O pior é que pouco havia de verdadeiramente novo no vídeo da
reunião ministerial de 22 de abril. Assistimos sem tarjas ao que já sabíamos.
Palavrões, preconceito, ofensas pessoais, platitudes, autoritarismo e
bajulação. Até os raros momentos de sensatez constrangeram, ditos apenas para
os próprios ouvidos, ignorados pela plateia enfadada e incapaz da compreensão.
No dia da revelação do vídeo a novidade veio mesmo na nota
do ministro Augusto Heleno, e na recusa antecipada de Bolsonaro ao cumprimento
da eventual ordem de entrega de seu telefone celular. Ambas avançaram mais uma
casa rumo à confrontação da ordem constitucional, passando para a ameaça
explícita.
O risco para a democracia cresce de braços dados com a
estratégia do discurso populista e chulo, na pretensão, até agora bem-sucedida,
de alcançar o cidadão comum, farto da sofisticação do dito establishment e do
cinismo da política. Negar essa realidade, ou combatê-la com a velha retórica e
expressões enojadas, não surtirá nenhum efeito. Tampouco longas e rebuscadas
decisões do Supremo Tribunal, recheadas de latim, motivarão o povo, preso em
quarentena, a deter o avanço da boiada oportunista e atenta.
É preciso atitude para responder à questão única que nos
resta: como resgatar o país da armadilha da mediocridade e do menosprezo às
instituições, para ser governado por pessoas capazes de conduzir os destinos da
nação?
É da resposta a essa pergunta que a classe política e os
cidadãos de bem devem se ocupar. Se os interesses pessoais e as vaidades
ideológicas continuarem a prevalecer, serão novamente derrotados. As certezas
típicas do discurso de botequim continuarão a soar como rota de fuga das
dificuldades dramáticas do dia a dia, e voltarão a triunfar.
O momento é histórico. Se não houver consciência de sua
relevância, algumas gerações serão perdidas. Somente uma união nacional pelo
caminho do centro, reunindo todas as forças democráticas e qualificadas, será
capaz de derrotar a ignorância e o atraso.
Marcelo Trindade é advogado e professor da PUC-Rio
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