As armas e os Barões assinalados/ Que da Ocidental praia
Lusitana/ Por mares nunca de antes navegados/ Passaram ainda além da Taprobana.
É brincadeira, gente. Não precisarei socorrer-me de Camões
nem de receitas de bolo —recursos utilizados pelos jornais durante a ditadura,
para indicar que estavam sob censura— ao lidar com a
intimidação que o governo
Bolsonaro tenta fazer contra mim em particular e contra a imprensa em
geral, que inventou um inquérito, com base na Lei
de Segurança Nacional (LSN), para me investigar por ter escrito
uma coluna em que afirmava torcer pela morte do capitão reformado.
Enquanto tiver um computador e espaço para
publicar, não vou deixar de dizer o que penso da atual administração, a
mais desastrosa e funesta da breve história da democracia brasileira.
Como acredito que ainda existam juízes em Berlim, São Paulo,
Brasília e outras localidades, a tentativa do ministro da Justiça, André
Mendonça, de calar-me dará com os burros n’água. Qualquer um que tenha
passado pelo ensino fundamental, onde se ensinam os rudimentos da interpretação
de texto, e por um curso introdutório de direito penal, onde se ensina o que é
e o que não é crime, pode ver que minha coluna original não continha calúnia
nem difamação contra Bolsonaro, o que possibilitaria o uso do artigo 26 da LSN.
Aliás, se o Brasil fosse um país mais sério, o exercício de
bajulação do ministro se voltaria contra suas pretensões de obter uma cadeira
no STF. É que a Carta exige dos candidatos a ministro da corte máxima o notório
saber jurídico e a reputação ilibada.
Se Mendonça viu crime onde existe mera opinião, não conhece
direito; se conhece e, mesmo assim, deu curso à truculência, não tem idoneidade
moral, o que depõe contra sua reputação. O raciocínio não vale só para o meu
caso. Aplica-se também à incrível história dos dossiês. Mas Mendonça não
precisa se preocupar. Estamos no Brasil.
Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando
Bem…".
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