes horizontes. Que, pelo menos, o sol.
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