O governo de Jair Bolsonaro atingiu o maior patamar de
aprovação desde sua posse, mostra pesquisa do Ibope recentemente divulgada. No
levantamento, 40% dos entrevistados disseram considerar o governo “ótimo” ou
“bom”, 11 pontos porcentuais acima do verificado em dezembro do ano passado –
antes, portanto, da pandemia de covid-19. A avaliação negativa caiu de 38% para
29% no mesmo período.
Bolsonaro obviamente não atingiu esse nível de aprovação em
razão do modo destrambelhado como está lidando com a pandemia. Sua gestão da
crise é um desastre em todos os aspectos – e os quase 140 mil mortos falam por
si. O mais provável é que, ao contrário, o presidente, ao isentar-se
sistematicamente de qualquer responsabilidade no que diz respeito à doença e a
seus efeitos sociais e econômicos, terceirizou a impopularidade, sentida muito
mais pelo Congresso e, principalmente, por governadores e prefeitos –
obrigados, estes sim, a enfrentar o desafio da pandemia, contando com escassa
ajuda federal e em muitos momentos sendo hostilizados pelo próprio presidente.
Pode-se especular que, para parte significativa dos
entrevistados, a covid-19 não passava mesmo de uma “gripezinha”, como a ela
jocosamente se referiu Bolsonaro, que a todo momento estimulou aglomerações e a
“volta à normalidade”, como se isso fosse possível. As imagens de praias
lotadas mesmo diante das evidências de que o pior ainda não passou são mais
eloquentes do que qualquer pesquisa.
Assim, o crescimento da popularidade de Bolsonaro, a
despeito de tudo, é uma espécie de elogio à irresponsabilidade, traduzida não
somente em sua infame campanha a favor do uso da cloroquina, espécie de elixir
bolsonarista, mas principalmente na conclusão do presidente segundo a qual quem
ficou em isolamento na pandemia é “fraco” e se “acovardou”.
Ao mesmo tempo, Bolsonaro segue colhendo os frutos
eleitorais do auxílio emergencial para os mais necessitados. Entre os
entrevistados com renda familiar de até um salário mínimo, a popularidade
presidencial saltou de 19% para 35% desde dezembro. Entre os que estudaram até
a 8.ª série, a aprovação de Bolsonaro passou de 25% para 44%. Nada semelhante a
isso se verificou nas faixas socioeconômicas intermediárias e superiores da
população.
O governo provavelmente vai explorar a pesquisa como prova
de que o presidente sempre esteve certo e o resto do mundo, errado. É preciso
deixar claro, contudo, que popularidade nem sempre é sinônimo de bom governo –
que o diga Dilma Rousseff, que na metade de seu primeiro mandato tinha
aprovação superior a 60% e que conseguiu se reeleger em 2014 a despeito de seu
desempenho calamitoso na Presidência.
Como mostra o caso de Dilma Rousseff, a propósito, nenhum
governo se sustenta somente com base na mistificação e na embromação. A popularidade
da presidente petista, que era de 63% em março de 2013, caiu para 31% em julho
daquele ano, em meio a grandes protestos, e estava em 10% um mês antes da
admissão de seu processo de impeachment pela Câmara, em abril de 2016.
Por enquanto, Bolsonaro se sustenta graças a uma combinação
de populismo barato com uma assombrosa capacidade de fingir que é presidente
sem exercer o cargo. Mais cedo ou mais tarde, contudo, a ausência de um plano
claro de governo, fruto da patente inaptidão de Bolsonaro para desempenhar a
função para a qual foi eleito, será percebida pela população.
Até lá, a única pesquisa de opinião que realmente importa, e
que projeta um futuro nada glorioso, é a que se dá entre investidores,
especialmente os estrangeiros. E a opinião destes parece clara: neste ano, até
agosto, US$ 15,2 bilhões deixaram o País, o maior montante no período desde
1982, quando o Banco Central começou a fazer esse levantamento.
A irresponsabilidade de Bolsonaro pode até lhe render algum
apoio entre os brasileiros incapazes, por diversas razões, de enxergar além de
seus estreitos horizontes pessoais. Já para aqueles que dependem de confiança e
racionalidade para investir, o presidente não engana mais ninguém.
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