Lava Jato denuncia José Serra por lavagem de dinheiro, e
PF cumpre mandado de busca contra o ex-governador
A força-tarefa da Operação Lava Jato em São Paulo denunciou
o senador e ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) e
a filha dele, Verônica
Allende Serra, por lavagem de dinheiro. A Polícia Federal
fez buscas na casa em nome do tucano, em Alto de Pinheiros, Zona Oeste da
capital paulista, na manhã desta sexta-feira (3).
Segundo os investigadores, os agentes foram recebidos apenas
pela ex-mulher de Serra, Mônica. Na casa foram apreendidos pen-drives, HDs e
computadores. Serra
não estava no local por motivos de saúde, também segundo os
agentes.
José Serra, que tem 78 anos, foi eleito governador do estado
no pleito de 2006, tendo assumido e governado de 1º de janeiro de 2007 até
abril de 2010, quando renunciou para concorrer à Presidência (o tucano,
entretanto, não se elegeu). No pleito de 2018, o tucano foi eleito senador pelo
estado de São Paulo.
Em nota, Serra criticou a operação e disse que as buscas e
apreensões realizadas em sua residência foram "medidas
invasivas e agressivas".
Também em nota, a assessoria de Serra disse que a operação
"causa estranheza e indignação". "Serra reforça a licitude dos
seus atos e a integridade que sempre permeou sua vida pública. Ele mantém sua
confiança na Justiça brasileira, esperando que os fatos sejam esclarecidos e as
arbitrariedades cometidas devidamente apuradas".
Partido de Serra, o PSDB
disse confiar no senador e defende investigação dos fatos.
Os procuradores concluíram que houve lavagem de dinheiro
usando a técnica "follow the money" ("siga o dinheiro", em
tradução livre).
O senador não vai responder a crimes atribuídos a ele até
2010, como corrupção. Esses crimes já prescreveram, segundo a denúncia. Como
Serra tem mais de 70 anos, o tempo para os crimes prescreverem cai pela metade.
No entanto, o tucano responderá por supostos crimes
de lavagem de dinheiro que ocorreram após essa data, e que, segundo o MPF,
foram cometidos até 2014. Segundo a denúncia, a cadeia de transferência e
ocultação do dinheiro ocorreu de 2006 a setembro de 2014 e foi controlada pela
filha Verônica.
Em nota, a Odebrecht diz colaborar com a Justiça. “A
Odebrecht, hoje comprometida com atuação ética, íntegra e transparente,
colabora com a Justiça de forma permanente e eficaz para esclarecer fatos do
passado”.
Veja quem foi denunciado
- José
Serra: hoje senador, ex-governador de SP foi denunciado duas vezes por
lavagem de dinheiro
- Verônica
Allende Serra, filha de Serra, foi denunciada duas vezes por lavagem de
dinheiro
Como funcionou o esquema, segundo o MPF
No fim do ano eleitoral de 2006, conforme apontado na
denúncia, Serra solicitou ao executivo da Braskem, Pedro Novis, que
intermediava a relação com a Odebrecht e hoje é colaborador da Justiça, o
pagamento de R$ 4,5 milhões e pediu para receber o montante não no Brasil, mas
no exterior, por meio da offshore Circle Techincal Company, indicada pelo
empresário José Amaro Pinto Ramos, amigo do tucano por anos.
Segundo as investigações, Ramos é apontado como lobista
ligado ao PSDB e abriu na Suíça uma conta da offshore "Circle Technical
Company", controlada por Verônica Serra, filha do senador, que recebia
esses pagamentos indevidos.
De acordo com a denúncia do MPF, o já conhecido
"Departamento de Operações Estruturadas" da construtora Odebrecht
fez, entre 2006 e 2007, numerosas transferências para essa companhia por meio
de outras offshores ligadas à empreiteira no exterior.
A partir daí, a "Circle Technical Company"
distribuía os valores para as outras contas de empresas - entre elas a Dortmund
Internacional, no Panamá, criada por um cidadão uruguaio, mas com uma
procuração que dava à Verônica Serra poderes para gerir os valores.
O objetivo do esquema, segundo os procuradores federais, era
esconder tanto a origem quanto os verdadeiros beneficiários da propina paga
para que a Odebrecht fosse favorecida nas obras do trecho sul do Rodoanel de
São Paulo.
O MPF obteve autorização na Justiça Federal para o bloqueio
de cerca de R$ 40 milhões em uma conta na Suíça, ligado ao esquema. José
Amaro Pinto Ramos é citado como responsável pela operação das transferências,
mas não foi denunciado pelo MPF porque tem mais de 70 anos e os crimes
atribuídos a ele também prescreveram.
A construção do anel viário começou em 1998 e não terminou
até a presente data. Quando for finalizado, o rodoanel terá 176 quilômetro de
extensão e vai interligar 10 rodovias da Grande São Paulo.
Buscas contra empresário
Na operação desta sexta (3), a PF cumpriu oito mandados de
buscas e apreensão em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Em São Paulo, além do endereço de José Serra, a PF cumpriu
mandados de busca e apreensão um imóvel na Vila Nova Conceição, na Zona Sul da
cidade. No endereço, o alvo da operação era o empresário Ronaldo Cezar Coelho,
que foi também tesoureiro do PSDB. Ele não é citado na denúncia apresentada
pelo MPF.
À TV Globo, o advogado Jorge Salomão,
responsável pela defesa do empresário, disse que o escritório de advocacia dele
foi acionado por Coelho para acompanhar a busca e apreensão, mas que nada foi
levado pelos agentes da PF. “Nada foi apreendido. A investigação é sigilosa e
não temos detalhes do que vieram buscar”, disse.
Empresas ligadas ao empresário no Rio de Janeiro também
foram alvos. "Não sei qual é a relação e se há relação entre o senador
Serra e o meu cliente", disse o advogado.
A denúncia é uma das etapas das investigações. Após ela ser
apresentada, a Justiça decide se a aceita ou não. Posteriormente, se aceitar,
decide se condena ou absolve os réus.
'Follow the money'
Os procuradores chegaram à conclusão que houve lavagem de
dinheiro usando a técnica "follow the money" ("siga o
dinheiro", em tradução livre).
A denúncia encaminhada pela força-tarefa da Lava Jato em São
Paulo para a 6ª Vara Federal Criminal no estado contra Serra e Verônica diz que
os dois praticaram lavagem de dinheiro de obras do Rodoanel Sul no exterior de
2006 a 2014.
Esse dinheiro, segundo a denúncia, era proveniente de crimes
como:
- corrupção
passiva e ativa
- fraudes
à licitação
- cartel
O dinheiro vinha da construtora Odebrecht que manteve
contratos públicos com o governo de São Paulo.
A Odebrecht chegou a pagar R$ 4,5 milhões entre 2006 e 2007
para a campanha de Serra ao governo de São Paulo. Serra indicou que queria
receber esse montante no exterior, por meio da offshore de Pinto Ramos.
Depois, a Odebrecht pagou, entre 2009 e 2010, cerca de R$
23,3 milhões a Serra para a liberação de créditos com a Dersa, estatal paulista
extinta no ano passado.
A relação de Serra com a Odebrecht era intermediada pelo executivo
da Braskem e hoje colaborador da Justiça, Pedro Augusto Ribero Novis, vizinho
do senador em São Paulo. Por isso, Serra ganhou o codinome "vizinho"
nas planilhas da Odebrecht.
“Em razão dessa proximidade, cabia sempre a Pedro , em nome
da Odebrecht, receber de José Serra, em encontros realizados tanto em sua
residência quanto em seu escritório político, demandas de pagamentos, em troca
de ‘auxílios’ diversos à empreiteira, como os relativos a contratos de obras de
infraestrutura e a concessões de transporte e saneamento de seu interesse.”
A Odebrecht fazia os pagamentos de propinas por meio do
“Setor de Operações Estruturadas”.
O que diz Serra
Serra criticou, em nota à imprensa, a operação afirmando que
a busca e apreensão realizada em sua residência foram "medidas
invasivas e agressivas".
Leia a íntegra da nota:
"Causa estranheza e indignação a ação deflagrada
pela Força Tarefa da Lava Jato de São Paulo na manhã desta sexta-feira (3) em
endereços ligados ao senador José Serra. Em meio à pandemia da Covid-19, em uma
ação completamente desarrazoada, a operação realizou busca e apreensão com base
em fatos antigos e prescritos e após denúncia já feita, o que comprova falta de
urgência e de lastro probatório da acusação.
É lamentável que medidas invasivas e agressivas como a de
hoje sejam feitas sem o respeito à Lei e à decisão já tomada no caso pela Suprema
Corte, em movimento ilegal que busca constranger e expor um senador da
República.
O senador José Serra reforça a licitude dos seus atos e a
integridade que sempre permeou sua vida pública. Ele mantém sua confiança na
Justiça brasileira, esperando que os fatos sejam esclarecidos e as
arbitrariedades cometidas devidamente apuradas".
A assessoria de Serra também divulgou nota: Leia a íntegra:
"Causa estranheza e indignação a ação deflagrada
pela Força Tarefa da Lava Jato de São Paulo na manhã desta sexta-feira (3) em
endereços ligados ao senador José Serra. Em meio à pandemia da Covid-19, em uma
ação completamente desarrazoada, a operação realizou busca e apreensão com base
em fatos antigos e prescritos e após denúncia já feita, o que comprova falta de
urgência e de lastro probatório da Acusação.
É lamentável que medidas invasivas e agressivas como a de
hoje sejam feitas sem o respeito à Lei e à decisão já tomada no caso pela
Suprema Corte, em movimento ilegal que busca constranger e expor um senador da
República.
O Senador José Serra reforça a licitude dos seus atos e a
integridade que sempre permeou sua vida pública. Ele mantém sua confiança na
Justiça brasileira, esperando que os fatos sejam esclarecidos e as
arbitrariedades cometidas devidamente apuradas."
Em nota, o advogado Eduardo Carnelós, que defende o
empresário José Amaro Pinto Ramos, manifestou "indignação com a violência
de que ele foi vítima nesta data, ao ter seu lar submetido a uma devassa, em
cumprimento a uma decisão judicial, cujo teor, até às 18h, não é do
conhecimento de ninguém".
A defesa de Ramos diz que qualquer crime imputado a ele já
prescreveu.
"Os fatos atribuídos a José Amaro, homem que tem hoje 84 anos de idade, teriam ocorrido em 2006 e 2007, há pelo menos treze anos, portanto. Esse tempo é mais do que suficiente para levar à prescrição de qualquer crime que pudesse ser imputado a Ramos, tanto que ele não foi denunciado", afirmou Carrnelós.
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